Em 15 de dezembro de 1890, o chefe indígena norte-americano Touro Sentado é morto em combate com a polícia dos Estados Unidos. Junto com o filho, Pé de Corvo, o líder da nação sioux resiste à prisão na na reserva de Standing Rock, no Dakota do Sul, e ambos são mortos. Seus corpos são enterrados no Dakota do Norte, mas em 1954 os restos são removidos para o Dakota do Sul.
Um dos mais famosos líderes nativos dos EUA do século XIX, Touro Sentado (nascido Tatanka Iyotake) era um feroz inimigo dos anglo-americanos desde jovem. Profundamente devotado às tradições de seu povo, acreditava que o contato com os não-índios minava as energias e a identidade dos sioux, o que os levaria a uma decadência inevitável.
De 1850 até a morte, Touro Sentado simboliza a resistência contra os “caras-pálidas” que buscavam ouro em suas terras. Os sucessivos conflitos entre os colonizadores e as nações autóctones tinham como causa os recursos naturais, a posse da terra e o próprio estilo de vida.
Touro Sentado liderou a resistência sioux contra a incursão dos brancos nas terras indígenas, que frequentemente terminava em guerra. A mais famosa das batalhas aconteceu em Little Big Horn, em 25 de junho de 1876. O combate terminou com a aniquilação das cinco divisões da 7ª Cavalaria do general Custer pelos sioux e pelos cheyennes.
Mais tarde, Touro Sentado deixa os EUA e vai para Cypress Hills em Saskatchewan, no Canadá. Para os sioux, prega que ambos os lados da fronteira americano-canadense são tradicionais áreas de caça. Além do mais, os sioux tinham sido leais aos britânicos durante as batalhas norte-americanas da Guerra dos Sete Anos e sua lealdade persistiu até a guerra de 1812.
Como prova, Touro Sentado exibia uma série de medalhas que o rei Jorge III havia concedido ao seu avô pelo apoio contra os rebeldes na Guerra de Independência norte-americana. No Canadá, achava que tinha o direito natural de viver sob a proteção do governo, na época submetido a Londres.
Mas o governo de John Macdonalds recusa-se a dar a Touro Sentado terra, alimento e apoio. Ele via os Sioux como norte-americanos que cruzaram a fronteira internacional ilegalmente e deveriam ser persuadidos a abandoná-la, assim como outras tribos (blackfoot, cree e assiniboine), acusando-os de roubar búfalos e esgotar as reservas da caça.
Numa reunião em 17 de outubro de 1877 no Fort Walsh, no Canadá, protegida pela Polícia Montada canadense, o general Terry entrega a Touro Sentado uma mensagem do presidente dos EUA, Rutheford Hayes. Segundo o militar, deseja uma paz duradoura e está disposto a conceder amplo perdão se os sioux entregarem as armas e cavalos e se mudarem para uma área reservada para eles.
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Líder indígena e seu filho, Pé de Corvo, são assassinados pela polícia dos Estados Unidos ao resistir a prisão, em Dakota do Sul
Touro Sentado retruca: “Durante 64 anos, vocês trataram muito mal o meu povo. O que nós fizemos para ter de abandonar nossa terra? Poderíamos ter ficado, mas fomos obrigados a buscar refúgio aqui. Nós não doamos nossas terras: vocês as tomaram de nós. Veja como estou vivendo com o meu povo, olhem para esses meus olhos e ouvidos. Vocês pensam que sou bobo, mas vocês são mais bobos que eu. Chegam aqui para nos contar histórias e nós não queremos ouvi-las. Não desejo falar mais nada. Quero dar apenas um aperto de mão e nada mais. Esta parte do país de onde viemos nos pertencia, agora estamos tendo de viver aqui”.
Dois anos mais tarde, em 1879, um desastre se abate sobre os sioux: não restavam mais búfalos na região. Sem o fornecimento de carne pelo governo canadense, a tribo começa a passar fome e paulatinamente voltam a atravessar a fronteira, de retorno aos EUA, aceitando a lei norte-americana e passando a viver na área que lhes havia sido reservada, perto do Forte Buford.
Em 19 de julho de 1881 os sioux são cercados. Restavam apenas 187 índios quando Touro Sentado entrega seu rifle ao filho, dizendo que deveria aprender a lidar com os brancos. Levados de navio, são finalmente deixados na reserva Standing Rock.
Em 15 de dezembro de 1890, a polícia indígena resolve prender Touro Sentado. Pré de Corvo vem em socorro. Um grupo de sioux junta-se para impedir que o levem. A polícia indígena desperta o chefe nu, na cama, às 6 horas da manhã, esperando levá-lo antes que seus vizinhos quisessem saber o que estava acontecendo.
Quando o chefe, então com 59 anos, resolve resistir à prisão, os demais indígenas passam a ameaçar a polícia. Alguém atira, ferindo um dos policiais. A polícia revida alvejando o peito e a cabeça de Touro Sentado. O grande chefe cai ao chão, morrendo na hora. Antes de o tiroteio terminar, 12 outros índios morrem e três ficam feridos.
O homem que resistiu valentemente durante três décadas à invasão dos brancos de suas terras e cultura foi enterrado num dos cantos do cemitério de Fort Yates. Duas semanas depois, o exército suprime brutalmente o movimento “Dança Fantasma” como o massacre de uma banda musical dos sioux em Wounded Knee, o ato final de uma longa e trágica história da guerra que os brancos americanos travaram contra os indígenas, verdadeiros donos daquelas terras.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.