Estudantes cipriotas protagonizaram a primeira grande manifestação contra a troika (FMI, BCE e Comissão Europeia) desde o início da crise bancária no país. Um dia após o anúncio do severo pacote de austeridade e empréstimo assinado pelo governo, que resultará no fechamento do segundo maior banco do Chipre, milhares de pessoas saíram às ruas de Nicósia. Além do fechamento do Banco do Chipre, também foi estabelecida uma taxa de confisco de 30% para depósitos acima de 100 mil euros.
“Estamos aqui para demostrar que a juventude do Chipre tem voz e quer resistir a todas essas medidas. O futuro é nosso, depende de nós e lutaremos por um futuro melhor”, afirmou Elisabet Xenodoju, de 18 anos, à Agência Efe. Posicionados atrás de um grande cartaz que dizia “Seus erros, nosso futuro”, os jovens estudantes, principalmente do ensino secundário – de escolas públicas e privadas –, se reuniram após convocatória nas redes sociais.
Em seguida, foram acompanhados por centenas de outros cipriotas descontentes com as decisões do governo, como funcionários de bancos. Eles se manifestaram primeiro em frente ao Parlamento e depois seguiram para o palácio presidencial.
“A troika está roubando nosso dinheiro. Todas as famílias estão perdendo dinheiro”, disse Markos, de 17 anos. Outros jovens seguravam cartazes com dizeres como “Não hipotequem nosso futuro com a troika” e “Hitler e Merkel são a mesma m*”. Muitos temem que o fim da economia bancária praticada até agora e o “corralito” aplicado pelo governo provoquem um empobrecimento do Chipre. “Vêm e tentam nos privar do que queremos. Como nossos país irão pagar pelos nossos estudos?”, se queixou Andonikí, argumentando que a manifestação também pedia “uma sociedade mais limpa e sem corrupção.”
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Irini e Kristal, de 19 anos, explicaram à Efe que, “por culpa da troika e do governo, que aceitou as exigencias”, temem por seu futuro, pois não sabem se, após concluir os estudos, conseguirão trabalho, ou até mesmo dinheiro, depois do confisco das poupanças.
“Temos medo de que nossas famílias fiquem sem dinheiro para nossos estudos universitários”, falou Marios. Ao seu lado, o amigo, Stelyos, dividia as responsabilidades: “Todos cometeram erros”, mas “a culpa do que está acontecendo é sobretudo da troika e da Europa.”
Dimitris, de 17 anos, reclamou da “guerra econômica” que, em sua opinião, está sendo levada a cabo pela Alemanha contra a Europa. “Pode ser que, se sairmos do euro, fiquemos numa situação pior, mas ao menos poderemos establecer nossas próprias regras”, disse o jovem.
Renúncia
O presidente do Banco do Chipre, Andreas Artemis, ofereceu a renúncia nesta terça-feira, de acordo com uma fonte do banco. “Ele mandou uma carta de renúncia esta manhã que será examinada pelo Conselho de Diretores a se reunir nesta tarde”, disse um funcionário do banco.
Após retornar de negociações de última hora em Bruxelas, o presidente cipriota, Nicos Anastasiades, afirmou na noite de segunda-feira que o plano de resgate é “doloroso”, mas essencial. Ele concordou em fechar o segundo maior banco do país, o Popular do Chipre, e impor fortes perdas a grandes depositantes, muitos dos quais russos, depois que o grande setor financeiro do Chipre complicou-se devido à falta de rendimento dos investimentos na vizinha Grécia.
Ontem, comentários do ministro holandês das Finanças, Jeroen Dijsselbloem, também presidente do Eurogroupo, de que o resgate do Chipre pode servir como um modelo para crises em outros locais levou os mercados a entenderem a mensagem como um sinal de que contribuições do setor privado devem ter um papel maior em futuros resgates.