Apesar de haver superado a crise financeira do final do ano passado, o Erasmus, programa de intercâmbio de estudantes da União Europeia, um dos mais conhecidos do mundo e com 26 anos de existência, enfrenta dilemas em relação ao seu futuro. Entre eles, como incluir estudantes de menor renda.
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“Hoje, ao mesmo tempo em que estamos satisfeitos de ver mais dinheiro [do orçamento da União Europeia] previsto para o Erasmus, há ainda um monte de coisas que precisam ser feitas para proporcionar a todos os estudantes a oportunidade de participar de um intercâmbio internacional”, afirma Rok Primožič, dirigente da ESU, sigla em inglês para União dos Estudantes Europeus.
Em outubro de 2012, a União Europeia, em crise econômica, se viu com um buraco no orçamento de 9 bilhões de euros – que, entre outros programas, afetaria as bolsas do Erasmus. Mas, seis meses depois, decidiu-se destinar 14,5 bilhões de euros para o programa no período 2014-2020, o que, segundo a Comissão Europeia, representa um aumento de 40% nos investimentos.
Reprodução/Facebook
Para Primožič, o aumento previsto de recursos não resolverá, porém, muitos dos problemas. “A bolsa não cobre todas as despesas do estudante. Temos que pensar como dar a estudantes mais pobres a chance de participar do Erasmus. Temos que avaliar quem são esses estudantes que entram no programa, e não só as estimativas quantitativas”, completa.
[Rok Primožic: só aumentar recursos não resolve]
“O Erasmus é mais importante do que nunca em tempos de dificuldades econômicas e desemprego entre os jovens”, disse a representante da Comissão Europeia para assuntos educacionais, Androulla Vassiliou, em julho passado, quando foi anunciado que o número total de estudantes beneficiados pelo programa havia passado dos 3 milhões.
Segundo Primožič, o mais preocupante é que a educação superior está deixando de ser considerada um bem público e se tornando algo pelo qual se tem que pagar. “A crise econômica europeia vem tendo um impacto muito negativo no financiamento público da educação universitária. Os países começam a cobrar pelos cursos, reduzir bolsas, mudar sistemas de bolsas para empréstimos.”
“Help Erasmus”
Simona Pronckutė, da campanha “Help Erasmus” (“Ajude o Erasmus”), afirma que, apesar do aumento de recursos para o programa, a proporção do orçamento da União Europeia destinado a esquemas de intercâmbio é de cerca de 1%. “Isso não é suficiente”, diz. “Oferecer aos cidadãos europeus a chance de trabalhar ou estudar fora torna a Europa mais competitiva num mundo globalizado.”
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O “Help Erasmus” é um movimento organizado por jovens europeus que defende o investimento de 3% do orçamento da União Europeia em programas de intercâmbio. O grupo faz campanha nas redes sociais e coleta assinaturas para uma petição virtual. Ele conta com o apoio de acadêmicos, parlamentares europeus e organizações do continente.
“A gente acha que a União Europeia precisa focar os esforços de integração no cidadão, para construir uma verdadeira união de pessoas, e não de Estados. Isso levaria a resultados econômicos, sociais e culturais positivos e reduziria o desemprego, principalmente para os jovens”, diz Simona.
Divulgação
“O Erasmus é mais importante do que nunca em tempos de dificuldades econômicas”, diz Androulla Vassiliou
Ela foi bolsista do Erasmus e afirma que o programa abriu seus horizontes e proporcionou oportunidades. “Se não fosse pelos programas de intercâmbio da União Europeia, eu não teria tido a chance de falar quatro línguas e trabalhar em Bruxelas”, resumiu.
“Exercício burocrático”
Para o professor Hans de Wit, diretor do Centro sobre Internacionalização da Educação Superior da Universidade Católica de Milão, o problema do Erasmus vai além da falta de recursos.
Em artigo publicado em janeiro passado, no site University World News, ele citou as conquistas do Erasmus, mencionou a contribuição do programa para a integração europeia, mas disse que o esquema se tornava um “exercício burocrático, no qual apenas os números contam”.
“Como eu disse na minha palestra em Copenhague [no ano passado], na celebração de 25 anos do programa, há uma preocupação crescente com números e porcentagens, e não com conteúdo e com qualidade. Nos primeiros anos do Erasmus, o entusiasmo das faculdades levou o programa ao sucesso”, escreveu o especialista.
“Em 2012, o Erasmus completou 25 anos em meio a temores de que poderia se tornar vítima do seu próprio sucesso, devido ao crescimento de seus números (como quantidade de participantes) e redução dos seus recursos”, afirma, no artigo.
“Se o Erasmus pudesse redescobrir o seu foco em currículo e aprendizado, ele iria não somente melhorar a qualidade da experiência, como também aumentar o interesse de alunos e faculdades, e, como resultado, seus números cresceriam”, acrescentou.