Exigência fundamental do Mercosul e da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) para o fim da suspensão ao Paraguai nos blocos, a transparência nas eleições presidenciais não foi constatada pelos Estados Unidos em 2008, quando Fernando Lugo terminou com a sequência de mais de seis décadas do Partido Colorado no poder.
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Três semanas antes do último pleito presidencial no Paraguai, a embaixada norte-americana em Assunção fez uma análise dos três cenários possíveis. Lugo liderava as pesquisas de intenção de voto com uma pequena vantagem em relação à candidata colorada, Blanca Ovelar, e ao general Lino Oviedo (Unace). Em documento oficial vazado pelo Wikileaks, o então embaixador dos EUA na capital paraguaia, James Cason, alertou sobre a possibilidade de votos comprados definirem a eleição.
[Lugo durante encerramento de sua campanha em 2008]
“Podemos esperar para ver compra de votos durante as próximas semanas. No dia da eleição, devemos ver forte afluência às urnas, acompanhada por soluços organizacionais e pequenos incidentes. Nós não esperamos ter clareza de um resultado aceito por todos os candidatos durante a noite de eleição”, escreveu Jason em 31 de março de 2008.
“Nas próximas semanas, todos os lados tentarão se envolver em compra de votos, assim como a compra (ou tentativa de compra) dos representantes dos partidos políticos que se sentarão em cada assembleia de voto no dia da eleição. Ninguém faz isso melhor do que os colorados”, acrescentou o diplomata. As fraudes ocorreriam por meio da “alteração das atas eleitorais”, o que é “fácil de fazer e difícil de provar”.
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No documento, também havia outras críticas sobre o processo eleitoral paraguaio, classificado como “complicado” por conter um “número recorde de locais de votação usando cédulas de papel”. Além disso, os EUA sugeriam a contratação de uma auditoria internacional para aumentar a transparência e a legitimidade do pleito.
Instabilidade na coalizão de Lugo
Na ocasião, o embaixador norte-americano também já adiantava que Lugo tinha dificuldades para liderar sua coalizão heterogênea, que, além da Frente Guasu (união de movimentos de esquerda), também contava com o PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico).
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Depois de mais de 20 tentativas do Congresso para instalar um julgamento político contra Lugo, o presidente foi deposto em junho de 2012 e seu cargo passou a ser ocupado por Federico Franco, seu vice, do PLRA, que compactuou com o golpe de Estado.
[O embaixador norte-americano James Cason]
“O maior desafio de Lugo é lidar com sua diversa aliança, que inclui o PLRA, de centro-direita, e vários partidos e movimentos de esquerda. Dos três principais candidatos, Lugo é o mais vulnerável a novas ideias, inclusive da Venezuela”, informou Jason.
Com Franco no poder, o Paraguai foi suspenso da Unasul e do Mercosul. Para derrubar essas punições, o país depende da realização de eleições “transparentes e democráticas” neste domingo (21/04). O colorado Horacio Cartes e o liberal Efraín Alegre são os candidatos favoritos.