O cacique Sabino Romero, da etnia Yukpa, referência na luta pela demarcação de terras indígenas na Venezuela, foi assassinado na noite deste domingo (03/03), no Estado de Zulia. Logo após o crime, organizações de direitos humanos e movimentos populares do país exigiram o rápido esclarecimento da morte do líder indígena, além de proteção para a etnia.
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Sabino Romero, cacique do povo Yukpa, era referência na luta venezuelana pela demarcação de terras indígenas
Romero teria sido assassinado por dois motoqueiros encapuzados, que perpetraram uma saraivada de tiros contra o líder indígena. A esposa de Romero, Lucía Martínez, também teria sido ferida na emboscada. Segundo ativistas, o cacique era constantemente perseguido e já havia sofrido atentados de latifundiários, grandes criadores de gado e empresas multinacionais da região de Zulia.
“Sabino Romero sofria uma constante criminalização por parte das autoridades devido à mobilização em defesa dos direitos do povo Yukpa. Ele sofreu privação de liberdade durante 18 meses e era permanentemente intimidado por funcionários policiais”, destacou, em um comunicado, a organização de direitos humanos Provea.
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Em entrevistas à imprensa local, pesquisadores e líderes de movimentos populares qualificaram Romero como um “líder histórico” da luta por terras indígenas na Venezuela, pela preservação do meio ambiente e pela defesa do povo Yukpa. Somente no ano passado, seis indígenas da etnia foram assassinados por atiradores, segundo a Provea.
Investigação
O ministro de Comunicação do país, Ernesto Villegas, informou que as investigações sobre a morte do cacique já foram iniciadas. De acordo com ele, comissões do exército, da guarda nacional e do corpo de investigações científicas, penais e criminalísticas já se transladaram para a zona do assassinato. A ministra venezuelana de Povos Indígenas, Aloha Nuñez, também se encontra em Zulia.
Em entrevista ao site venezuelano La Guarura, indígenas Yukpa chegaram a perseguir os assassinos de Romero, mas o Exército impediu a captura dos atiradores. “Os atiradores fazem a tarefa suja e homicida e o exército os protege intimidando nossos irmãos Yukpas. Esta é uma ordem clara de alto comando, dirigida a eliminar todo sujeito e força popular capaz de interferir nos interesses do negócio da extração mineira na Serra”, acusa o site.
“Não podemos adiantar hipóteses em relação a este fato condenável e repudiável de todos os pontos de vista, mas em geral evidencia a luta por uma justa distribuição de terra”, ressaltou o ministro. Segundo ele, a “Revolução Bolivariana” visibilizou as comunidades indígenas do país, que “passaram a fazer parte da agenda pública e das preocupações coletivas”.
Expropriações
Em 2011, o governo expropriou mais de 15 mil hectares de terras destinadas à criação de gado, reivindicadas pelos Yukpa. Em 2008, durante o programa televisivo Aló Presidente, o presidente venezuelano Hugo Chávez ordenou que seus ministros demarcassem terras indígenas do povo Yukpa na Serra de Perijá, alegando que a Comissão de Demarcação “tem uma dívida” com a etnia.
O avanço na solução do impasse territorial, no entanto, é questionado por organizações e partidos. “O governo nacional tem a principal responsabilidade política neste assassinato, ao incentivá-lo cobrindo com um manto de impunidade todos os crimes perpetrados nos últimos anos contra os Yukpa que lutam por território”, defendeu, em nota o PSL (Partido Socialismo e Liberdade).
Para a sigla, a atual gestão venezuelana também é responsável “por não ter reconhecido o território que os Yukpa exigem, 14 anos depois da aprovação da Constituição que consagra esse direito” e pela “atuação dos militares posicionados na zona”, que resulta em uma grave repressão contra os Yukpa”.
O partido também aponta à coalizão oposicionista MUD (Mesa da Unidade Democrática), “que mantém vínculos com a Federação de Criadores de Gado do município de Machiques, denunciada em numerosas oportunidades pela utilização de atiradores contra os Yukpa”.