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A Televisa, maior rede de televisão do México, é acusada de ter recebido dinheiro público em troca de uma cobertura ampla e favorável ao candidato à Presidência Enrique Peña Nieto, do PRI (Partido Revolucionário Institucional) em seus programas jornalísticos e de entretenimento, enquanto este era governador do Estado do México e já preparava sua atual estratégia eleitoral.
Além disso, a rede de TV é acusada de ter promovido, na eleição presidencial passada, em 2006, uma campanha com o objetivo de prejudicar a imagem de Andrés Manuel Lopez Obrador, do PRD (Partido da Revolução Democrática), principal rival de Peña Nieto e derrotado na ocasião por apenas 0,68% dos votos a menos do que Felipe Calderón.
Agência Efe
O candidato do PRI, Enrique Peña Nieto, lidera as pesquisas de opinião para a Presidência do México
A informaçãodiz é do jornal britânico The Guardian, que afirmou ter recebido cópias de uma série de documentos de um funcionário da própria Televisa. E que, embora não tenha como confirmar a autenticidade do papéis, realizou extensas verificações cruzadas entre os nomes, as ações de mídia e situações mencionadas se alinham com o conteúdo obtido.
A Televisa afirma, em comunicado, que os documentos são falsos, “pouco profissionais e sem rigor jornalístico”. Para ela, o Guardian deveria se desculpar publicamente. Por sua vez, Peña Nieto desqualificou o jornal, dizendo que as provas carecem de autenticidade. “Trata-se de uma repetição da mesma informação que o PRD anunciou no primeiro debate” e que todas as suas ações de propaganda enquanto governador foram “transparentes” e “seguiram a lei”.
A eleição presidencial mexicana será disputada em turno único, no dia 1º de julho, e o próximo chefe de Estado governará o país por seis anos, sem direito à reeleição. Peña Nieto lidera as pesquisas, mas Obrador tem ganho terreno a cada semana, em parte impulsionado pelo movimento popular #Yo Soy 132, que critica a relação do candidato do PRI com a mídia, especialmente a Televisa.
O conteúdo
Os documentos, que consistem em uma série de arquivos de computador, incluem um esboço das taxas cobradas, aparentemente para enaltecer a atuação de Peña Nieto quando este foi governador do Estado do México.
Além disso, os documentos também mostram o envolvimento do ex-presidente Vicente Fox (2000-2006), do PAN (Partido da Ação Nacional), que embora seja do PAN, declarou apoio a Peña Nieto nesta semana, em detrimento à candidata de seu partido, Josefina Vásquez Mota. Segundo o Guardian, Fox teria chegado a um acordo com a Televisa e a TV Azteca, as duas principais redes de TV do país, para impedir que Obrador chegasse à Presidência em 2006, quando perdeu por muito pouco para Felipe Calderón, também do PAN. Até hoje, Obrador e seus seguidores acusam a eleição de ter sido fraudulenta.
Agência Efe
Andrés Manuel Lopez Obrador teria sido prejudicado pela imprensa na corrida presidencial de 2006, segundo o Guardian
A estratégia de como derrotá-lo na ocasião estava detalhadamente explicada em um PowerPoint, na véspera do dia 4 de abril de 2005, quando Fox teria se encontrado com os representantes dos dois grupos de mídia. Fox se encontrava estava em uma virulenta disputa política contra Obrador, então prefeito da Cidade do México. Para esse acordo, Fox teria repassado às TVs recursos públicos, destinados à propaganda oficial das ações da Presidência.
Entre as ações de mídia, a Radar sugeriu que Fox declarasse luto nacional em razão da morte do papa João Paulo II (morto em 2 de abril de 2005), o que ele fez, para apaziguar o clima de confronto político. Também propôs que as TVs realizassem matérias sobre a criminalidade na capital, envolvendo casos envolvendo celebridades locais, além de relembrarem casos de corrupção envolvendo ex-aliados de Obrador – o que também aconteceu. Outra recomendação contida no documento orientava que, no programa humorístico El Privilégio de Mandar, o personagem que representava o candidato do PRD parecesse “desajeitado” e “despreparado”.
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Um ex-funcionário da Televisa, que o Guardian afirma não ser a mesma fonte dos documentos, afirma que participou de encontros onde a estratégia anti-Obrador foi amplamente discutida. “Essa estratégia existiu, assim como existiu um cliente que pagou muito dinheiro”.
Essa mesma fonte afirmou que a Televisa estava contente em patrocinar atualmente a campanha de Peña Nieto, por considerá-lo “o melhor produto”, embora isso não significasse um pacto de lealdade a longo termo. Ele lembrou também que as relações entre a TV e Obrador estavam normalizadas antes do início da atual campanha. “Nunca se esqueça de que estamos falando de negócios. A lealdade é com o cargo [de presidente], nunca com a pessoa”.
Fox e outros políticos citados no documento se recusaram a falar com o Guardian.
Ex-amante
Os documentos, segundo o Guardian, tem grande possibilidade de serem originários da agência de propaganda Radar Servicios Especializados, dirigida por Alejandro Quintero, um dos vice-presidentes da Televisa. Isso porque eles foram salvos no nome de Yessica de Lamadrid, na época funcionária da Radar e amante de Peña Nieto, quando este era casado com sua primeira esposa, já falecida – o candidato e Lamadrid chegaram a ter um filho, que morreu de câncer aos dois anos. Ela trabalhou na campanha de Peña Nieto para governador em 2005.
Perguntada pelo Guardian, Lamadrid disse acreditar que os documentos são falsos, pois as ações de mídia citadas pelo jornal nunca existiram.