Guillermo Suarez/Comando Venezuela
Henrique Capriles aposta em atrair parte do eleitorado chavista para vencer as eleições de 7 de outubro
Em desvantagem de 10 a 20 pontos em relação ao presidente Hugo Chávez nas pesquisas de intenção de voto, Henrique Capriles, principal candidato de oposição na Venezuela, tem poucas alternativas para tentar vencer as eleições de 7 de outubro.
Nos últimos dias, seu objetivo tem sido buscar votos de eleitores que simpatizam com Chávez. O opositor continua com sua campanha “povo a povo”, percorrendo o maior número possível de cidades e povoados no interior do país, e fazendo um enorme esforço para se desvincular dos dois partidos que dividiram o poder desde 1958, até o início do atual governo, e são mal vistos por importante parte da população, a AD (Ação Democrática) e o Copei (Comitê de Organização Política e Eleitoral Independente).
Capriles, que é advogado e o atual governador do Estado de Miranda, também tenta a todo custo livrar-se da alcunha de “burguês”, “conservador” ou de “direita”, como lhe chamam Chávez e seus partidários.
Na capital, faz grandes eventos apresentando suas propostas de governo por temas, inclusive o “Fome Zero”, aos moldes do programa do governo Lula. “Nossos agricultores terão facilidade de crédito e as Missões, que são do povo, serão melhoradas”, disse em campanha no Estado Táchira.
Herdeiro de uma das maiores fortunas da Venezuela, repete insistentemente que vai ganhar com a “vontade popular” e que é “progressista” porque foi o governador que mais investiu em educação. Em seus discursos, também cita muitas vezes como modelo o governo do PT no Brasil, por ter “gerado 16 milhões de empregos e retirado 20 milhões de brasileiros da pobreza”.
Socialismo
A insistência de Capriles tem sentido. Mesmo que, para a maioria da população, “socialismo” tenha mais a ver com solidariedade, participação e igualdade do que com um sistema político com forte participação estatal e planificação da economia, o fato é que mais de 50% da população venezuelana “apoia” este caminho de governar, enquanto outros 30% são contra.
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Para Germán Campos, diretor do instituto de pesquisas Consultores 30.11, nos anos 1980, entre 15% e 18% dos venezuelanos se identificavam com o socialismo, mas essa porcentagem das pessoas estava nos grandes centros urbanos, na classe trabalhadora organizada e na classe média, principalmente na universidade. “Não atravessava as classes sociais nem a geografia nacional”, lembra.
Em 2005 Chávez começa a falar em tornar a Venezuela um país socialista, tema que foi utilizado como principal mote de sua campanha eleitoral de um ano depois. Naquele momento, também segundo os dados de Campos, apenas 30% da população apoiavam o “socialismo” e 50% eram contra. “Ele fez uma jogada de risco, investindo na mudança de pensamento dos venezuelanos”, disse.
“Na América Latina a palavra socialismo era estigmatizada, era quase uma grosseria, associada a autoritarismo, falta de democracia, fracasso”, analisa Campos, atribuindo a Chávez essa nova ótica da população venezuelana sobre o tema. “Hoje, não é viável na Venezuela um projeto de corte liberal, porque a sociedade está vendo o desenvolvimento de outra maneira. Um projeto que não assuma firmemente todo o tema da inclusão social não é competitivo aqui”, diz.
O pesquisador afirma que o eleitor venezuelano está bastante consciente, seja qual for o espectro ideológico. Para ele, há setores da oposição que querem mudança, mas têm dúvida. “O argumento de tirar Chávez não é suficiente. Eles agora querem ver um modelo alternativo a Chávez”, explica Campos, para quem, até 2006, a oposição sempre trabalhou na perspectiva de “derrubar” o presidente e não de oferecer uma alternativa.
Missões
Uma das vitórias simbólicas do presidente foi ter tornado seus programas sociais de maior envergadura, as Missões, em uma espécie de “consenso” político, fazendo com que seu opositor tenha que declarar constantemente que é preciso “manter e melhorá-las”.
“Seus assessores estão pensando como podem ganhar algum voto de esquerda de uma população que já tem certa consciência social e política”, disse a cientista política Carmen Romero, lembrando que Capriles, enquanto governador de Miranda, teve problemas com Missões sociais do governo Chávez.
“Por mais que Capriles tente dizer que vai manter as Missões, uma parte majoritária da sociedade acredita que as Missões estão associadas ao que o próprio Chávez chama de ‘transição ao socialismo’”, sentencia Campos.
Para demarcar a diferença ideológica entre os dois, Chávez critica um suposto plano econômico “neoliberal” que seria implantado no país em caso da vitória de Capriles. “A direita tem que se disfarçar de esquerda para buscar votos”, disse Chávez em Cátia, populoso bairro onde já obteve expressivas vitórias eleitorais. “Por mais que tentem esconder, sempre se verá o pacote, o ‘pacotaço’ burguês”.
Religião
Recorrentemente, Chávez e Capriles fazem menções à religião católica. São pedidos a Deus, Nossa Senhora e santos católicos. Campos não acredita que seja uma estratégia deliberada dos candidatos, mas sim sua real convicção. Ele lembra que, desde a intentona militar comandada por Chávez em 1992 até hoje, o presidente faz suas referências ao cristianismo. Assim como Capriles, que também tem militância na juventude católica desde quando era filiado ao Copei.
“Chávez sempre fez uma interpretação de Cristo de que suas palavras são socialistas. Capriles é católico e, inclusive, participou de setores conservadores da Igreja, apesar de um lado da família ser judia”, lembra Campos. “O eleitor da Venezuela está mais interessado em quais benefícios ou que tipo de político ele é”, sentencia Carmen Romero.
Tanto Campos quando Romero também não acreditam que declarações e eventos diretamente ligados ao público feminino tenham influência na Venezuela, visto que esta parcela da população, 5% maior que o gênero masculino, tem um comportamento muito semelhante ao dos homens em todas as classes sociais.
Apesar de todas as adversidades, Capriles tem esperança na vitória. “Poderemos ganhar as eleições por mais de um milhão de votos de diferença”, disse em entrevista a rede de televisão CNN. “Eu sou Davi e meu adversário é Golias”, afirmou também se referindo a passagens da Bíblia.