Completados oito meses da presidência de Enrique Peña Nieto, o maior partido de esquerda mexicano ainda não tem posição coesa sobre o atual governo. Apesar de fortes críticas ao presidente, os representantes do PRD (Partido da Revolução Democrática) se dividem sobre o Pacto por México, acordo que prevê a implementação de dezenas de reformas e é, até agora, o principal feito político do novo líder mexicano.
O acordo foi anunciado um dia antes da posse, em 30 de novembro de 2012. Além do governista PRI (Partido Revolucionário Institucional), também assinaram o Pacto Por México o próprio PRD e o PAN (Partido Ação Nacional), do ex-presidente Felipe Calderón (2006-2012).
Principal crítico da medida no Foro de São Paulo, o deputado do PRD Antonio Sansores considera que a característica mais marcante do pacto é a busca por novas privatizações. “Ele foi feito pela cúpula dos partidos sem consultar as bases e os parlamentares, para dar estabilidade ao governo Peña Nieto. É uma demonstração que a esquerda mexicana está se desintegrando”, afirmou Sansores a Opera Mundi.
Outros representantes do PRD presentes em São Paulo, no entanto, ponderam que o pacto era a melhor alternativa para evitar um isolamento do partido, como ocorreu em 2006, após a controversa eleição que colocou Felipe Calderón no poder. “Dos 90 pontos presentes no pacto, um terço coincide com a nossa agenda, como as reformas política, previdenciária e no setor de comunicação. Era o que tínhamos que fazer para ter capacidade de decisão política”, argumenta Eric Villanueva Mukul, diretor do Instituto de Estudos Estratégicos e Política Públicas do México.
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A fundadora do PRD Guadalupe Almaguer concorda com Villanueva . “Devemos ter pensamento estratégico não só nas eleições. Não dá para se mobilizar apenas a cada seis anos. A reforma contra o monopólio midiático, por exemplo, é fundamental”, pontuou.
Principais líderes
Outra discordância interna do PRD diz respeito às lideranças da esquerda no país. Andrés Manuel López Obrador, ex-prefeito da Cidade do México e candidato derrotado em duas eleições presidenciais, deixou o partido em novembro de 2012, mas ainda mantém muitos apoiadores.
Vitor Sion/Opera Mundi
Não é o caso de Guadalupe. “Não há líderes na esquerda mexicana hoje. O que existe são políticos que disputam eleições, mas depois passam anos escondidos dentro de uma noz. Ou que falam algo publicamente, enquanto negociam o contrário às escondidas”, criticou a fundadora do maior partido da esquerda mexicana a Opera Mundi.
[Sansores é um dos principais críticos do Pacto Por México no Foro de São Paulo]
O deputado Sansores, por sua vez, defende a liderança de López Obrador. “Ele tem o apoio de milhões de mexicanos há mais de uma década.” O PRD é o movimento político estrangeiro com maior número de representantes no Foro de São Paulo, com 72 inscritos. O evento ocorre até domingo na capital paulista e deverá ter as presenças de Luiz Inácio Lula da Silva (sexta-feira), Nicolás Maduro (sábado) e Evo Morales (domingo).