Os ataques aéreos israelenses nos últimos dias contra um complexo militar sírio perto de Damasco provocaram fortes protestos da comunidade internacional.
Os países árabes, a Turquia, a Rússia, a Venezuela e até mesmo grupos sírios de oposição ao regime de Bashar al Assad condenaram a ação, pedindo uma repreensão desses atos através da ONU (Organização das Nações Unidas). Já os Estados Unidos, que têm poder de veto no Conselho de Segurança da entidade, não apoiaram explicitamente a medida, mas indicaram respaldo.
Condenações
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, denunciou nesta terça-feira (07/05) que os ataques aéreos israelenses na Síria são inaceitáveis e só ajudam a reforçar a posição de Assad. Para ele, os bombardeios “servem em bandeja de ouro” uma oportunidade “ao regime ilegal de Assad” para permanecer no poder. “Nenhum pretexto pode justificar esta operação”, disse durante um discurso no Parlamento, no qual pediu à ONU que atue para acabar com os ataques.
O Líbano, que faz fronteira com Israel e Síria, também condenou os ataques aéreos e apelou ao Conselho de Segurança da ONU para evitar novas violações de seu espaço aéreo.
Agência Efe
Soldados israelenses patrulham a fronteira com a Síria, no território ocupado das Colinas de Golã
Por sua vez, o chanceler russo, Sergei Lavrov, falou ao telefone com o homólogo sírio, Walid Al Moualem, e afirmou que a soberania e integridade territorial não podem ser violadas.
A China pediu na segunda-feira (06) que as partes implicadas no conflito sírio “atuem com moderação”. “Nos opomos ao uso de armas e achamos que a soberania de qualquer país tem que ser respeitada”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Hua Chunying, em entrevista coletiva.
No entanto, Hua não condenou explicitamente os ataques e nem pediu sua cessação, em um dia no qual o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, chegou a Xangai para realizar uma visita oficial de cinco dias.
O secretário-geral da Liga Árabe, Nabil El Araby, condenou o ataque de Israel e fez um apelo ao Conselho de Segurança da ONU para que adote medidas contra a escalada do conflito. Segundo ele, os ataques são “uma agressão flagrante e uma violação perigosa da soberania de um Estado árabe”.
A Presidência egípcia, por sua vez, afirmou em comunicado que essas incursões aéreas eram “uma violação dos princípios e do direito internacionais e podem aumentar a complexidade da situação e ameaçar a segurança e a estabilidade da região”.
Aliado de Assad, o Irã disse no domingo (05) estar pronto para “treinar” o Exército sírio, se necessário. A declaração foi dada pelo general Ahmad-Reza Pourdastan, comandante do Exército. “Estamos ao lado da Síria (…) mas não participaremos ativamente de operações”, disse. O general destacou que “com a experiência que tem nos confrontos com o regime sionista, a Síria pode se defender e não precisa de ajuda externa”. O porta-voz da chancelaria persa, Ramin Mehmanparast, condenou “os ataques do regime sionista e pediu aos países da região a reagir com sabedoria a essas agressões”.
NULL
NULL
A Presidência da Venezuela emitiu uma nota na segunda-feira (06/05) em que também condenou energicamente o suposto ataque de domingo. “Essas ações se constituem em claros atos de guerra, que incluem a violação do espaço aéreo de duas nações (Síria e Líbano), violação dos tratados internacionais, bombardeio e destruição de setores residenciais, científicos e militares, e a morte de cidadãos sírios”.
Sem citar Israel, a União Europeia alertou para o risco de o conflito sírio se alastrar pela região. “Seguimos com grande inquietação o evoluir da situação na Síria e a possibilidade de o conflito se alastrar a regiões para além do território”, disse Michael Mann, porta-voz da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, em declarações a jornalistas em Bruxelas. “Lançamos um apelo a todas as partes para encontrarem uma solução política. É a única via possível”, afirmou.
Oposição síria
O Comitê de Coordenação Nacional para uma Mudança Democrática na Síria, maior força da oposição síria, condenou o bombardeio na segunda-feira (06/05). O líder do grupo, Raja al-Nasser, pediu à comunidade internacional que “trave” as ações de Israel.
Oficialmente, Israel não confirma nem nega a incursão aérea ao país vizinho. Mas indica que o objetivo da medida foi impedir o fornecimento de mísseis iranianos ao grupo político e militar libanês Hezbollah, inimigo declarado de Israel, para um eventual ataque ao país.
Tel Aviv quer “evitar o crescimento das tensões com a síria, precisando que, se ações são postas em prática, visam apenas o Hezbollah e não o regime sírio”, disse o deputado Tzacho Hanegbi, próximo ao primeiro ministro Benjamin Netanyahu.
Agência Efe
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry (centro), em reunião com o chanceler russo Serguei Lavrov e o presidente Vladimir Putin
“Não há ventos de guerra”, disse na segunda-feira (06/02) o general israelense Yair Golan, comandante das forças israelenses na frente sírio-libanesa, enquanto corria com seus soldados. “Vocês veem tensão? Não há tensão. Eu pareço tenso para vocês?”, disse ele, segundo relato do site Maariv NRG.
O primeiro ataque foi na sexta-feira (03) passada contra um comboio, e o segundo na madrugada desta segunda-feira (06) contra várias instalações militares próximas a Damasco. Residentes e fontes da oposição disseram que os aviões israelenses atingiram tropas sírias de elite no vale do rio Barada, que flui através de Damasco, e na montanha Qasioun, com vista para a capital. Eles afirmaram que os alvos incluíram defesas aéreas, guardas republicanos e um complexo militar. O número de soldados sírios mortos nas ações é de pelo menos 42 militares, segundo informações do Observatório Sírio de Direitos Humanos, órgão da oposição ligado aos opositores.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou no sábado (04), antes do segundo ataque, que Israel tem o direito de se defender da transferência de armas da Síria, mas se negou a comentar a informação de que Israel atacou o território sírio.
“Não vou fazer comentários sobre o que ocorreu na Síria ontem”, disse Obama ao canal de TV norte-americano Telemundo. “Mas acredito que os israelenses, de maneira justificada, devem se proteger contra a transferência de armas sofisticadas para organizações terroristas como o Hezbollah”.
Panos quentes
Em visita a Moscou nesta terça-feira (07), o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse ao presidente russo, Vladimir Putin, que os EUA e a Rússia possuem interesses mútuos na Síria, entre eles promover a estabilidade regional e prevenir a proliferação do extremismo.
No início de uma reunião no Kremlin, Kerry disse a Putin que o presidente dos EUA, Barack Obama, acredita que as duas nações podem cooperar em relação a Síria, Irã, Coreia do Norte e em questões econômicas.
(*) com agências de notícias internacionais