Deputados do bloco opositor venezuelano MUD (Mesa de Unidade Democrática) divulgaram uma gravação de cerca de 50 minutos na qual supostamente o apresentador de um programa transmitido pela emissora estatal VTV (Venezuelana de Televisão), Mario Silva, diz a um agente do departamento de inteligência que o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Diosdado Cabello, estaria por trás de uma “conspiração” contra Nicolás Maduro.
Na conversa, divulgada nesta segunda-feira (20/05) e que teria acontecido dias após as eleições de 14 de abril, Silva fala com um cubano identificado pela oposição como sendo Aramis Palacios. Ainda sobre Cabello, o jornalista chavista o acusa de desvio de fundos e lavagem de dinheiro em órgãos governamentais, como no Cadivi (Comissão de Administração de Divisas), destinado à concessão de dólares para empresários locais e no Seniat (Serviço Nacional Integrado de Administração Aduaneira e Tributária), em um esquema que envolveria outros nomes mencionados na gravação.
De acordo com o telefonema, Silva teria recebido a informação de que diante da morte do presidente venezuelano Hugo Chávez, um setor governista considerava que Maduro não deveria se candidatar à presidência: “A ideia era que Maduro dissesse: não, não tenho capacidade para fazer isso, e se criassem as condições para que (…) Cabello fosse o candidato e começasse a governar”, teria dito o jornalista. Cabello, no entanto, teria afirmado posteriormente: “Quero controlar, mas não quero ser presidente”.
Efe (20/05/2013)
Maduro anuncia planos do governo no Palácio de Miraflores. Ele ganhou a presidência em 14 de abril, em disputa com Capriles
Na fala atribuída ao apresentador, há críticas também à primeira-dama do país, Cilia Flores, que segundo ele não atende o ministro da Defesa, Diego Molero. “Tenho medo, Palacios, de que Nicolás esteja sendo manipulado por Cilia. Este é um continente de caudilho, compadre, e a mulher tem que estar na sombra”, teria dito Silva, que também classificou como “ladrões” ligados a Flores o atual presidente da VTV, Gustavo Arreaza, além da deputada Tania Díaz que apresenta um programa no canal.
O áudio ainda indica que uma assessora da primeira-dama perguntou a Silva se Molero planejava um golpe contra Maduro. Negando essa hipótese, Silva teria dito ao interlocutor: “Tem uma situação grave de boataria, de rumores que estão nos ferrando”. Segundo ele, é fundamental que o ministro, a quem, no áudio, denomina como um “operador”, permaneça na pasta. “Se Molero cair, Diosdado tomará o ministério”, justifica.
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Silva também teria analisado a dimensão do apoio ao chavismo dentro das Forças Armadas. “Temos este Alto Comando logicamente em uma situação de quase reforma, temos uma série de generais que são nossos, acho inclusive que muitos deles estão desarticulados, e temos os quadros médios que desprezam, odeiam a atitude de Diosdado, viu? E claro os praças, sargentos, todo o batalhão, que não vai se deixar enganar quando vir que alguns destes querem dar um golpe”.
“Montagem”
Em seu perfil no Twitter, o apresentador chavista classificou o suposto grampo como uma “boa montagem”. Em seu programa televisivo noturno La Hojilla, emitiu um comunicado gravado, no qual rechaça “categoricamente” a gravação, que qualificou de “completamente falsa”. Segundo ele, além da tentativa de destruir sua reputação e a credibilidade de seu programa, a “montagem” é uma investida contra o povo cubano e contra Fidel e Raúl Castro.
“Vamos explicar: estou falando de nove anos de áudios e vídeos do La Hojilla”, disse Silva em relação ao seu programa, “a construção [do vídeo] se pode fazer muito facilmente (…) com os áudios do programa puderam extrair palavras para elaborar um falso discurso”. Silva ressaltou que o “suposto cubano” apresentado no áudio “não fala, não troca nenhum tipo de expressões” e que utilizou o termo “vaina” um modismo venezuelano. “Por outro lado a oposição sempre disse que o que eu dizia aqui era mentira, e agora um suposto áudio meu é uma prova contra a Revolução Bolivariana”, expressou.
O apresentador se colocou à disposição das instituições de Justiça da Venezuela “para que investigue o que tenha que investigar”Silva disse que a divulgação do áudio faz parte de um plano que atende interesses internacionais, como do Mossad, agência de inteligência israelense, à qual já havia feito referência na rede social.
Muito citado na gravação divulgada, Cabello escreveu em sua conta noTwitter: “Unidade, Luta, Batalha e Vitória”, em alusão ao último discurso de Chávez, antes da internação do então presidente venezuelano em Cuba, no qual pedia à população que esta fosse a resposta “frente a qualquer dificuldade”. Apesar de não se referir diretamente ao áudio, Maduro disse horas depois da difusão do áudio que “nem a intriga, nem a fofoca, nem a perversidade, nada nem ninguém pode nos tirar do rumo de fortalecer a pátria, suas bases morais”.
Reprodução/Twitter
Durante a noite, Maduro se dirigiu à imprensa local, no Palácio de Miraflores, ao lado de Cabello, em clara mensagem de unidade, afirmando que ontem manteve reuniões com o alto comando do governo, que segundo ele trabalha de maneira “unitária”. Posteriormente, Cabello afirmou aos jornalistas que a oposição “fez uma festa para ver o que conseguia”. “O país se sentiria bem com provas e não com shows”, afirmou.
“Demonstramos ao país e ao mundo a unidade monolítica da força revolucionária em torno, no caso do companheiro Nicolás Maduro ao qual damos todo o nosso apoio. Não há nenhuma maneira, forma, circunstância de que a força verdadeiramente chavista se afaste”, disse Cabello, ressaltando o discurso de coesão no governo. “Para nós isso é uma questão de vida, não há modo de que eles dividam o chavismo”, garantiu.
Oposição
O ex-candidato opositor Henrique Capriles, por sua vez, retomou a persistente acusação opositora de que existe ingerência de Cuba em assuntos internos venezuelanos. “É muito grave a confissão sobre elementos do governo cubano dentro de nossa FANB [Força Armada Nacional Bolivariana]. Isso é inaceitável para os venezuelanos”, escreveu, também na rede social. Segundo ele, o áudio “deixa revelado o podre do governo” quanto aos supostos casos de corrupção.
A origem da gravação – divulgada em uma coletiva que vinha sido anunciada por Capriles desde domingo, gerando expectativa – não foi revelada e elementos de comprovação da autenticidade do material também não foram entregues pelos opositores, que pedem que o conteúdo da gravação seja investigado pelo Ministério Público. Segundo o deputado Ismael García, a gravação teria sido feita pelo próprio Mario Silva.