Neste domingo (04/08), chega ao fim os oito anos de administração do presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad, marcado por ataques dos Estados Unidos e a comunidade internacional, por conta do programa nuclear do país. O novo presidente, Hassan Rohani, eleito em 14 de junho com 50.68% dos votos, toma posse com a presença de diversos chefes de Estado.
Efe (02/08/2013)
Rohani, presidente eleito do Irã, deu declarações na semana passada sobre Israel, deturpadas pela mídia internacional
Após uma campanha sem destaques, que contou com o apoio dos setores moderados e reformistas do Irã, Rohani ficou à frente do prefeito conservador de Teerã, Mohamed Bagher-Ghalibaf, e do chefe dos negociadores da questão nuclear, Saeed Jalili, que era apoiado pela ala dura do regime conservador. “Esta vitória é a da inteligência, da moderação e do progresso sobre o extremismo”, comentou o novo presidente após o resultado da eleição.
A capital do país, Teerã, sedia hoje a cerimônia de posse de Rohani, que deve fazer um juramento solene diante do Parlamento e de diversos chefes de Estado internacionais. Esta é a primeira vez que o país convida dignitários estrangeiros para participar da cerimônia de posse de um novo presidente.
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De acordo com informações fornecidas pelo porta-voz do Ministério Exterior do Irã, são aguardadas no evento mais de 55 delegações estrangeiras, além de dois convidados especiais: o ex-primeiro-ministro da Malásia, Mahathir Mohamad, e o ex-Alto Representante da União Européia (UE) para Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Javier Solana. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, também participa da solenidade, que ocorre um dia depois da cerimônia de aprovação do Líder Supremo da República Islâmica do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.
Declarações falsas
Na última sexta-feira (2), a mídia internacional distorceu as declarações que o presidente eleito forneceu durante as celebrações do Dia de Al Quds, manifestação anual que ocorre em todo o país em apoio à causa palestina. “O regime sionista é uma ferida que precisa ser curada”, noticiaram alguns veículos de informação do país.
Na realidade, de acordo com as imagens exibidas pela rede de televisão iraniana Hispan TV, Rohani afirmou: “Em nossa região, existe há anos uma ferida aberta no corpo do mundo islâmico sob a sombra da ocupação da terra sagrada da Palestina e de nosso querido Qods (Jerusalém)” [por Israel].
Efe (02/08/2013)
Iranianas caminham em frente a uma bandeira de Israel, durante manifestação contra o governo do país em Teerã
A alegação falsa foi rapidamente reproduzida pela imprensa internacional, fazendo com que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, também se pronunciasse, pedindo ao mundo que despertasse da ilusão de que haverá uma mudança no Irã por conta da eleição de Hassan Rohani. “O verdadeiro rosto de Rohani nos foi revelado”, disse Netanyahu, que ainda afirmou: “Não devemos permitir que um Estado que ameaça destruir o Estado de Israel chegue a ter armas de destruição em massa”.
Situação do país
Há uma expectativa de que a posição moderada de Rohani gere mudanças em questões relacionadas à economia, aos direitos civis e à situação da mulher no Irã. Entretanto, a política da República Islâmica não deve ser alterada em relação a temas estratégicos como o nuclear ou as relações internacionais, que estão sob a autoridade direta do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do país.
O direito de produzir energia nuclear e de enriquecer urânio se tornaram uma política de Estado, aceita até mesmo por opositores de Ahmadinejad. A única mudança provável será no tom das negociações do novo presidente com o Ocidente, que já solicitou que a comunidade internacional “reconheça os direitos” do Irã, ao se referir às negociações nucleares com as grandes potências. “A moderação em política externa não significa rendição ou conflito, não significa passividade ou confrontação. Moderação é uma interação eficaz e construtiva com o mundo”, declarou Rohani.
O presidente eleito terá de enfrentar a profunda crise econômica que atinge o Irã desde a imposição de sanções internacionais no país pelos EUA, pelas Nações Unidas e por grande parte dos países europeus, por conta da suspeita de que o país esteja enriquecendo urânio com objetivos bélicos.
Desde a determinação do embargo à venda do petróleo iraniano, que representa cerca de 50% da receita pública, a moeda nacional sofreu desvalorização, a inflação sobe mais a cada mês e o déficit estatal aumentou. As sanções também dificultaram a importação de matéria-prima necessária para a produção das indústrias iranianas, levando muitas a fechar as portas. Todo esse cenário resulta em uma alta taxa de desemprego, que ultrapassou os 15% a partir da metade de 2012, segundo estatísticas oficiais.