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Túnel na cidade de Rafah, em 2009
As Forças Armadas do Egito começaram a inundar nesta quarta-feira (13/02) túneis que unem a Península do Sinai à Faixa de Gaza, para impedir o tráfico de armas e explosivos, informou à Agência Efe uma fonte dos serviços de segurança.
A fonte, que pediu anonimato, explicou que o exército lançou uma operação para inundar e fechar os túneis, utilizados pelos grupos palestinos para introduzir armamentos, alimentos e produtos de primeira necessidade na faixa para aliviar o bloqueio israelense. Estima-se que 30% de todos bens chegam ao enclave através desses túneis.
Essa campanha se realiza de forma unilateral e sem coordenação com a parte palestina, segundo a fonte, que descartou a possibilidade de se fecharem todos os túneis porque vários deles conectam casas situadas no lado egípcio com imóveis localizados em Gaza.
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“Estamos usando água de poços para fechar os túneis“, afirmou um official de segurança egípcio no Sinai à Reuters, que pediu para não ser ser identificado. Segundo ele, a campanha começou há cinco dias.
Repórteres da agência viram um túnel usado para transportar cimento e cascalhos ser repentinamente inundado no domingo (10/02), provocando a fuga de trabalhadores. O mesmo aconteceu com outros dois túneis, de acordo com locais. “Os egípcios abriram a água para encher os túneis“, disse Abu Ghassan, supervisor de 30 homens de um túnel a 200 metros da fronteira.
Um oficial do Hamas, grupo islâmico que controle a Faixa de Gaza, confirmou à Reuters que egípcios estavam atacando os túneis, mas sem maiores detalhes. A ação teria começado enquanto líderes de grupos palestinos se encontravam no Cairo nesta segunda-feira (11/02) para tentar criar um governo de coalizão e conciliar divergências entre politicos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. O oficial afirmou que as conversações não foram bem, mas tampouco ruíram.
As críticas ao presidente egípcio, Mohamed Mursi, estavam aparentes em falas de civis de Gaza. “As medidas egípcias contra os túneis pioraram desde a eleição de Mursi. Nossos irmãos do Hamas pensaram que ele abriria Gaza. Eles estavam errados“, disse um dono de túnel, que preferiu se identificar como Ayed.
Operação
Dúzias de túneis foram destruídos desde uma operação similar em agosto de 2012, após um ataque cometido por um grupo islâmico de Gaza contra um posto de controle fronteiriço, o que causou a morte de 16 soldados e policiais egípcios. Oficiais do Cairo disseram que alguns dos atiradores atravessaram para o Egito através dos túneis – acusação refutada por palestinos – e ordenaram uma medida imediata.
Ayed acrescentou que talvez 150 ou 200 túneis foram fechados desde o ataque a Sinai. Os palestinos que usam as passagens temem que a água possa “causar rachaduras nas paredes e causar o colapso do túnel e matar pessoas“, como diz Ahmed Al Shaer, um trabalhador em túneis cujo primo morreu há um ano por causa de um desabamento.
Estima-se que existam mais de 1.200 túneis entre o Sinai egípcio e a faixa palestina, que servem tanto para o contrabando de produtos como para o trânsito de pessoas. O bloqueio israelense está em vigor desde 2007, quando o Hamas expulsou o movimento Fatah da Faixa, por “razões de segurança“. A ONU já pediu que a medida fosse revogada por criar uma situação “insustentável e inaceitável para 1,6 milhões de habitantes“ na região.
Todos os bens precisam ser inspecionados antes de entrarem em Gaza e Israel diz que algumas restrições precisam permanecer para itens que possam ser usados para produzir ou armazenar armas.
Assim, os túneis continuam ativos, principalmente para transportar materiais de construção, mas também trigo, óleo de cozinha, carne de carneiro (em ocasiões especiais) e até mesmo um leão para o zoológico de Gaza. Outro motivo para o uso é evitar taxas sobre combustíveis que entrem via Israel.
O número já havia sido estimado entre 2.500 e 3.000, mas a rede diminuiu consideravelmente desde 2010, quando Israel amenizou alguns dos limites sobre importações para o enclave.
Seis palestinos morreram em janeiro em implosões de túneis, aumentando o número de mortos entre esses trabalhadores para 233 desde 2007, incluindo cerca de 20 que morreram em ataques aéres israelenses na fronteira, de acordo com um grupo de direitos humanos de Gaza.
* Com informações de EFE, Reuters e National Geographic