Sob protestos de ativistas e em roteiro encurtado, o presidente egípcio Mohamed Mursi, líder da Irmandade Muçulmana, fez nesta quarta-feira (30/01) uma rápida visita a Berlim, capital da Alemanha, onde se encontrou com a chanceler Angela Merkel e participou de uma sabatina na Fundação Körber. Mursi pediu cooperação entre os dois países e negou que o Egito esteja à beira de um colapso. “Continuamos no caminho para a ordem democrática”, disse.
Mursi deixou o Egito a cargo de seu chefe militar, Abdel Fatah al Sisi, que também faz as vezes de ministro da Defesa. Al Sisi alertou na terça (29) para a dimensão da crise política no país, que já dura dois anos e poderia levar ao “colapso do Estado”. “O que ouvi hoje foi uma interpretação equivocada do que o ministro disse”, afirmou Mursi. “Ele nunca disse isso [que o país está em colapso]. Ele disse que se a crise política continuar, isso pode levar a um colapso”.
Agência Efe (31/01)
Mursi em coletiva de imprensa realizada em Berlim
A visita do presidente egípcio à Alemanha estava programada para dois dias, mas foi encurtada para apenas um. Mesmo assim, ele negou que a situação no Cairo esteja alarmante. “Recebi da Alemanha uma possibilidade de colaboração mútua e agora o povo egípcio está enfrentando desafios e necessita de minha presença. Assim, consegui unir as duas coisas. Vim para um longo dia e amanhã volto para cumprir minha função constitucional”, disse.
Durante seu encontro com Merkel, ativistas protestaram em frente ao Bundestag, o Parlamento alemão. Cerca de 200 pessoas esticaram bandeiras com imagens da rainha egípcia Nefertiti usando máscaras de gás – em referência às agressões e confrontos na Praça Tahrir e na adoção de um estado de emergência de pelo menos 30 dias em Port Said, Suez e Ismailia, três províncias do país. Três cidades implementaram um toque de recolher.
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“Decisões e medidas excepcionais não são minha opção favorita. Quando vi que as vidas das pessoas estavam em perigo, que assassinatos foram cometidos, reconheci a ameaça e declarei emergência em três cidades pelo prazo máximo de um mês. Se a situação puder ser estabilizada, a decisão será retirada. Não é nosso objetivo manter uma situação de emergência. Vivemos sob emergência por 30 anos”, disse o líder da Irmandade Muçulmana.
De acordo com jornal alemão Der Tagesspiel, Merkel anotou como condições para investimento alemão no Egito a estabilidade política, a observação dos direitos humanos e da liberdade religiosa. Disse ainda que um bom caminho para a manutenção da estabilidade política é o desenvolvimento econômico do país. Protestos violentos que tomaram conta do país já deixaram ao menos 49 mortos e centenas de feridos na última semana.
Agência Efe (30/01)
Egípcios protestam em Berlim contra a presença de Mursi
“O fato é que há uma injustiça com a realidade egípcia. Aqueles que dizem que os direitos humanos são os mesmos do que antes [no período ditatorial], e de que há censura e falta de liberdade de expressão, ou mesmo aqueles que dizem que mulheres estão sendo atacadas, não estão dizendo verdade. O que se coloca nas reportagens são desafios para a gente. Há, de fato, agressões individuais, não metódicas, e certamente não são feitas pelo governo”, disse Mursi, que retorna amanhã para o Cairo.
Desde quando se tornou uma república, em 1953, até a eleição do civil Mursi, em 2012, o país esteve sob controle de governos militares, tendo as Forças Armadas como base do governo. Mursi rejeitou a possibilidade de o país se tornar um estado teocrático ou militar. “A prática política não pode ter sucesso se não for constitucional, se não vier do povo, que é a fonte de poder”, disse.