O ambiente de aparente tranquilidade que caracterizou as últimas semanas de campanha eleitoral em Honduras sofreu um acelerado processo de decomposição, acompanhado por uma crescente instabilidade entre as principais forças políticas que se enfrentam nas eleições gerais deste domingo (24/11).
Leia especial de Opera Mundi sobre eleições em Honduras
O partido Libre (Liberdade e Refundação), de Xiomara Castro, denunciou a crescente “campanha suja” promovida pelo partido governista (Partido Nacional) e seu candidato presidencial, Juan Orlando Hernández. Além disso, o Libre argumenta que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) estaria cometendo “graves irregularidades” poucos dias antes da votação.
Giorgio Trucchi/Opera Mundi
TSE, presidido por David Matamoros, tem sofrido muitas críticas na reta final da campanha
Em comunicado, o Libre, criado a partir dos movimentos de resistência ao golpe de Estado de 2009, repeliu a “propaganda massiva do partido do governo, saturada de ameaças, ataques e anúncios de forças militares cheios de violência”. Os partidários pediram que o TSE interviesse na campanha publicitária, sem sucesso.
A troca de acusações também chegou à imprensa, tanto nacional como internacional. O jornal El Heraldo acusou a Telesur de estar dando aval a um suposto plano do partido Libre “para intimidar os eleitores e declarar Xiomara Castro eleita com base em supostos resultados de boca de urna”.
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A Radio Globo e o Cholusat Sur (Canal 36), dois dos meios que mais sofreram com o golpe de Estado, tendo sido fechados por alguns meses pelo então presidente de fato, Roberto Micheletti, se negaram a assinar um acordo pelo qual o TSE estaria impondo “não divulgar pesquisas de opinião nem de boca de urna”.
“Não vão nos calar nem nos parar. Vamos informar tendo por base a liberdade de expressão. E se tivermos de voltar a viver o que aconteceu em 2009, vamos voltar”, disse a organismos internacionais Esdras Amado López, diretor do Cholutsat Sur e candidato a deputado pelo Libre.
Desconfiança no TSE
Depois da denúncia feita pela candidata presidencial do Libre sobre “graves irregularidades nos testes funcionais e nos exercícios com o Sistema de Transmissão e Divulgação dos Resultados Eleitorais Preliminares via scanner”, o ex-presidente Manuel Zelaya, marido de Xiomara Castro, repudiou a decisão do TSE de divulgar um primeiro relatório às 18h45 de domingo, apenas uma hora e quarenta e cinco minutos depois do fim da votação, com uma porcentagem muito baixa da apuração realizada. Em declaração à imprensa internacional, Zelaya disse que, caso essa decisão não seja retificada nas próximas 24 horas, o partido Libre tornaria pública sua contagem interna de votos.
“Divulgar uma tendência baseada em uma quantidade mínima e insignificante de votos é muito perigoso. Poderia gerar desconfiança no processo eleitoral, ainda mais quando o presidente do TSE, David Matamoros, obedece ao Partido Nacional e ao seu candidato, Juan Orlando Hernández”, disse Enrique Reina, candidato à vice-presidente pelo Libre.
Segundo ele, os juízes eleitorais deveriam esperar pelo menos que 50% das urnas tenham sido apuradas e que o resultado seja irreversível. “Acreditamos que, por trás de tudo isso, está a intenção de favorecer o candidato governista, criando um clima de triunfalismo pouco depois do fechamento das urnas”, explicou Reyna.
O candidato governista, Juan Orlando Hernández, garantiu a Opera Mundi que, durante a sessão plenária dos juízes com os candidatos presidenciais, não escutou “o juiz presidente se referir a um horário mas, unicamente, que iriam divulgar relatórios. Tudo vai sair bem e, ao final, o resultado contundente será dado pela somatória das atas originais que serão computadas em Tegucigalpa”, disse Hernández.
Ele também minimizou a importância das irregularidades que aconteceram na simulação. “É como o efeito de uma curva de aprendizagem, que acontece com todos. Estou certo de que vai melhorar e que tudo vai ser desenvolver normal e tranquilamente”, garantiu.