A morte da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, ocorrida na madrugada desta segunda-feira (08/04) devido a um acidente vascular cerebral, repercutiu entre os principais líderes mundiais. Chefes de Estado e lideranças conservadoras do passado lamentaram o falecimento e enalteceram o que consideram ser seu “legado liberal”. Já a maioria dos políticos de esquerda e centro-esquerda respeitou o luto, mas contestou as decisões tomadas em seu governo.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que ela foi uma “campeã da liberdade” e uma “verdadeira amiga” que defendeu “sem complexos” a aliança entre o Reino Unido e os EUA.
Agência Efe
Britânicos colcam flores em frente à 10 Downing Street, sede oficial do governo britânico
Com a morte de Thatcher, “o mundo perdeu um de seus grandes campeões da liberdade e os Estados Unidos perderam uma verdadeira amiga”, destacou Obama em comunicado enviado pela Casa Branca. “Muitos de nós nunca a esqueceremos lado a lado com o presidente (Ronald) Reagan, lembrando ao mundo que não somos arrastados pelas correntes da história, mas podemos dar a elas forma com convicção moral, inquebrantável coragem e vontade de ferro”, enalteceu o democrata.
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, a qualificou como “uma das maiores líderes da política mundial na época em que estava à frente do Reino Unido”. “Jamais esquecerei sua contribuição para a superação da divisão da Europa e ao fim da Guerra Fria”, ressaltou a líder alemã, do conservador CDU (União Democrata-Cristã).
Segundo ela, Thatcher “serviu de exemplo para muitos por ter sido a primeira mulher a ocupar ‘o cargo democrático mais importante que existe’, em um tempo em que isso ainda não era algo tão comum, e ainda desempenhar sua função de maneira brilhante”.
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O ex-chanceler alemão Helmut Kohl, também do CDU, disse, por meio de comunicado, que sempre apreciou a ex-primeira-ministra britânica “por seu amor à liberdade, honestidade intelectual e clareza”.
O ex-chanceler lembrou que sua relação com Thatcher sempre foi especial, cheio de altos e baixos, mas que “apesar de todas as diferenças em determinados temas conflituosos, tivemos até o final um tratamento respeitoso entre nós”.
Agência Efe
Exemplar do jornal britânico The Evening Standard noticiando falecimento é pichado com a frase “até que enfim”
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, lamentou nesta segunda-feira a morte da Thatcher, que definiu como “uma forte amiga” de Israel e do “povo judeu”. “Lamentamos a morte da ex-primeira-ministra do Reino Unido, a baronesa Thatcher. Foi uma grande líder, uma mulher de princípios, decisiva, forte, uma grande mulher”, afirmou.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso destacou que a política conservadora será lembrada tanto por suas “contribuições” como pelas “reservas” em relação à União Europeia. “O Reino Unido, sob a liderança de Thatcher, apoiou muito a ampliação da União Europeia”, destacou o político português.
No Chile, o presidente Sebastián Piñera afirmou que o falecimento de Thatcher (importante aliada do regime de Pinochet) não é só uma grande perda para o Reino Unido, mas para o mundo e que teve “grande contribuição para a queda do muro de Berlim, da Cortina de Ferro e logrou para que a liberdade e a democracia pudessem chegar a todos os rincões do mundo”.
Lech Walesa, ex-líder sindical e presidente da Polônia, a elogiou e lembrou que ela “contribuiu para a queda do comunismo da Polônia e do Leste da Europa”, e disse que rezará por ela. O último líder da União Soviética, Mikhail Gorbatchev, disse que ela ficará na história.
Republicanos
Os ex-presidentes norte-americanos George Bush (1989-1993) e George W. Bush (2001-2009) a definiram como uma “líder inspiradora” e “uma das mais ferozes defensoras” da liberdade e do livre mercado, nas palavras do primeiro.
“Ela foi um grande exemplo de força e personalidade, além de uma grande aliada que fortaleceu a relação entre Reino Unido e Estados Unidos”, acrescentou Bush filho. O ex-presidente e sua esposa, Laura, também se declararam “entristecidos” pela morte de “uma mulher forte e uma amiga”.
Outros políticos republicanos dos EUA também lembraram a figura da conservadora: o ex-secretário de Estado Henry Kissinger, por exemplo, qualificou Thatcher como uma pessoa “de fortes convicções”, com “grandes habilidades de liderança e uma personalidade extraordinária”. Já Condoleezza Rice, que foi secretária de Estado entre 2005 e 2009, indicou que Thatcher foi sua fonte de inspiração e que as gerações posteriores se fortalecerão com a lembrança de sua “paixão pela liberdade”.
Para o presidente da Câmara dos Representantes do Congresso, John Boehner, a “Dama de Ferro” estabeleceu “os princípios conservadores” na Europa ocidental através de um “trabalho duro e responsabilidade”.
França dividida
O palácio do Eliseu, sede da Presidência francesa, reagiu friamente sobre o acontecimento através de um comunicado, saudando as relações “francas e leais” entre a ex-premiê e a França, assim como o diálogo “construtivo e frutífero” com o então presidente socialista François Mitterrand (1981-1995). Já o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault lembrou dos danos econômicos e sociais e da liberalização excessiva em seu período de governo.
O líder do Partido de Esquerda, Jean-Luc Mélenchon, foi mais direto e publicou em sua conta no microblog Twitter: “Margaret Thatcher vai conhecer o inferno que ela fez com os mineiros”.
Por outro lado, o líder da direita francesa, Jean-François Copé, prestou homenagem a “uma líder excepcional que conseguiu, em todas as circunstâncias, defender suas crenças e vencer, sem se preocupar excessivamente para pesquisas de opinião “. O presidente da UMP (União por um Movimento Popular) insiste que a França precisa passar por “reformas estruturais” e “uma modernização espetacular da economia”. O ex-presidente Jacques Chirac (1995-2007) destaca que, apesar das diferenças, sempre “houve respeito” entre ambos, enquanto Valéry Giscard d’Estaign (1974-1981).
Nas Malvinas
A Assembleia Legislativa das Ilhas Malvinas expressou pesar pela morte e destacou a “decisão” e “apoio” da premiê durante a guerra do Atlântico Sul (1982) contra a Argentina.
Em comunicado divulgado hoje e assinado por Mike Summers, em nome da Assembleia, os habitantes das ilhas afirmam que “sentirão falta de sua amizade e apoio” e que “sempre seremos gratos pelo que ela fez por nós”.
Thatcher será “sempre lembrada” por “sua decisão de enviar uma força militar para libertar nosso lar da invasão argentina em 1982. Nosso sincero agradecimento ficou demonstrado em 1983 quando lhe foi concedida (a condecoração) Liberdade das Ilhas Falklands (como chamam os moradores chamam as Malvinas)”, afirma a nota.
(*) com agências de notícias internacionais