Takumi Sakamoto/divulgação
Parte do gado que permaneceu em Fukushima morreu de fome ou sofreu com as consequências da radiação
Ao contrariar uma ordem do governo japonês que proíbe a entrada de qualquer civil sem autorização na zona de evacuação próxima à usina nuclear de Fukushima Daichii, o fotojornalista Takumi Sakamoto expôs os rastros de destruição causados pelo vazamento radioativo no meio ambiente local.
O resultado de seu trabalho mostra que todo o perímetro evacuado, em um raio de vinte quilômetros da usina, é hoje uma área morta. O cenário de devastação e silêncio lembra muito a cidade ucraniana de Chernobyl. Parte do gado que lá fico acabou vítimas dos altos índices de radiação ou morrendo de fome. Alguns animais sofreram abate sanitário por parte de agentes sanitários do governo que entravam na área especialmente para cumprir essa missão. Depois de mortos, esses animais eram aterrados. Já as plantações foram queimadas ou naturalmente substituídas por ervas daninhas.
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Nessas terras, segundo Sakamoto, havia uma plantação de arroz há 300 anos. Eles rapidamente são substituídos por outras plantas e ervas daninhas
Sakamoto participou nesta sexta-feira (15/06) de uma palestra sobre atividades nucleares durante a Cúpula dos Povos, no Rio de Janeiro, evento paralelo à Rio+20. A série de debates “Por um Brasil livre de usinas nucleares” também contou a história de agricultores da Fukushima e da jovem Takako Shishido, ex-moradora da região que sofre preconceito de seus antigos colegas por não conseguir mais voltar a viver no local.
Segundo as autoridades japonesas, a área deverá continuar inabitada por pelo menos duas décadas. O colapso da usina, afetada por um terremoto seguido de tsunami nos dia 11 de março de 2011 foi considerado o mais grave da história após o acidente de Chernobyl, na então União Soviética, em 1986.
Takumi Sakamoto/divulgação
Um dos criadouros visitados por Sakamoto
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As imagens foram tiradas entre os meses de maio de 2011 até abril deste ano. Sakamoto afirma que o governo japonês tem procurado eliminar os rastros de destruição causados pelos resíduos nucleares espalhados no ar e na água. Para ele, trata-se de uma tentativa do governo de minimizar o impacto da destruição perante a opinião pública. O objetivo final dessa estratégia seria a voltar a utilizar gradativamente grande parte das 54 usinas nucleares espalhadas pelo país – o que já começou a ocorrer no início do mês com a usina de Oi.
O fotojornalista lamenta que, quinze meses após o acidente, o impacto causado pela tragédia esteja se apagando na memória da população, muito em conta da ação do governo.
Outra foto impressionante mostra um cemitério próximo do litoral destruído pelo tsunami. As famílias proprietárias dos túmulos não têm permissão para entrar no local para reconstruir as lápides nem zelar por seus entes.
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Cemitério em Fukushima destruído pelo terremoto seguido de tsunami. Com o colapso da usina, famílias não puderam mais velar por seus mortos
Em outra imagem comparou duas fotos tiradas em um criadouro antes e depois da limpeza das autoridades japonesas. “Muitos de vocês já viram imagens do campo de concentração nazista de Auschwitz, na Polônia. É claro, lá se tratavam de pessoas e aqui são animais, mas existe uma correspondência”, afirma o fotógrafo, fazendo referência à tentativa alemã de destruir o campo e desfazer os rastros quando percebeu a derrota iminente.
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O criadouro fotografado antes …
Takumi Sakamoto/divulgação
…e depois da passagem das autoridades sanitárias japonesas.