Horas após o Senado paraguaio aprovar nesta sexta-feira (22/06) o afastamento do presidente constitucional do país, Fernando Lugo, por 39 votos a quatro, o líder venezuelano Hugo Chávez condenou o impeachment e o classificou como uma “farsa”. Chávez falou pouco antes de receber o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, no Palácio de Miraflores, em Caracas.
“O governo venezuelano não reconhece esse ilegal e ilegítimo governo que se instalou em Assunção. Foi um golpe da burguesia paraguaia, que freia não só o processo de mudança no Paraguai, mas também divide os governos, os povos das nações sul-americanas”, afirmou o presidente venezuelano.
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Chávez disse que conversou com os presidentes dos países do Mercosul, Dilma Rousseff (Brasil), Cristina Kirchner (Argentina) e José “Pepe” Mujica (Uruguai) e o agora ex-presidente Fernando Lugo antes da votação do impeachment. “Fizemos o possível, respeitando a soberania paraguaia. Lugo, com coragem e dignidade, preferiu o sacrifício. Não permitiram que se defendesse”, lamentou o líder venezuelano.
Chávez disse que o ocorrido hoje no Paraguai deve servir como uma “lição” para a América Latina. “Já começou a repressão”, sublinhou. Ele contou que os acontecimentos no Paraguai o lembraram da tentativa de golpe sofrida em abril de 2002: “Vendo as cenas me lembrei de quando estava na prisão e via na televisão a burguesia gritando ‘democracia!’. Foi igual em Assunção.”
O golpe em Honduras também foi recordado pelo presidente. “Mais uma vez a Unasul [União das Nações Sul-Americanas] foi golpeada, como no golpe contra Zelaya. Não foi somente contra ele, ou Honduras, mas contra a Unasul”.
Golpe
Lugo, acusado “de mau desempenho de suas funções, negligência e irresponsabilidade” após a morte de 11 trabalhadores sem-terra e de 6 policiais em um confronto armado na sexta-feira passada, durante a desocupação de uma fazenda, foi destituído ao final de um processo parlamentar sumário, que durou pouco mais de 24 horas.
O presidente eleito chegou a chamar a manobra de “golpe express”. “Estou disposto a responder com meus atos”, disse Lugo, ao fazer o pronunciamento em cadeia nacional, após a decisão dos parlamentares. Para ele, a democracia paraguaia foi desrespeitada. “Que os executores [do impeachment] saibam da gravidade de seus atos”.
Aparentando calma, Lugo criticou seus opositores, que lideraram o processo de impeachment. “Não respondo a classes políticas, ao narcotráfico, ao crime organizado. Esse cidadão [Lugo] responderá e seguirá respondendo aos chamados dos compatriotas, dos excluídos”, disse.