A proximidade das negociações entre a UE (União Europeia) e os Estados Unidos para um acordo de livre-comércio pode relegar para o segundo plano as conversas similares que o Mercosul mantém com o bloco europeu, segundo especialistas citados nesta sexta-feira pelo jornal O Globo.
“O clube comercial criado por EUA e UE para fazer frente à China trará um impacto tremendo para o mundo inteiro”, especialmente quando o Mercosul tem “quase paralisadas” suas negociações externas, declarou o presidente do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), José Botafogo Gonçalves.
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As negociações entre a UE e o Mercosul começaram há mais de uma década e ainda não chegaram a um consenso, sobretudo, por conta de diferenças nos setores agrícola e industrial.
Segundo Botafogo, o Brasil tem que agir com rapidez para “não continuar ausente nas grandes negociações comerciais”, e inclusive deveria alterar a norma do Mercosul que obriga os países do bloco a discutirem os acordos externos em conjunto.
“O Brasil é o maior país do Mercosul e, se quiser, pode revogar a resolução e pronto. O que falta é vontade política”, disse Botafogo, que foi embaixador na Argentina e ministro da Indústria e Comércio durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) também sugeriu na semana passada que o Brasil proponha ao Mercosul alternativas que “flexibilizem” a negociação de acordos com outros blocos e países, para que “cada membro caminhe segundo seus próprios interesses”.
O presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, considerou também que o Mercosul “deixou de ser um acordo comercial e virou um acordo ideológico” e corre o risco de “ficar isolado do mundo” com a negociação anunciada pela UE e os Estados Unidos.
A CNA (Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil) também manifestou sua preocupação. O coordenador da área internacional, Thiago Masson, disse ao Globo que a perda de espaço para os EUA nas negociações com a União Europeia é a grande preocupação, uma vez que o mercado europeu é o principal destino dos produtos brasileiros.
“Estamos falando da principal negociação comercial, desde a criação da OMC (1994/95)” e que terá forte impacto em todo o comércio internacional, afirmou Masson.