Nos dias 12, 19, 26 de agosto e 2 de setembro, Opera Mundi faz um passeio histórico pela Áustria, Hungria e Croácia. Neste domingo, o passado da cosmopolita Budapeste.
Após seis horas de viagem pelo rio Danúbio de Viena rumo à Europa do Leste, desembarcamos em Budapeste, a capital da Hungria. A travessia só pode ser realizada entre março e outubro. A chegada magistral à capital húngara revela séculos de história e imponentes construções imperiais que sobreviveram ao período socialista.
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De um lado, Buda, o coração medieval da cidade, do outro, Pest (pronuncia-se ‘pesht’), o centro comercial e efervescente. O rio Danúbio, aqui conhecido como Duna, corta a cidade em dois.
Fabíola Ortiz/Opera Mundi
Chegada à capital da Hungria, Budapeste, pelo rio Danúbio. O passeio de barco só pode ser feito entre março e outubro
Budapeste é hoje uma cidade cosmopolita. Durante 150 anos foi ocupada pelos turcos no século XVI, sendo antes lar dos romanos. No século XVII, a região foi tomada pelo império dos Habsburgos. A sua história contemporânea foi marcada por muitas perdas. Ao fim da Primeira Guerra Mundial, a Hungria perdeu mais de dois terços de seu território. O país se aliou aos nazistas da Alemanha, nos anos 30, na expectativa de retomar suas áreas perdidas. Mesmo assim, o país foi invadido pelos alemães em 1944 e ao, fim da Segunda Guerra, tornou-se parte da União Soviética.
Budapeste é uma cidade a ser descoberta. Uma sociedade que experimentou o fascismo, o socialismo e agora o capitalismo, três ‘ismos’ em sua história contemporânea tenta se reencontrar num mundo multilateral e globalizado. Judeus caminham nas calçadas lado a lado de muçulmanos, cristãos, asiáticos, indianos e ateus.
Há duas décadas o país abriu as portas para o apelo do mundo do consumo e integra o bloco da União Europeia desde 2004. Contudo, o euro ainda não é a moeda adotada. A Hungria persiste com o Forinte (HUF) muito desvalorizada frente ao euro, correspondendo a cerca de 300 Forints.
Nagy Zsinagóga
A Hungria viveu um período negro de sua história, quando ingressou na Segunda Guerra ao lado dos alemães sob o signo da suástica e da ideologia de eliminar judeus, ciganos, homossexuais, entre outros grupos.
Fabíola Ortiz/Opera Mundi
Em Budapeste existe a maior sinagoga da Europa e a segunda maior do mundo. Localizada na área residencial Erzsébetváros, a Nagy Zsinagóga (FOTO À ESQUERDA) localizada na Dohány utcai zsinagóga (rua da sinagoga em húngaro) foi construída entre os anos de 1854 e 1859 segue um mix de ornamentação com estilo mouro, referências bizantinas, românticas e elementos góticos.
Imponente e luxuosa, a Dohany Zsinagóga foi palco de uma tragédia no período nazista de perseguição aos judeus. No início de 1945, 2.281 judeus foram encarcerados no pátio de sua própria sinagoga e lá padeceram até a morte sem comida ou remédios sob um frio congelante.
Passados 67 anos do massacre, os judeus mortos são homenageados um a um e sua história é contada por guias húngaros que falam a turistas de todas as partes do mundo, que vão à sinagoga curiosos por conhecer a maior da Europa e se deparam com uma memória ainda viva na sociedade húngara.
Nomes como Roth Imnéné, Brück Bernat, Lichtmann Miksa, homens e mulheres, mães, pais, comerciantes, vendedores, trabalhadores, jovens e velhos, tiveram suas vidas atravessadas por um fator comum que os marcou para o resto de suas vidas e deixou profundas feridas na história e memória da humanidade. Todos eram judeus húngaros que viviam em Budapeste no 7º distrito da capital – bairro judeu.
