Debaixo de uma verdadeira tempestade, milhares de venezuelanos se reuniram na tarde desta quinta-feira (04/10) no centro de Caracas para o comício de encerramento de campanha do presidente Hugo Chávez. A multidão tomou ao menos sete avenidas da capital venezuelana para apoiar o candidato à reeleição.
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Efe
“Isso é para que vejam do que somos capazes”, diziam diversos simpatizantes de Chávez, em referência à concentração realizada pela oposição no domingo (30/09), que também reuniu milhares de eleitores de Henrique Capriles. “Não importa se chova, se caia o mundo. Estaremos com o comandante até a morte”, afirmou David Torrealba, de 40 anos, enquanto enxugava o rosto com as mãos.
A quantidade de chuva foi tamanha que a Avenida Bolívar, uma das principais do centro de Caracas, foi tomada por uma corrente de água. Eleitores de diversos Estados venezuelanos compareceram ao comício, inclusive de localidades distantes mais de sete horas da capital, como Apure. Crianças, cadeirantes e idosos se misturavam às centenas de jovens apoiadores, em maioria.
Marina Terra/Opera Mundi
Apoiadores do presidente Hugo Chávez do bairro de 23 de Janeiro caminham em direção ao centro de Caracas
“Eu tenho 95 anos e apoio Chávez porque foi o único presidente que se importou conosco, o povo”, disse às lágrimas Aurora, que admirava a marcha sentada em uma escada. “Para mim não há mais tempo, mas para eles sim”, completou, dizendo que há somente 11 anos recebe uma aposentadoria. Como ela, 1,8 milhões de pessoas desde 1999 foram incorporadas ao sistema de aposentadoria do IVSS (Instituto Venezuelano de Seguros Sociais).
Já nas primeiras horas da manhã, simpatizantes do presidente se reuniram em bairros para caminhar juntos até o centro. No bairro de 23 de Janeiro, célebre bastião chavista e há décadas conhecido por reunir destacados militantes de esquerda, a concentração se formou às 11h horário de Caracas (12h30 em Brasília).
Sorridentes e usando camisetas, bonés e faixas vermelhas, grande parte com o nome de Chávez e dos principais partidos da coligação governista, os eleitores gritavam frases como “Uh, Ah, Chávez não se vá” e “Se querem pátria, que venham comigo”, sempre repetida pelo presidente em comícios.
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No caminho até o centro da capital venezuelana, motocicletas buzinavam em meio à multidão, que seguia carros de som que repetiam a canção lançada pela propaganda oficial de Chávez. A confusão se estendeu por quilômetros, até que se juntou a concentrações de gente ainda mais barulhentas. Palcos improvisados tocavam ritmos latinos como merengue, salsa e até a famosa canção do brasileiro Michel Teló, “Ai se eu te pego”.
Conforme chegava o momento de Chávez falar, o que aconteceu no meio da tarde, a aglomeração se intensificava. Quase sem espaço, as pessoas dançavam, bebiam e compartilhavam em conversas os motivos pelo apoio ao presidente. “Sem dúvidas a vida melhorou. Antes de Chávez nem valia pena ir votar, porque os mais ricos eram sempre mais beneficiados. Hoje temos mais emprego, qualidade de vida e, acima de tudo, somos orgulhosos de ser venezuelanos”, explicou Juana Villa, de 63 anos, professora do Ensino Médio.
Discurso
Em meio ao aguaceiro, fogos de artifício ao longe anunciavam a chegada do presidente. Uma explosão de gritos e buzinas o recebeu. Mesmo sem poder escutar perfeitamente as palavras de Chávez, a multidão o acompanhou no hino nacional venezuelano, como já é tradicional em concentrações chavistas. “Aqui está Chávez de pé com vocês. Viva a chuva, chegou a avalanche bolivariana a Caracas!”, emendou o presidente, também sob a chuva torrencial, para delírio de seus simpatizantes. “As circunstâncias me obrigam a ser breve”, se justificou pelo discurso, que durou somente uma hora.
Chávez afirmou que “está em jogo a vida da Venezuela” e reafirmou a confiança na vitória no domingo. “Eu seguirei com vocês. Meu próximo governo começa na segunda-feira, 8 de outubro”, disse. “Venezuela era um país faminto. Há 20 anos havia fome, pobreza e miséria”, lembrou. Com Chávez, os índices sociais melhoraram sensivelmente. Dados da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) indicam que a Venezuela tem o menor índice de desigualdade do continente, com um coeficiente Gini de 0,394 – quanto mais próximo de zero, menor a desigualdade.
Efe
Em 1998, antes de o presidente venezuelano assumir, a média de desemprego era de 22%. Hoje, está abaixo de 10%. A informalidade é alta, mas caiu de 51% para 44%. Houve uma redução da pobreza, que ainda é grande, mas caiu de 48% para 29%. A pobreza extrema despencou de 20% para 7%.
O presidente prometeu que na nova administração reduzirá a pobreza a zero, que cada família venezuelana terá uma casa, que não haverá mais desemprego e que dez novas universidades serão criadas. Vinte e duas foram criadas em seus governos. Ao final do comício, Chávez pediu que todos sigam para os centros de votação o mais cedo possível. Na Venezuela, os colégios eleitorais abrem domingo (07/10) às 08h e fecham até a última pessoa que esteja na fila.
Mais fogos finalizaram o comício, ao mesmo tempo em que a chuva diminuía o ritmo. As ruas da zona central de Caracas permaneceram ocupadas por simpatizantes de Chávez, que aproveitavam para festejar. “Escreva o que te estou dizendo: não há como Chávez perder se toda essa gente for votar. Capriles está perdendo seu tempo”, afirmou um apoiador do presidente, que está há 14 anos no poder.