O panorama de imigração aos Estados Unidos deu uma reviravolta, segundo o mais recente estudo do Pew Hispanic Center: por um lado, a presença de imigrantes latinos vivendo de forma ilegal apresenta uma tendência de queda e, por outro, é a primeira vez em mais de um século que chegam mais pessoas de origem asiática que latina.
Sabrina Duran/Opera Mundi
Atualmente, 11,1 milhões de latinos sem documentos legais nos Estados Unidos
De acordo com o estudo, dos atuais 315 milhões de pessoas morando nos EUA, 11,1 milhões são imigrantes vivendo de forma ilegal. O número se refere a 2011 e tem se mantido estável nos últimos três anos, representando o menor nível desde o pico de 12 milhões de pessoas em 2007 e 2005.
Essa queda se explica principalmente pela menor quantidade de imigrantes vindos do México, a maior fonte de migração para os EUA. Cerca de 770 mil mexicanos atravessavam anualmente a fronteira em 2007, índice que, em 2010, ja havia caído para 140 mil – e a maioria chegava legalmente. Além disso, o número de famílias mexicanas que retornaram a seu país de origem entre 2005 e 2010 praticamente dobrou em comparação com os cinco anos anteriores a 2000.
O resultado é um fluxo líquido de zero entre saída de imigrantes e entrada de novos estrangeiros. Dentre os fatores que não incentivam novas migrações estão, por um lado, a crise da economia norte-americana e as novas medidas de segurança na fronteira e, por outro, as melhores condições econômicas nos países de origem e o envelhecimento da população mexicana.
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Política latina
Ainda assim, isso não diminui a relevância da quantidade de imigrantes nos EUA e sua posição política. O destaque para os latinos aumentou durante as recentes eleições para presidente nos EUA, nas quais quebraram recorde ao representarem um em cada dez votantes. No pleito de novembro, 12,5 milhões deles foram às urnas e 71% apoiaram Barack Obama.
Foi a maior porcentagem de votos latinos conquistada por um democrata desde Bill Clinton em 1996. Essa adesão não surpreende, uma vez que Mitt Romney se opôs à chamada anistia para imigrantes sem documentos e sugeriu a autodeportação, enquanto Obama promete combater a reforma da imigração em seu segundo mandato na Casa Branca e concedeu suspensão de deportação a jovens estrangeiros que cumprissem diversos requisitos.
E mais: a perspectiva é de que o eleitorado latino dobre em apenas uma geração. De acordo com outro estudo do Pew Hispanic Center, o fato de latinos serem o grupo étnico mais jovem – com uma idade média de 27 anos, comparado aos 42 anos de brancos não-hispânicos – cria a perspectiva de o número de eleitores dessa origem suba dos 23,7 milhões atuais para 40 milhões em 2030.
Reconhecendo as mudanças que eles estão trazendo e a perda nas eleições, republicanos (maioria na Câmara dos Representantes) propuseram uma lei que garantiria 55 mil vistos residenciais, conhecidos como green cards, e continuidade de trabalho a alunos de tecnologia avançada em universidades norte-americanas. Democratas e grupos de direitos de imigrantes, por sua vez, rejeitaram essa abordagem, com o argumento de que qualquer reforma precisa acompanhar uma legislação mais abrangente e que inclua o oferecimento de cidadania plena a imigrantes sem visto.
Além disso, a proposta republicana eliminaria o Diversity Visa Program, que concede aleatoriamente green cards a pessoas de países com menores taxa de imigração, como nações africanas e ex-soviéticas. No dia 5/12, os democratas (maioria no Senado) rejeitaram o projeto.
Muito do que acontecer em 2013 poderá ser influenciado pelo Congresso mais latino dos EUA: eles cresceram de 24 para 28 na Câmara de Representantes e de dois para três no Senado. Desses 31 políticos, 24 são do Partido Democrata, seis a mais do que hoje. O Partido Republicano, que tinha oito membros, perdeu dois na Câmara, mas passou para dois no Senado, com a entrada do texano Ted Cruz, filho de um cubano que lutou ao lado de Fidel Castro, mas fugiu para os EUA.
Sociedade em transformação
A importância de tais medidas imigratórias cresce com o fato de que a força de trabalho norte-americana está em queda, segundo o que Jeffrey Passel, demógrafo do Pew Research Center disse à CBS News. Norte-americanos frutos do ‘baby-boom’ do pós-Segunda Guerra estão começando a se aposentar. O número de imigrantes mexicanos, cuja maioria ocupa trabalhos de baixa renda, tem se equilibrado. Considerando estrangeiros residentes no geral, 44% possuem 45 anos ou mais. Mães imigrantes também estão não estão em alta, resultando em uma taxa natalina geral dos EUA em 2011 considerada baixa, similar a de 1920.
Ao mesmo tempo, latinos e asiáticos são os grupos populacionais que mais crescem, aumentando 40% desde 2000. Mesmo que o cenário atual seja de estabilidade para, por exemplo, mexicanos, a alta taxa de natalidade e de imigração durante anos resultou em 17% da população total norte-americana hoje sendo latina (53 milhões de pessoas), 12%, negra (38 milhões)e 5%, asiática (16 milhões).
Aliás, em vários estados, como Califórnia e Nova Iorque, chegaram em 2011 mais imigrantes asiáticos do que latinos. É a primeira vez, desde 1910, que isso ocorre. Os asiáticos aumentaram sua parcela da população em 93% nas áreas metropolitanas do país. Nas últimas eleições, constituíram 3% dos votantes, dos quais 73% foram a favor de Obama. No geral, não se identificam com nenhum dos dois partidos, mas tendem a citar trabalho, educação e saúde como assuntos de alta importância e preferem um governo que provenha mais serviços.
* Com informações de CBS, O Globo e Radio Free Europe