Todos foram mortos no início de 1945. Segundo relatos de guias que ecoam pelos corredores, ao final de 1944, a guerra já estava próxima de seu fim e esboçava um quadro de derrota dos alemães e seus exércitos aliados face ao avanço dos soviéticos sobre territórios ocupados pelos nazistas. As forças militares húngaras, em desespero sem ter tempo hábil para levar os judeus aos campos de concentração e de trabalho forçado, não hesitavam e cometiam assassinatos generalizados pelas ruas da capital húngara. Uma mancha negra de terror e sangue tomou conta de Budapeste nos idos de 1944 e 45.
Judeus eram mortos nas ruas ou atirados nas águas do rio Danúbio. Com quase três mil quilômetros de extensão, o Danúbio nasce na Alemanha e atravessa parte do continente europeu passando pela Áustria, Eslováquia, Hungria, Croácia, Sérvia, Romênia, Bulgária e deságua no mar Negro alcançando a fronteira da Ucrânia.
Fabíola Ortiz/Opera Mundi
Antigo gueto no 7º distrito da capital húngara, Budapeste. A localidade abrigava a comunidade judia da cidade
O avanço das tropas russas contra os exércitos de Hitler não foi capaz de impedir a matança generalizada em Budapeste. No dia 18 de janeiro de 1945, os russos se depararam com uma imagem que jamais sairia de suas memórias e tampouco da história húngara: centenas de milhares de cadáveres de judeus amontoados nas ruas e pátios de suas sinagogas. A imagem ficou imortalizada pelo fotógrafo Sándor Ék que presenciou a chegada dos russos ao jardim interno da Nagy Zsinagoga, em Budapeste.
Lá, 24 tumbas coletivas foram cavadas no jardim de Nagy para sepultar os corpos de judeus. Muitos outros foram enterrados sem nem mesmo terem sido identificados. No pátio onde padeceram, hoje é ocupado por árvores verdes de copas altas e, em seus canteiros, lápides de pedra com inscritos dos nomes dos que ali foram sepultados nas covas coletivas bem abaixo das raízes.
Alguns lugares para visitar em Budapeste:
– Budai Királyi Palota (Palácio Real de Buda): considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO desde 1987, o castelo fica próximo à ponte Széchenyi Lánchíd que cruza o rio Duna. É possível acessar o castelo pelo funicular que sobe a colina.
O edifício situa-se no bairro do Castelo, uma parte histórica da cidade onde concentram-se construções medievais, barrocas e oitocentistas. É lá onde estão a Biblioteca Nacional Szechényi e diversos museus como o da história militar, ou da farmácia, o do comércio e o da história da música.
– Mátyás-templon (Igreja Matias): Igreja católica do século XIV feita para a coroação do rei Matias Corvinus (1458-1490), mas chegou a virar mesquita durante a ocupação dos turcos, depois convertida em uma igreja barroca.
Fabíola Ortiz/Opera Mundi
Igreja Matias: construção chegou a virar mesquita durante a ocupação dos turcos
– Országház (Parlamento): O edifício onde funciona o Parlamento foi construído entre 1885 e 1902 num estilo neogótico para comemorar a fundação do Estado húngaro. O prédio revela os momentos áureos da era industrial na Hungria.
– Termas Széchényi: uma das atividades de lazer preferidas dos húngaros é banhar-se nas termas. Budapeste reúne casas de banho para todos os gostos que hoje oferecem ainda serviços de SPA e massagem. Com estilo neoclássico, Széchényi contabiliza 15 piscinas com e sem cobertura e de diferentes temperaturas e ainda conta com saunas e uma equipe de 30 massagistas.
– New Yorl Kávéház (Café Nova York): Parte de um hotel de luxo, a cafeteria situada no 7º distrito de Budapeste sempre foi ponto para escritores e artistas húngaros. A cafeteria ficou fechada desde 1947 tendo sido reaberta apenas em 2006, após ser mobiliada com estilo neo-renascentista italiano com afrescos no teto, candelabors e espelhos.
Na terceira parte da série Destinos do Leste, seguiremos rumo à Croácia para desvendar o país que há duas décadas declarou sua independência e hoje tenta ingressar na União Europeia. Passaremos por Zagreb, a capital, e seguiremos rumo à Costa da Dalmácia, no litoral sul da Croácia que virou hit do verão europeu.
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