A apuração das eleições parlamentares da Grécia segue na noite deste domingo (06/05), mas pesquisas de boca de urna apontam para um crescimento significativo da Coalizão de Esquerda Syriza na disputa. Segundo levantamentos feitos por seis institutos locais, a Syriza teria conquistado cerca de 15% dos votos, garantindo o segundo lugar no pleito.
Ainda de acordo com as pesquisas, os dois partidos que formavam o antigo governo de coalizão, ND (Nova Democracia) e Pasok (Movimento Socialista Pan-helênico), tiveram, juntos, cerca de 34% dos votos, garantindo o primeiro e o terceiro lugar, respectivamente. Esse cenário faz com que as siglas dependam de um terceiro partido para poderem criar um novo governo de coalizão.
Efe
Simpatizantes da Coalizão de Esquerda Syriza comemoram o resultado obtido nas eleições
A queda dos dois tradicionais partidos, que dominaram a política grega nas últimas décadas, permitiu o crescimento de outras legendas, até então consideradas pequenas. Um exemplo é o partido neonazista Amanhecer Dourado, que, pela primeira vez, conquistou cadeiras no Parlamento grego.
A sigla teve entre 5% e 8%, de acordo com os resultados preliminares, e seus membros não duvidam em expor suas ideias xenófobas e suas preferências pelo combate à imigração. “Invadiram nosso país e tiraram nossos trabalhos. Se conseguirmos o poder, deportaremos todos imediatamente e fecharemos de novo as fronteiras com minas, cercas elétricas e mais guardas”, declarou Ilias Panayotaros, porta-voz do partido, em recente entrevista à Agência Efe.
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ND e Pasok são os únicos partidos que defendem os pacotes de empréstimos feitos junto à Troika (formada por União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), responsáveis por medidas de austeridade que afetam os gregos e geram protestos entre a população.
A Syryza, no entanto, apelou que seja formado um “governo de esquerda” para que os acordos assinados entre a Grécia e as Troika possam ser denunciados. “Faremos tudo para que o país tenha um governo que denuncie o acordo que nos foi imposto”, afirmou Alexis Tsipras, líder da Coalizão.
Logo após o fim da votação, a ND já passou a sinalizar com a formação de um governo de coalizão que voltaria a envolver o Pasok. Segundo fontes do partido, citadas pela imprensa local, o líder da ND, Antonis Samaras, descartou a convocação de novas eleições e afirmou que irá entrar em contato com outros partidos para que um novo governo seja formado.
De acordo com a agência estatal AMNA, que também cita fontes sigilosas, os dirigentes do partido estariam trabalhando em uma proposta que seria enviada aos demais partidos que tiveram representação parlamentar garantida através da eleição.
Por sua vez, o Pasok também rejeitou a convocação de novas eleições. Em declarações à imprensa local, dirigentes do partido afirmaram estar dispostos a criar um novo governo de coalizão.
Futuro incerto
A disputa deste domingo elege 300 deputados para o Parlamento do país e é o primeiro pleito realizado após o início da crise econômica que a Grécia enfrenta desde o final de 2009. A falta de maioria absoluta para qualquer um dos partidos, assim como as dificuldades aparentes na formação de uma nova coalizão, colocam em dúvida a continuidade das medidas de austeridade que têm afetado a população.
Nos últimos meses, as negociações de empréstimo financeiro só puderam ser concluídas depois que o governo grego aceitou as rigorosas condições impostas pela Troika, que incluíam cortes nas pensões e aumento nos custos de serviços estatais básicos, como transporte, saúde e educação. Além disso, também determinava a demissão de milhares de funcionários públicos.
Exigiu-se ainda que o custo do trabalho fosse reduzido em mais de 15% até 2014 e que o setor público sofresse cortes de 11,5 bilhões de euros. O desemprego no país chegou a um nível recorde e atingiu 21,8% da população no último mês de janeiro.
A situação fez com que a Grécia chegasse a um cenário onde um em cada três gregos vive abaixo do limite da pobreza. Além disso, o número de pessoas que não tem sequer onde morar já passa dos 20 mil, algo impensável para o país há poucos anos atrás. O cenário gerou revoltas da população que não aceita pagar o preço imposto pela restante da comunidade europeia. Durante as eleições, muitos candidatos defenderam a saída do país da Zona do Euro e o não pagamento das dívidas consideradas abusivas.