Reprodução/Twitter
O vice-presidente do canal venezuelano Globovisión, Carlos Zuloaga, anunciou nesta quinta-feira (02/05) que a venda da emissora privada, anunciada em março, deve ser concretizar “nas próximas horas”. De linha opositora declarada e transmitida em TV aberta, a Globovisión foi um dos quatro canais que apoiaram o frustrado golpe de Estado contra Hugo Chávez, em 2002. De acordo com informação do site da emissora, não há previsão de uma mudança da grade de programação atual.
“Falou-se em manter todos os programas de opinião que temos até o momento”, afirmou Zuloaga, cuja família detém 80% do controle acionário do canal que, segundo ele, será vendido majoritariamente ao economista Juan Domingo Cordeiro – ligado ao negócio de ações, bancário e securitário –, além de Raúl Gorrín Belisario e Gustavo Perdomo, também empresários do ramo de seguros.
O anúncio foi recebido, no entanto, com “alerta” pelos profissionais do canal, muitos dos quais comungam com a linha opositora. Isso devido à designação do jornalista Vladimir Villegas Poljak (FOTO), de 49 anos, irmão do atual ministro da Comunicação da Venezuela, como diretor do canal. Ex-repórter de jornais locais, como El Universal, Vladimir também foi deputado, vice-chanceler em diferentes países, e embaixador no México e no Brasil durante a gestão chavista.
Com a carreira iniciada no jornal do PCV (Partido Comunista da Venezuela), Villegas chegou à presidência da televisora estatal VTV (Venezuelana de Televisão). Atualmente mantém uma coluna semanal no jornal El Nacional e é âncora de programas de rádio. Afastado do chavismo, o novo diretor da Globovisión é um dos dirigentes da sigla Avançada Progressista, integrante da coalizão opositora MUD (Mesa de Unidade Democrática), que lançou Henrique Capriles como candidato para as eleições presidenciais de 7 de outubro e 14 de abril.
Ao confirmar o convite, Vladimir, porém, disse que não se pode continuar fazendo um jornalismo “unilateral” no canal. Em seu programa em uma rádio local afirmou que a Globovisión não será mais a “casa de um partido político”: “É um desafio difícil, não é simples. Trata-se de navegar em meio a um país muito polarizado, dividido, com uma situação de animosidade política bem complicada”, opinou.
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Segundo ele, seu objetivo é “um jornalismo que trabalhe por informação”, para a “reconciliação”, “sem fazer jornalismo bobo, que não caia no desrespeito”. O irmão de Villegas esclareceu que a mudança deve ser realizada “dentro da continuidade”: “Não se trata de fazer jornalismo domesticado nem complacente”, explicou. O presidente venezuelano Nicolás Maduro também se referiu à venda do canal, pedindo “um tipo de televisão que diga a verdade, humana, que não semeie o ódio”.
Após a designação de Vladimir, o apresentador Leopoldo Castillo, que também passará para a diretoria do canal, manifestou esperança de que, com as mudanças, a emissora “possa ter acesso a fontes oficiais”, mas esclareceu que o dia em que “não possa continuar com o espírito da Globovisión, “até logo”. “Vem um período em que temos que estar muito atentos ao que acontece, porque essa janela [de comunicação] não pode ser fechada”, afirmou em seu programa.
A apresentadora Carla Angola, em consonância com outros apresentadores, afirmou que a Globovisión “nunca foi um partido político”. “Fomos muito críticos à gestão atual, como deve ser, porque o jornalista sempre tem que estar na calçada oposta”, justificou, falando que o pedido de demissão, nesta quinta, da diretora de Investigação e Opinião do canal, Lisber Ramos Sol foi um “alarme”. “Agora estou atenta (…) tenho sérias dúvidas sobre o que vai acontecer com a Globovisión”, expressou. “Mas aqui vou permanecer enquanto puder dizer o que acho que devo dizer (…) se em algum momento isso se entorpece, também vou embora”.
Apresentadores do programa “Buenas Noches” seguem orientação de Capriles para dançar salsa contra posse de Maduro:
Venda
Quando anunciou, em março, os planos de venda, o presidente do canal, Guillermo Zuloaga afirmou que a situação se devia à atual inviabilidade “jurídica, política e financeira”, atribuindo a culpa ao governo. Zuloaga fugiu para os Estados Unidos em 2010, depois de ser acusado de usura e associação criminosa. Em 11 de abril de 2002, participou da manipulação midiática que precedeu o golpe contra Chávez, eleito em 1998.
No comunicado recente sobre a venda, escreveu: “No ano passado, tomei a decisão de fazer o que estivesse em nosso poder, colocando em risco o capital dos acionistas e conscientes das implicações que essa atitude poderia trazer, para fazer com a oposição ganhasse as eleições de outubro”, expressou. Segundo ele, essa era a “oportunidade” para “recuperar” o país. “Na Globovisión, fizemos tudo extraordinariamente bem e quase conseguimos, mas a oposição perdeu”, escreveu.
Um dos fatores que podem ter influído na decisão é a quantidade de multas e processos acumulados pela Globovisión por parte da Conatel (Conselho Nacional de Telecomunicações), órgão regulador das comunicações na Venezuela. O mais recente se deve à omissão de partes da Constituição ao abordar, em seus programas jornalísticos, a discussão sobre a posse de Chávez em 10 de janeiro desse ano. Em 2012, uma multa se deveu à difusão de mensagens que incitaram a “ansiedade” entre a população durante um motim em uma penitenciária, em 2011.