No dia 30 de junho de 2009, morre na cidade de Wuppertal a dançarina e diretora de balé alemã Philippine Bausch, mais conhecida como Pina Bausch.
Ela revolucionou o mundo da dança. Os dançarinos em cena não dançam. Correm, gritam e riem. Alguém derrama água e joga terra no chão do palco. Piruetas velozes e pernas esticadas para o alto são coisas inexistentes numa encenação dessas. Mas seres humanos – pessoas vivas com medos, amores, tristezas e fúrias.
“O que me interessa não é como as pessoas se movem, mas sim o que as move”, resumia Pina Bausch a propósito de seu trabalho.
Rompeu radicalmente com o balé clássico e se voltou contra a tradição da Modern Dance. Virou o mundo da dança de pernas para o ar em seus 40 anos de trabalho. Teatro-dança era como se denominava o que ela fazia. Para Bausch, no entanto, era uma “abordagem psicológica individual”.
Sua carreira começou com aulas de balé. Nascida em 1940, em Solingen, filha de um dono de restaurante, Bausch gostava de passar seu tempo debaixo da mesa. Costumava passar horas a fio no restaurante dos pais observando os fregueses.
Desde cedo se entusiasmou pela dança. As primeiras apresentações lúdicas com o balé infantil ocorreram em Wuppertal e Essen. Com 15 anos, iniciou sua formação na Folkwangschule de Essen, fundada pelo célebre coreógrafo Kurt Joos.
Em Joos, encontrou ao mesmo tempo um “legendário renovador da dança expressiva” e uma pessoa de confiança. Além disso, especialmente inspiradora era a atmosfera criativa da escola, que até hoje une, sob o mesmo teto, todas as artes: teatro, música, dança, gravura e pintura. Em seus trabalhos tardios, viria a combinar elementos de dança, música, linguagem e teatro.
Concluiu o curso de Dança e Pedagogia em Dança no ano de 1958. Viajou imediatamente depois aos Estados Unidos, após ter recebido uma bolsa de estudos da Folkwang. “Não me senti nem um pouco sozinha em Nova York”, conta ela. Estudou com Antony Tudor e José Limón, dançou na Juilliard School of Music e na Metropolitan Opera.
A pedido de Joos, retornou à Alemanha em 1962. Começou a dançar como solista no recém-fundado balé da Folkwang, apresentando-se em Amsterdã, Hamburgo, Londres e no Festival de Salzburgo.
Bausch avançou rapidamente de suas primeiras encenações bem-sucedidas de teatro-dança até o posto de coreógrafa e diretora do corpo de baile de Wuppertal. Após ter recebido o primeiro prêmio num concurso de coreografia de Colônia, assumiu a direção do estúdio de dança da Folkwang. Bausch tinha 33 anos quando foi contratada para dirigir o Balé do Teatro de Wuppertal, em 1973.
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Pina Bausch, dançarina e diretora de balé alemã que revolucionou o mundo da dança
A ousadia de vanguarda da jovem coreógrafa chocou inicialmente grande parte do público. O que ocorria no palco muitas vezes não era aquilo que constava do programa impresso. O público expressava sua indignação vaiando ou retirando-se do recinto, sem esquecer de bater a porta.
A ruptura de tradições foi uma tarefa árdua, sobretudo num teatro subvencionado pelo Estado. Mas Bausch não se deixou dissuadir de sua concepção de dança. Sua versão para Ifigênia em Táuris, de 1974, foi recebida pela crítica como um dos acontecimentos mais importantes da temporada de dança.
Com montagem baseada em Brecht e Weill, rompeu definitivamente com todas as formas tradicionais do teatro-dança em 1976. Voltou-se para uma dança cênica obstinada e contundente, diretamente ligada ao teatro falado. Colagens de música popular, clássica, free jazz e enredos fragmentários culminaram numa nova forma de encenação, caracterizada por ações paralelas, contraposições estéticas e uma linguagem corporal incomum para a época.
Sua companhia se tornou a principal representante da dança da Alemanha Ocidental no exterior. Bausch começou a acumular prêmios de todas as espécies, como o Prêmio Europeu de Teatro, o Praemium Imperiale japonês, a Cruz de Mérito do governo alemão, a condecoração da Legião de Honra.
Nos palcos internacionais, a companhia de Bausch já se apresentou em co-produções com universidades de dança dos Estados Unidos, do Hong Kong Arts Festival, da Expo 1998 em Portugal, do Theatre de la Ville de Paris e muitos outros.
“Cada peça é diferente, mas profundamente ligada a mim”, dizia a respeito de suas concepções artísticas. Seu trabalho combina tristeza e desespero somado “à expressão calorosa do amor à vida”. “Os temas permanecem os mesmos; o que muda são as cores”, explicava a coreógrafa. Ao narrá-los, mantinha-se fiel a determinados princípios: ações simultâneas, marcação das diagonais do palco, repetições propositais e suspense dramático por meio de contraposições e progressões.
Os fãs de Pina Bausch, espalhados pelo mundo, costumam se reunir em Wuppertal, local de peregrinação do teatro-dança.
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(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.