O ex-ditador argentino Jorge Rafael Videla, primeiro governante da ditadura argentina condenado a prisão perpétua por delitos de lesa-humanidade, morreu nesta sexta-feira de causas naturais em uma prisão da província de Buenos Aires, aos 87 anos.
Nascido em 2 de agosto de 1925 na cidade portenha de Mercedes, no seio de uma família com forte marca política, começou sua carreira militar em 1942. Após se licenciar como oficial, chegou em sua carreira à sombra do governo da presidente María Estela Martínez de Perón – terceira esposa do três vezes governante Juan Domingo Perón. Em 1975, foi nomeado comandante em chefe do Exército.
Em 24 de março de 1976, junto com os oficiais Emilio Massera e Orlando Agosti, liderou o golpe de estado que derrubou a presidente e abriu passagem para uma ditadura de sete anos. Durante seus cinco anos de gestão, organizou a Copa do Mundo de Futebol de 1978 e esteve a ponto de declarar guerra ao Chile por causa de um conflito de limítrofe. A crise foi superada, no entanto, graças à mediação do papa João Paulo II.
Com o liberal José Alfredo Martínez de Hoz como ministro da Economia, instrumentou uma política baseada na abertura dos mercados e a liberalização da legislação trabalhista. De 1976 a 1981 na Argentina os salários foram congelados e foi imposta uma abertura tarifária que, em vez de aumentar a competitividade da indústria nacional, acabou por destruí-la.
Com a economia em recessão, uma crescente inflação e a moeda desvalorizada, Videla foi sucedido à frente da Junta pelo general Roberto Viola em 29 de março de 1981. Após o restabelecimento da democracia, foi detido em 1984 e condenado à prisão perpétua ao ano seguinte.
Em 1990, foi beneficiado com um indulto ditado por Carlos Menem e anos depois o juiz espanhol Baltasar Garzón o incluiu em uma relação de militares e civis argentinos cuja captura internacional foi ordenada por crimes cometidos durante a ditadura.
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Voltou a ser aprisionado em 1998 por ordem de um juiz portenho que averiguou sua apropriação de filhos de vítimas da repressão ilegal.
Poucos dias após sua detenção, um tribunal aceitou que Videla, que então tinha 72 anos, cumprisse prisão domiciliar, benefício que as leis argentinas outorgam aos maiores de 70, até que no final de 2008 foi levado para uma prisão militar.
Desde então foi objeto de vários julgamentos por atuações durante sua ditadura e que, sentença após sentença, foi declarado culpado por crimes contra a Humanidade.
Videla foi o primeiro governante da ditadura argentina condenado à prisão perpétua, quando em 2010 a Justiça o declarou culpado pelo fuzilamento de 30 presos políticos em 1976.
Sua última condenação remonta a julho de 2012 quando foi condenado a 50 anos de prisão pelo roubo de bebês dentro de um plano sistemático executado pela ditadura.
Há alguns dias, em 6 de maio, Videla enfrentou seu último processo, desta vez por crimes de lesa-humanidade na província de Rosario.