Em meio a tensões provocadas por falta de consenso político, milhares de egípcios participam de manifestações nesta terça-feira (11/12) a favor e contra a proposta de Constituição, que será submetida a um referendo no próximo sábado (15).
Diversas pessoas de tendências liberal e laica protestam diante do Palácio Presidencial cantando palavras de ordem revolucionárias e exigindo a renúncia do presidente Mohamed Mursi. Em outro centro de oposição, a Praça Tahrir, no centro do Cairo, ao menos nove pessoas ficaram feridas. A agência oficial de notícias Mena afirma que houve confrontos envolvendo manifestantes e vendedores ambulantes, enquanto o diário Al-Ahram diz em seu site que atacantes desconhecidos agrediram os manifestantes. Segundo a Mena. Todos os feridos foram baleados.
Os manifestantes derrubaram parte do muro levantado pelas Forças Armadas em frente ao palácio e permitiram o acesso de pessoas que chegaram em passeatas de diferentes pontos da capital Cairo às cercanias do edifício.
Por outro lado, militantes apoiadores das correntes islâmicas, em geral homens barbudos e mulheres cobertas com véus, saíram para defender o texto constitucional aos gritos de “O Islã é a solução” – lema da Irmandade Muçulmana – na praça de Raba Adauiya, no distrito cairota de Medinat Nasser, e em outras zonas do país.
A oposição convocou uma grande manifestação na esperança de forçar Mursi a adiar o referendo sobre a nova Constituição. Diante do palácio presidencial, dezenas de manifestantes derrubaram dois blocos de concreto gigantes que formavam uma parede bloqueando o acesso ao local.
Na segunda maior cidade do Egito, Alexandria, milhares de manifestantes rivais se reuniram em locais separados. Os simpatizantes de Mursi cantavam: “O povo quer a implementação da lei islâmica”, enquanto seus opositores gritavam: “O povo quer derrubar o regime”.
A agitação no país, depois da queda de Hosni Mubarak no ano passado, preocupa o Ocidente, em especial os Estados Unidos, que tem dado ao governo egípcio bilhões de dólares em ajuda militar e outros tipos de assistência desde que o Egito fez a paz com Israel em 1979.
Recuo
Diante das pressões, Mursi convocou para esta quarta-feira (12/12) uma nova reunião de diálogo nacional, para a qual foram convidados opositores que não participaram do primeiro encontro, no último sábado. As informações são da assessoria da Presidência.
O comunicado, contém um convite e pede para que se amplie “a participação, o diálogo e o consenso”.
Hoje ocorreu uma reunião de mais de cinco horas, presidido pelo vice-presidente do país, Mahmoud Meki, e que contou com a participação de personalidades de distintas tendências, em sua maioria islâmicos.
Os participantes voltaram a analisar os artigos constitucionais ainda não pactuados e afirmam que o texto pode receber emendas após a aprovação da Constituição e da eleição de um novo Parlamento.
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Segundo essa proposta, Mursi e os participantes assinariam um documento com as emendas a estes artigos, que os novos parlamentares se comprometeriam a aprovar na primeira sessão da próxima assembleia.
Além disso, os presentes à reunião analisaram os critérios que deverão reunir as personalidades que completarão a câmara alta do Parlamento (Shura), encarregada de legislar até que a câmara baixa inicie seus trabalhos após a aprovação da Carta Magna.
Pacote de austeridade
No mesmo dia, o FMI Fundo Monetário Interacional) decidiu adiar para janeiro um empréstimo de 4,8 bilhões de dólares ao Egito, informou o ministro das Finanças egípcio, Mumtaz al Said.
De acordo com Said, o atraso do empréstimo se destinava a ganhar tempo para explicar as medidas do pacote de austeridade econômica ao povo egípcio. O primeiro-ministro Hisham Kandil explicou que foi o Egito que solicitou o adiamento do empréstimo por um mês.
O anúncio foi feito depois que o presidente Mohamed Mursi recuou, na segunda-feira, de seus planos de aumentar os impostos, considerados chave para a obtenção do empréstimo. Os grupos da oposição criticaram duramente o pacote fiscal, que inclui taxações sobre bebidas alcoólicas, cigarros e uma série de bens e serviços.
“É claro que o adiamento terá algum impacto econômico, mas estamos discutindo as medidas necessárias (para lidar com isso) durante o próximo período”, disse o ministro à Reuters.
Kandil disse que as reformas não afetarão os pobres. Pão, açúcar e arroz não serão atingidos, mas o cigarro e o óleo de cozinha subirão e serão impostas multas para quem jogar lixo na rua. Na tentativa de reconstruir um consenso, ele disse que haverá um diálogo nacional sobre o programa econômico na semana que vem.
Em Washington, o FMI informou que o Egito solicitou o adiamento do empréstimo “à luz dos acontecimentos que se desenvolvem no local”. O Fundo mantinha-se pronto para consultas com o Egito na retomada das discussões sobre o empréstimo congelado, afirmou uma porta-voz.
(*) com agências de notícias internacionais