O Ministério de Relações Exteriores da Rússia afirmou neste domingo (25/08) que atribuir culpa antecipadamente pelo suposto ataque de armas químicas na Síria seria um “erro trágico”. “Nós recomendamos fortemente que aqueles, ao tentar impor sua opinião de especialistas à frente dos resultados de uma investigação da ONU (…) não cometam erros trágicos”, disse a chancelaria russa em comunicado. Moscou advertiu os Estados Unidos pedindo que não repetissem na Síria “erros do passado”, dizendo que qualquer ação dos EUA não deve ignorar as Nações Unidas.
Agência Efe/Sana
O presidente sírio Bashar al Assad em reunião ministerial
O Ministério das Relações Exteriores da Síria informou que permitiu acesso aos inspetores da ONU aos locais onde ocorreram os ataques com gás nervoso, na última quarta-feira (21/08) nos arredores de Damasco.
O regime do presidente sírio, Bashar al Assad, afirma que o trabalho dos inspetores da ONU permitirá desmentir as acusações da oposição de que as forças do governo teriam usado armas químicas contra civis, incluindo crianças.
Leia mais:
Mais de 300 pessoas morreram com “sintomas neurotóxicos”, diz Médicos Sem Fronteiras na Síria
Enquanto a oposição fala em 1.300 vítimas, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) divulgou no sábado a morte de 355 pacientes que “apresentaram sintomas neurotóxicos” desde a última quarta-feira na região de Damasco.
“Muito tarde”
Porém, uma autoridade do governo norte-americano disse à Reuters que se a Síria não quisesse esconder fatos, não teria dado acesso aos locais cinco dias após o ataque.
“Neste momento, qualquer decisão tardia por parte do regime de Assad para conceder acesso à equipe da ONU seria considerada demasiado tardia para ser digna de crédito, inclusive porque a evidência disponível foi significativamente danificada como resultado de persistentes bombardeios e outras ações intencionais do regime nos últimos cinco dias”, disse o funcionário.
“Com base no número relatado de vítimas, nos relatos de sintomas daqueles que foram mortos ou feridos, relatos de testemunhas e outros dados recolhidos por fontes abertas, pela inteligência dos EUA e por parceiros internacionais, há muito poucas dúvidas neste ponto de que uma arma química foi usada pelo regime sírio contra civis neste incidente”, disse o oficial à Reuters.
NULL
NULL
“Continuamos a avaliar os fatos para que o presidente possa tomar uma decisão informada sobre como responder a este uso indiscriminado de armas químicas”, disse o funcionário.
A Organização das Nações Unidas informou que os inspetores vão iniciar a visita aos locais onde ocorreram os ataques químicos na segunda-feira.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse, em comunicado, que a Síria prometeu garantir um cessar-fogo nos locais do subúrbio de Damasco.
Um ano atrás, Obama disse que o uso de armas químicas na guerra na Síria seria uma “linha vermelha” para os Estados Unidos. No entanto, Obama tem se mostrado relutante em intervir na Síria, e funcionários EUA ressaltam que ele ainda tem que tomar uma decisão sobre como responder.
Parlamentares norte-americanos de ambos os partidos pediram uma resposta militar limitada, com mísseis de cruzeiro, por exemplo. Um democrata sênior, o senador Jack Reed, advertiu que qualquer movimento realizado por Washington não deve ser unilateral.
O senador Bob Corker, o principal republicano no Comitê de Relações Exteriores, disse que havia discutido o assunto com o governo na semana passada e acredita que Obama pedirá ao Congresso autorização para a intervenção uma vez que os parlamentares voltem do recesso em 9 de setembro.
“Acho que vamos responder de forma cirúrgica e espero que o presidente, assim que voltarmos para Washington, peça autorização do Congresso para fazer algo de uma forma muito cirúrgica e proporcional”, disse a ele à rede Fox News.
A maioria dos norte-americanos se opõe fortemente à intervenção dos EUA na guerra civil da Síria e acreditam que Washington deve ficar fora do conflito, mesmo que sejam verdadeiros os relatos de que o governo do presidente sírio Bashar al-Assad usou armas químicas, segundo mostrou uma pesquisa Reuters/Ipsos.
Cerca de 60% dos entrevistados na pesquisa disseram que os Estados Unidos não devem intervir, ou seja, Obama teria que fazer uma defesa convincente para o público americano em relação a qualquer ação que ele decidisse realizar.
A Rússia advertiu os Estados Unidos neste domingo, pedindo que não repetissem na Síria “erros do passado”, dizendo que qualquer ação dos EUA não deve ignorar as Nações Unidas.
O Irã, um aliado chave de Assad, disse que Washington não deve cruzar uma “linha vermelha” ao atacar a Síria, enquanto que o ministro de Informações da Síria disse que qualquer ação militar dos EUA iria “criar uma bola de fogo.”
Reunião bilateral
O presidente francês, François Hollande, conversou este domingo (25/08) sobre a Síria com seu homólogo americano, Barack Obama, e disse que “tudo aponta para o regime em Damasco como autor” dos ataques químicos de 21 de agosto, anunciou o Eliseu.
“O chefe de Estado condenou o uso de armas químicas na Síria e destacou que tudo aponta para assinalar o regime em Damasco como o autor destes ataques inaceitáveis”, informou a presidência francesa.
Segundo a Casa Branca, Obama e Hollande expressaram sua “profunda preocupação com a suposta utilização de armas químicas por parte do regime sírio contra civis nos arredores de Damasco, no dia 21 de agosto”.
Os dois líderes “discutiram as possíveis respostas da comunidade internacional (…) e concordaram em permanecer em contato para proporcionar uma reação comum a esta agressão sem precedentes”, destacou a presidência francesa.
François Hollande já havia conversado neste domingo sobre o ataque químico com o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e com o premier australiano, Kevin Rudd.
(*) com agências de notícias internacionais