Divulgação/Campanha Miguel Carrizosa
Relação com Brasil e volta ao Mercosul foram assuntos abordados pelos candidatos no debate
O debate com os quatro candidatos mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais do Paraguai, realizado neste domingo (17/03), ficou marcado pelos protestos contra a ausência de Aníbal Carrillo, postulante da Frente Guasu, aliança liderada pelo presidente destituído Fernando Lugo.
Cerca de 500 pessoas, muitas com a boca tapada por fita adesiva, se reuniram em frente ao Banco Central do Paraguai, onde foi realizado o evento, para se manifestar contra o que consideram ser uma “censura” contra a aliança esquerdista e seu candidato à presidência, excluído do debate eleitoral.
Representantes da Frente Guasu e do partido dos Trabalhadores já tinham tentado suspender o debate, com a alegação de “discriminação”, mas a petição foi rejeitada pela justiça eleitoral do país. Segundo os organizadores, os quatro participantes foram convidados segundo o critério de melhor posicionamento nas pesquisas de intenção de voto para o pleito que está marcado para 21 de abril.
Iniciado com atraso e interrompido devido a cortes de luz – sobre os quais a empresa estatal de energia sinalizou haver indícios de “sabotagem” -, a exposição de propostas para futura administração do país contou com a participação dos candidatos Horacio Cartes, do Partido Colorado, Efraín Alegre, do PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico), Miguel Carrizosa, do Partido Patria Querida, e de Mario Ferreiro, do esquerdista Avança País.
Continuidade no Mercosul
O debate acabou abordando questões econômicas como o impulso à criação de empregos, da descentralização da administração, do fomento à indústria, do desenvolvimento da infra-estrutura, além da venda da energia excedente produzida pelo país.
Outro aspecto discutido, e motivo de consenso entre os candidatos, foi a necessidade do Paraguai permanecer no Mercosul, do qual o país foi suspenso desde o impeachment parlamentar que destituiu Fernando Lugo, em junho do ano passado. Em tom nacionalista, o liberal Efraín Alegre afirmou que a volta do Paraguai ao bloco deve ser feita com condições, baseada em “uma linha de respeito à soberania, normas e tratados”.
Para Ferreiro, por sua vez, o país nunca deveria ter promovido o julgamento político ao presidente Lugo, que teve como conseqüência sua exclusão temporária do bloco. Segundo ele, seu país “vai voltar para o Mercosul, com suas atribuições e obrigações. E, além disso, reconhecido como um par”, garantiu.
NULL
NULL
O candidato colorado, por sua vez, prometeu a volta do país não somente ao bloco comercial como à Unasul (União das Nações Sul-Americanas). Já Carrizosa, do Partido Patria Querida, propôs um novo mercado comum no qual “o jurídico e não o político” seja a prioridade, em clara alusão a declarações do presidente uruguaio José Mujica, dias após a suspensão do Paraguai, de que “o político supera longamente o jurídico”.
Relação com o Brasil
Além do Mercosul como um todo, a relação entre Paraguai e Brasil também foi um dos temas mencionados no debate eleitoral, principalmente no que diz respeito à postura nacionalista diante à importante economia vizinha. Para Alegre, é importante que seu país passe do status de sócio comercial a sócio econômico: “Temos que vender nossa energia para o Brasil, temos condições de competitividade”, afirmou. Cartes afirmou, por outro lado, que interessa sentar com o país vizinho para “negociar os interesses em comum”.
O candidato do Partido Pátria Querida acredita que, nas relações com o governo de Dilma Rousseff, é preciso demonstrar “muito patriotismo” no momento da negociação. Já o ex-apresentador de televisão Mario Ferreiro defende a luta contra o desequilíbrio na relação, além da reivindicação de compensações financeiras que “correspondem” ao país pela energia produzida pela hidrelétrica de Itaipu.
Melhor posicionados
O debate foi realizado um dia antes da divulgação, nesta segunda-feira (18/03), de uma nova pesquisa eleitoral, elaborada pelo instituto First Análisis y Estudios para o jornal local ABC Color. O estudo posiciona o colorado multimilionário Horacio Cartes como primeiro na disputa presidencial, com 37,3% das intenções de voto.
O segundo lugar seria o liberal Efraín Alegre, do PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico), que aparece com 30,3%, uma diferença de cerca de 140 mil votos em relação a Cartes. Mario Ferreiro, do Avança País – movimento desprendido do Frente Guasu, quando ainda se considerava uma nova candidatura do ex-presidente Fernando Lugo – figura em terceiro lugar, com 9,5%.
De acordo com a pesquisa, Miguel Carrizosa, do Partido Pátria Querida, aparece em quarto nas intenções de voto, com 3,2%, com uma diferença de 0,1 ponto percentual do quinto posicionado, do partido Unace (União de Cidadãos Éticos), Lino Oviedo – filho do general homônimo falecido em fevereiro em um acidente de helicóptero.
O candidato pela Frente Guasu, Aníbal Carrillo, aparece em sexto, com apenas 1,9% das intenções de voto. O número de indecisos chega a 13,2%, segundo a pesquisa, e cerca de 0,5%, o equivalente a aproximadamente 10 mil eleitores, afirmou que não votaria em nenhum dos candidatos inscritos.
Um novo debate entre os quatro candidatos melhor posicionados está marcado para o próximo domingo (24/03).