A Semar (Secretaria de Marinha do México) e o Procurador do Estado de Coahuila, Homero Ramos Gloria, emitiram na manhã desta terça-feira (09/10) um comunicado e confirmaram que o corpo de um dos dois civis mortos durante uma operação da Marinha mexicana no último domingo (07/10) pertence a Heriberto Lazcano Lazcano – o el Lazca, fundador e líder da facção criminosa Los Zetas.
Na noite desta segunda-feira (08/10) surgiram informações incertas sobre a suposta morte do narcotraficante. Em um primeiro momento, a Marinha comunicou apenas que havia “fortes indícios” de que um dos dois homens mortos no conflito era “el Lazca“. A confirmação ocorreu apenas após a análise de fotos e impressões digitais, já que o cadáver estava irreconhecível. Um dos criminosos mais procurados do mundo, no México sua cabeça valia 30 milhões de pesos e, nos Estados Unidos, cinco milhões de dólares.
NULL
NULL
Ainda há dúvidas sobre a precisão do reconhecimento apresentado pelos militares. Na noite do mesmo dia em que Lazcano foi morto, seu corpo acabou roubado de uma funerária local por um comando armado. Quando foi publicada a notícia da morte de Heriberto Lazcano, tanto a Marinha quanto a Procuradoria já não tinham mais o cadáver em seu poder.
Segundo o jornal Milenio, foi “devido a uma denúncia anônima que a Marinha iniciou uma patrulha na região de Sabinas”. Na versão dos militares, um veículo blindado utilizado durante a operação foi atacado com granadas. Os oficias responderam à agressão e, com o conflito, dois supostos criminosos morreram. Um deles seria Lazcano. O arsenal recolhido após o episódio é simples para os padrões dos Zetas: duas armas de alto calibre, um tubo lança-granadas, com 12 explosivos úteis, outro tubo lança-mísseis, carregadores e diversos cartuchos de munição. Os cadáveres foram levados à Funerária García, onde passaram por exames periciais. Logo em seguida o corpo de Lazcano foi roubado.
Se realmente foi Lazcano quem morreu, a operação não foi casual, muito menos o resultado de uma “denúncia anônima”. Tudo indica que, desde o ano passado está sendo organizada uma caça sistemática dos líderes dos Zetas. Nos últimos quinze meses, foram capturados Jesús Enrique Rejón Aguilar, o Mamito, Raúl Lucio Hernández, o Lucky, Luis Jesús Sarabia Ramón, o Pepito, Iván Velázquez Caballero, o Talibán, e, agora, Salvador Alfonso Martínez, o Ardilla. Trata-se de quase toda a cúpula da organização. Se “el Lazca” morreu, estariam vivos e livres apenas dois dirigentes principais da organização: Miguel Angel Treviño Morales, o Z-40, e seu irmão Omar, o Z-42. Exceto o cartel dos Beltrán Leyva, aliados dos Zetas, nenhum outro grupo criminoso foi desmantelado de forma tão metódica durante a administração de Felipe Calderón.
Enquanto a operação da Marinha mexicana em Coahuila executava el Lazca, era preso na região Salvador Alfonso Martínez Escobedo, outro membro da cúpula do cartel. O chamado “la Ardilla” era responsável pelos Zetas nos estados de Coahuila, Nuevo León e Tamaulipas. Era acusado da morte de José Eduardo Moreira, filho do ex-governador de Coahuila e ex-presidente nacional do PRI (Partido Revolucionário Institucional), Humberto Moreira, assassinado no último dia 3 de outubro. Também se atribui a ele a responsabilidade pela matança de 72 migrantes em San Fernando, no estado de Tamaulipas, em agosto de 2010.
Los Zetas
Originário de Apan, Lazcano ingressou no exército em 1991, com 17 anos. Deixou a instituição em 1998, após integrar o GAFE (Grupo Aeronáutico de Forças Especiais, na sigla em espanhol), um grupo especial do exército treinado para combater guerrilhas e o narcotráfico em condições extremas. O GAFE ganhou importância com a luta contra o EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional) após o levante de 1994. Ao lado de Lazcano, outros 40 oficiais também deixaram o GAFE e se transformaram nos primeiros Zetas.
Em um primeiro momento, trabalhavam como guarda-costas e contrabandistas do então líder do cártel do Golfo, Osiel Cárdenas Guillén. Após a prisão e extradição de Osiel, em 2003, el Lazca ganhou mais poder dentro dos Zetas. Como era o terceiro na hierarquia, assumiu o controle da organização criminosa mais violenta e poderosa do México com a norte de Arturo Guzmán Decena (o Z1) em 2002 e com a prisão de Rogelio Gonzáles Pizaña (o Z2) em 2004.
Foi apenas em 2008 que os Zetas se transformaram em um cartel autônomo, estabelecendo pactos com outros grupos criminosos, como o cartel dos Beltrán Leyva, aliados históricos do cartel de Sinaloa, e com o cartel de Juárez. Foi Lazcano quem alterou a estratégia dos Zetas. Sob seu comando, os membros do grupo começaram a decapitar os cadáveres dos grupos inimigos e a aumentar a violência e a crueldade dos conflitos para elevar o terror sobre comunidades e instituições.
Com el Lazca, o grupo de traficantes transformou-se em um cartel capaz de diferenciar seus negócios, abrangendo do simples contrabando de drogas a uma série de outros delitos, como o sequestro, a extorsão, o tráfico de pessoas e de migrantes, a cobrança de um “seguro de vida”, a pirataria, o roubo de carros e a prostituição. Mais além, os Zetas foram sempre se estruturando de acordo com a hierarquia militar, incluindo kaibiles (integrantes das forças de operações especiais da Guatemala) em suas fileiras de traficantes.