Em 3 de março de 1875, estreia a ópera Carmen, de Georges Bizet, na Ópera de Paris. Embora seja hoje uma das favoritas dos amantes de ópera, a primeira apresentação fracassou. Um Bizet abatido faleceu três meses mais tarde. No entanto, pouco tempo depois de sua morte, uma nova encenação terminaria com a plateia aclamando calorosamente a obra, ambientada num agitado mundo espanhol.
Na trama, baseada numa história do escritor Prosper Mérimée, a jovem cigana Carmen provoca o cabo Don José com seu charme. Nem a camponesa Micaela, que ama José, consegue conter o feitiço de Carmen. O militar faz de tudo para seguir a cigana pelas montanhas da região. Carmen rapidamente se cansa dele e corre para os braços do toureiro Escamillo, sobre quem pesa a profecia de morte que ela viu nas cartas. Enquanto Escamillo triunfa na arena, Carmen se defronta com José num beco próximo, e, desta vez, seu desafio não consegue salvá-la.
Georges Bizet, filho de músicos profissionais, entrou no Conservatório de Paris com apenas 9 anos e ganhou o Prêmio de Roma em 1857, com 19 anos. Na juventude, foi pianista talentoso e compôs peças instrumentais.
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Uma das mais populares óperas jamais escritas, Carmen, de Georges Bizet, tem música exuberante, melódica e brilhantemente orquestrada
Uma das mais populares óperas jamais escritas, Carmen tem música exuberante, melódica e brilhantemente orquestrada. Permanece única na mistura de cor, melodia, humanidade, paixão e ação física, sem cair no “modismo” da época, que era glorificar personagens tirados mais da lenda ou da imaginação do que da realidade. Os personagens reproduzem as classes sociais mais baixas e, no caso da própria Carmen, o pior lado da vida. As emoções expressas não são as de heroísmo, auto-sacrifício, busca do destino. Em vez disso, são indivíduos em situações da vida real, sem qualquer moralização nem apoteose. Mas, apesar de seu naturalismo, Carmen é uma obra intensamente romântica. A ópera termina de forma trágica, ainda que sem o enobrecimento que poderia ser inerente à tragédia.
Reviravolta
A crítica severa à ópera de Bizet foi o resultado de vários fatores. O empresário da casa, Camille du Locle, estava temeroso de afrontar seu público e expressou abertamente sua repugnância à música antes da estreia.
Embora a ópera tenha sido apresentada 48 vezes no primeiro ano, o teatro nunca ficou cheio. Na verdade, Carmen quase foi retirada após a quinta apresentação e, perto do final da temporada, já estavam distribuindo ingressos para estimular a presença.
Em outubro, sete meses após a estreia em Paris, a ópera teve uma apresentação bem sucedida na Ópera Estatal de Viena. A partir de então, sua aceitação correu o mundo.