Vinte anos depois de a Marvel Comics causar surpresa nos leitores ao revelar que um de seus super-heróis, o canadense Estrela Polar (da Tropa Alfa e posteriormente dos X-Men) era homossexual, a editora norte-americana volta a quebrar tabus e anuncia o casamento do personagem com Kyle, seu namorado de longa data – que não tem superpoderes. Trata-se do primeiro casamento gay envolvendo um super-herói da editora.
O evento está na capa do nº 51 da revista “Astonishing X-Men” (Os Fabulosos X-Men, que sai no Brasil pela editora Panini), uma das mais tradicionais da editora (capa alternativa ao lado), e chegará às bancas dos EUA no próximo dia 20. A história é escrita por Marjorie Liu e ilustrada por Mike Perkins.
E ainda oferece uma versão com uma capa alternativa onde se destaca um espaço em branco para que o leitor coloque uma foto de sua própria cerimônia, ao lado de um álbum de fotos com grandes casamentos dos heróis da editora (muitos deles, é verdade, já acabaram).
Chama também a atenção que o casal é alvo de triplo preconceito. Afinal, além de serem discriminados por serem gays, Estrela Polar (cujo nome civil é Jean-Paul Beaubier) e Kyle também sofrem preconceito por serem, respectivamente, mutante e negro.
“Quando o casamento gay se tornou legal no Estado de Nova York, e a maioria de nossos super-heróis reside aqui, obviamente uma série de questões foi levantada. Estrela Polar é o primeiro personagem abertamente gay nos quadrinhos (mainstream) e tem uma relação antiga com seu namorado Kyle. Portanto, a pergunta que surgiu foi: como isso iria transformar a relação deles?”, afirmou Axel Alonso, editor-chefe da Marvel em entrevista à revista Rolling Stone.
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Capa principal de Astonishing X-Men #51: um convidado importante faltou
“Nossas revistas são sempre as melhores para responder e refletir os avanços do mundo real. Temos feito isso há décadas, e esta (história) é apenas a última demonstração disso”, afirma Alonso.
A roteirista Marjorie Liu ressalta que o importante da publicação é que não se trata de uma revista em quadrinhos, mas principalmente de uma mensagem: “Você pode fazer o mesmo”.
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Liu avisa que o casal enfrentará problemas no futuro, sejam as típicas preocupações de casais em que um dos cônjuges exerce uma profissão de alto risco (soldado, policial ou, no caso, super-herói), passando pelos perigos de viver ao lado de uma pessoa com super-poderes “em um dia ruim” até mesmo enfrentando a homofobia entre os próprios super-heróis.
“Essa história começa em um casamento, mas não termina nele”, afirma Liu. Alguns heróis irão à cerimônia de coração aberto, outros recusarão o convite, enquanto alguns nem chegam a considerar a validade do matrimônio. “Ao menos um dos companheiros de equipe de Estrela Polar vai se recusar a comparecer,o que dará uma interessante dinâmica à história”, revela a roteirista.
Este não é, no entanto, o primeiro casamento gay em uma editora mainstream envolvendo personagens no estilo super-herói. E, no caso, os dois noivos eram super-heróis: Apollo e Meia-Noite, que atuam pelo controverso grupo The Autority, criados por Warren Ellis e Bryan Hitch, também se casaram em uma edição especial. Os dois pertencem à Wildstorm, editora criada pelo desenhista Jim Lee e hoje um selo alternativo da DC Comics. A própria DC tem uma série de super-heróis gays em seus super grupos, mas que não chegaram ainda a conceber matrimônio.
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O casamento entre Apollo e Midnighter, do controverso grupo de super-heróis Authority
A Marvel, por sua vez, deu muito destaque nos últimos anos para Daken, filho de Wolverine, que é bissexual. Em um universo alternativo, o “Ultimate”, Estrela Polar tinha um relacionamento com um X-Men ainda mais popular, o russo Colossus (que é hetero no universo principal – a Terra 616).
Uma curiosidade: o inglês Warren Ellis nunca escondeu que os dois eram uma versão alternativa de Superman e Batman. Os dois inclusive adotaram a filha de Jenny Sparks, ex-líder do grupo e morta durante uma aventura.