No dia 7 de dezembro de 1975, às 2h da madrugada, a Indonésia invade o Timor-Leste, uma ex-colônia portuguesa recém-independente, localizada em uma ilha no sudeste do Pacífico. Barcos da marinha indonésia bombardeiam a capital, Díli, e aviões lançam paraquedistas. Os soldados indonésios tomam conta da capital e começam a matar em massa os habitantes, além de cometer estupros e pilhagens. Estima-se que mais de 200 mil timorenses foram mortos na invasão.
Portugal colonizara o Timor-Leste desde 1520 e vinha mantendo sua presença no território, sem nunca ter intenção de resistir a uma possível invasão pela Indonésia, que cercava a colônia e governava a metade oriental da ilha. A decisão foi transmitida em março de 1975 ao governo dos Estados Unidos e acabou sendo revelada pela inteligência norte-americana, que liberou 39 documentos históricos sobre os contatos diplomáticos entre EUA, Portugal, Timor-Leste e Indonésia.
Segundo Washington, Portugal teria ignorado a análise militar norte-americana, que concluiu ser possível “encurralar” os indonésios em Díli com o “mínimo de preparativos (…) sem gastar muito sangue nem munições”.
Em março de 1975, um memorando “ultra-secreto” endereçado ao então conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Henry Kissinger, dava conta dos receios da Indonésia sobre “uma retirada apressada dos portugueses”, o que poderia deixar Timor-Leste “sujeito aos instintos esquerdistas de alguns líderes (…) influenciados por Pequim”. O documento alertava ainda para o fato de o presidente Suharto ter dado ordens para que a “incorporação” do Timor-Leste fosse realizada até agosto de 1975, “pela força se necessário”. O governo português informou à Casa Branca que não iria resistir ao “uso da força por parte da Indonésia”, sem adiantar pormenores.
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Protesto contra a ocupação do Timor-Leste pela Indonésia, em 1999 na Austrália
Por outro lado, os arquivos revelam que, em novembro do mesmo ano, José Ramos Horta, líder da Fretilin (Frente Timorense de Libertação Nacional) contatou desesperadamente a embaixada norte-americana na Austrália, apelando por uma “ajuda política e econômica ” e alertando para uma invasão iminente pela Indonésia.
Segundo o relatório confidencial do Departamento de Estado, Ramos Horta foi recebido por um funcionário da embaixada que “ouviu a sua exposição sem fazer comentários”. Otro documento, contudo, datado de agosto, relata o encontro entre o embaixador dos EUA em Jacarta e o tenente-general Yoga Sugomo, do serviço secreto indonésio. Na reunião, o diplomata esclareceu que os EUA não tinham qualquer “objeção à fusão do Timor Português com a Indonésia, assumindo que esse é o desejo da população”.
O primeiro-ministro de Portugal Vasco Gonçalves, guindado ao poder pela Revolução dos Cravos, de abril de 1974, comentou que seu país ” estava saindo de uma ditadura e era também vítima dos acontecimentos, tal como Timor-Leste, e que tudo devia ser feito para facilitar a integração com a Indonésia, garantindo-se a independência”.
O genocídio indonésio no Timor-Leste deixa o país em grave penúria e milhares de timorenses morrem de fome e doenças. Além disso, a invasão da Indonésia não recebe a mínima atenção global. Só nos anos 1990, os abusos aos direitos humanos por parte da Indonésia passam a ter atenção de países estrangeiros. Em 1996, dois ativistas timorenses, o bispo Carlos Filipe Ximenes Belo e José Ramos Horta, recebem o Prêmio Nobel da Paz pelos esforços de conquistar a liberdade sem utilizar meios violentos.
Em 1998, Suharto anuncia a realização de um referendo sobre a independência do Timor-Leste. Entre o anúncio e a realização, paramilitares indonésios e a guerrilha timorense enfrentam-se. As forças indonésias impõem uma matança selvagem contra o povo timorense. Em 1999, a maioria da população do Timor-Leste vota pela independência. O Timor-Leste torna-se um país de fato à meia-noite do dia 19 de maio de 2002. Uma pressão internacional determina a presença dos “capacetes azuis” da ONU no país, garantindo o cessar-fogo e a subsequente paz no território.
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