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Com o aumento de turistas, o patrimônio histórico de Machu Picchu, no Peru, também poderá ser deteriorado, segundo especialistas
O anúncio da construção de um novo aeroporto internacional em Cuzco, no sul do Peru, gerou uma onda de especulação imobiliária próxima à localidade turística de Machu Picchu, que recebe cerca de um milhão de visitantes por ano. Enquanto o governo da região de Cuzco avalia o metro quadrado em vinte dólares, empresários estrangeiros oferecem até trezentos dólares pelo mesmo espaço.
Segundo o presidente peruano, Ollanta Humala, serão investidos 460 milhões de dólares no projeto, alvo de diversas críticas devido, principalmente, à expropriação da população local. “Com o novo aeroporto, as comunidades poderão sair da pobreza e do atraso em que vivem hoje, pois mais turistas irão para lá e mais empregos serão gerados”, explica.
No quinto ano de operação, o empreendimento poderá receber mais de cinco milhões de pessoas. O atual aeroporto de Cuzco não funciona no período noturno e recebe, em média, 20 voos diários, o que é considerado insuficiente pelas autoridades peruanas. “O projeto representará anualmente o faturamento de cinco milhões de dólares, dinheiro que circularia na macro região de Cuzco e beneficiaria muito a população”, argumenta a congressista Julia Tesve Quispe.
O atual governo aposta tanto no empreendimento, o qual deverá contar com a presença de empresas brasileiras, que pretende abrir licitação internacional, no máximo, até o final de outubro. “Estamos avançando nisso para lançar o edital o mais rápido possível. Várias construtoras brasileiras devem participar”, afirma ao Opera Mundi o conselheiro comercial do Peru no Brasil, Antonio Castillo.
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Antes de o presidente decidir pela construção do novo aeroporto, um longo debate foi travado sobre a viabilidade da obra. Os opositores ao projeto questionaram a segurança dos voos e pousos em uma região com 3.700 metros de altitude e conhecida por fortes ventos e incertezas climáticas.
O governo, porém, diz ter encomendado estudos para diversas companhias especialistas no assunto, que justificam a escolha da região como a mais adequada. Com os indícios dados por Humala de que o aeroporto sairá rapidamente do papel, empresários estrangeiros iniciaram uma corrida por imóveis em Cuzco.
“Vários executivos estão comprando casas e terrenos para construir hotéis e restaurantes, o que aumentou o valor do metro quadrado na região, que hoje custa até trezentos dólares”, diz Rubens Gómez, proprietário de uma imobiliária local.
Apesar de já ter aprovado a lei para expropriar as famílias que vivem onde será construído o aeroporto, o presidente peruano ainda não se pronunciou sobre o destino dessas pessoas. “Não temos informações para aonde vamos. Só foi avisado até agora que aqueles que não possuem título de propriedade de suas casas terão que solicitá-lo urgentemente para ter acesso ao processo de indenização”, revela Maria Ianhez, moradora da comunidade de Yanacona. Até o momento, o governo de Cuzco oferece vinte dólares por metro quadrado para os moradores interessados.
O destino da população da região, no entanto, não é o único problema que o governo peruano terá que solucionar. O projeto prevê que o aeroporto ocupe 400 hectares, afetando 96% da área agrícola das comunidades de Yanacona, Raqchi Ayllu e Ayllopongo, o que prejudicará o abastecimento de alimentos.
A chegada de mais turistas também colocará em risco o próprio patrimônio histórico, segundo especialistas. “Se não houver um controle rígido sobre o aumento da circulação de pessoas nos sítios arqueológicos da herança inca, espaços como o vale sagrado de Urubamba poderão ser deteriorados rapidamente”, analisa Lourdes Oraica, técnica em turismo.
O prefeito de Chinchero, Juan Carlos Gómez, administra a região onde será construído o aeroporto e reconhece o forte impacto previsto. Ele espera que o governo federal prepare um plano preventivo. “Serão muitos os problemas gerados. Por isso será necessário pensar um projeto de desenvolvimento conjugado entre os ministérios de Agricultura, Habitação e Saneamento”.