Conservadores e liberais-democratas, que desde 2010 compõem aliança governamental no Reino Unido, estão batendo boca em público por causa de vans que rodaram por Londres por uma semana para sugerir a imigrantes ilegais que denunciem a si mesmos. Enquanto o primeiro-ministro David Cameron quer estender a iniciativa para todo o país, seu vice, Nick Clegg, disse ser uma estratégia “pouco inteligente”.
Reprodução/The Sun
As polêmicas vans exibem as mensagens e ajudam na distribuição de panfletos, todos em inglês, explicando como o imigrante clandestino deve fazer para se entregar. Nenhuma facilidade é oferecida. O custo da operação, que também inclui um serviço de mensagem de texto para quem quiser se entregar, foi de aproximadamente R$ 35.000, segundo o governo britânico — que tem o combate à imigração irregular como prioridade.
As vans passaram por seis bairros londrinos com esta mensagem: “Está ilegalmente no Reino Unido? Vá para casa ou corra risco de prisão”. O bate-boca, no entanto, só começou no domingo, quando o secretário de Negócios, Vince Cable, um liberal-democrata, chamou a ideia de “estúpida e ofensiva”. “É para criar a sensação de insegurança no povo britânico”, disse ele. “O problema da imigração não é vasto.”
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No dia seguinte um porta-voz de Cameron, sem citar dados específicos “porque não houve tempo de compilá-los”, afirmou que o projeto “está funcionando” e que poderia se estendido ao resto do país. Outro conservador, o ministro da Imigração, Mark Harper, disse que a iniciativa é “uma alternativa a quem não quer sair preso”.
Libdem em baixa
Clegg, tido como um internacionalista, estava evitando criticar a medida em público, mas na terça-feira não resistiu. “Fiquei surpreso ao ver essas duas vans dirigindo a esmo no norte de Londres. Não acho que foi uma ideia muito inteligente de lidar com isso”, disse o vice-premiê. “Você pode aplicar a lei com eficiência sem usar um tom que incomode as comunidades, principalmente onde há miscigenação.”
A questão das vans e a falta de acordo no governo na verdade demonstram como os liberais-democratas estão em baixa por conta de suas fracas perspectivas eleitorais para 2015. Se as eleições fossem hoje, os conservadores ganhariam maioria absoluta e não precisariam mais da coalizão para governar.
Depois de trair sua base eleitoral tradicionalmente ligada à esquerda, Clegg não emplacou suas duas principais pautas no governo: reformar o sistema eleitoral para que seu partido tenha maiores chances de eleger deputados e transformar a Casa dos Lordes em uma espécie de Senado, onde os representantes seriam eleitos. As ameaças conservadoras de que o Reino Unido venha a deixar a União Europeia também minam a posição dos liberais-democratas na opinião pública britânica.