Em 19 de março de 1853, o movimento Taiping, na China, tomou a cidade de Nanquim, fazendo dela sua capital. A Rebelião Taiping (1851-1864) foi um dos conflitos mais sangrentos da história, um confronto entre as forças da China imperial e um grupo inspirado por um místico chamado Hong Xiuquan, que também se intitulava irmão de Jesus Cristo. A rebelião começou na província de Guangxi e se estendeu rapidamente pela região do rio Yang-tsé (Amarelo). Os rebeldes tomaram Nanquim e desfecharam um ataque mal-sucedido a Pequim. As tropas imperiais foram auxiliadas por militares ingleses e norte-americanos, e esmagaram a revolta reconquistando Nanjing, num cerco onde morreu Xiuquan. O regime Qing, no entanto, jamais se restabeleceu da guerra civil e a ideologia dos revoltosos de Taiping — um misto de cristianismo e teorias de igualdade social — influenciou grupos revolucionários posteriores, como o Partido Comunista Chinês.
As consequências para a China foram devastadoras. Somente na rebelião de Taiping, que durou cerca de vinte anos, entre 30 e 50 milhões morreram em consequência direta do conflito. Na verdade, o período de 1850 a 1873 assistiu, como resultado de rebeliões, à seca e fome, e a população da China encolheu mais de 60 milhões de pessoas.
A rebelião de Taiping fez surgir a figura de Hung Hsiu-ch’uan (1813-1864), o líder dos revoltosos. Ainda jovem, ao ouvir a pregação de um cristão, Hung passou a andar com eles se reunir, convertendo-se ao cristianismo. Segundo se relata, Hung teve visões em que um velho homem disse a ele que as pessoas tinham deixado de adorá-lo e que estavam adorando demônios. Hung se proclamou como o irmão mais novo de Jesus e que tinha sido enviado por Deus à terra, a fim de erradicar os demônios e os cultos demoníacos. Hung e seus seguidores formaram então uma nova seita religiosa, “Os Adoradores de Deus”, que se dedicou à destruição de ídolos na província de Cantão.
Historiadores ocidentais defendem que a fome dos anos 1840 levou os chineses a se ligarem a vários movimentos filantrópicos. Já historiadores chineses salientam a retórica anti-manchu de Hung no início do movimento. Segundo a filosofia de Hung, ele teria chegado à conclusão de que a derrubada dos Manchus iria ajudar a trazer o Reino do Céu para a Terra.
Dizendo-se inspirado por Deus e Jesus Cristo, compôs uma ideologia eclética que combinava elementos da antiga filosofia taoísta (pré-confuciana) com crenças herdadas do cristianismo protestante. Idealizou uma sociedade utópica, na qual os camponeses possuiriam e trabalhariam a terra em comum. Nessa sociedade ideal, inspirada num passado lendário, a escravidão, a tortura policial, os casamentos arranjados, o concubinato, o consumo de ópio, a idolatria e outros costumes da China imperial – como o hábito de enfaixar e comprimir os pés das mulheres – seriam abolidos.
Os militantes dos Adoradores de Deus também foram organizados militarmente para destruir e eliminar os cultos demoníacos. No final dos anos 1840, Hung deu forma militar a sua organização, garantindo-lhe sustentação financeira por meio de dízimos. Multidões se organizaram num exército revolucionário.
Em 1851, Hung declarou que um novo reino tinha sido estabelecido, o Reino da Paz Celestial, foi aclamado como o “Rei Celestial” e a Era Taiping, ou “Grande Paz”, havia começado.
O Reino da Paz Celestial foi um estado teocrático, tendo o “Rei Celestial” como monarca absoluto. O objetivo era a realização da paz e de prosperidade na China, com todas as pessoas a adorar um único deus. O movimento criou um programa radical de reformas econômicas na qual todas as riquezas foram igualmente distribuídas a todos os membros da sociedade, uma sociedade sem classes, sem distinções entre as pessoas. Uma das consequências sociais e econômicas da igualdade entre homens e mulheres, foi que muitos postos de governo foram atribuídos as mulheres.
O exército foi totalmente disciplinado, seus soldados dispostos a morrer sem hesitação em nome de Deus e pela destruição das forças inimigas. Avançando rapidamente pelo vale central de Yang-tsé até Nanquim, evitou os grandes centros urbanos e por isso encontrando pouca resistência, não tendo consolidado política e administrativamente as áreas conquistadas o que custaria caro.
A ocupação de Nanquim pelos taipings em março de 1853, resultou na mudança do nome da cidade para T’ien-ching, ou “Capital Celestial”. Ao atacar Pequim, foram derrotados. Nos 10 anos subsequentes, os taipings lutaram para conquistar novos territórios e preservar o seu. Contudo, sob as pressões da guerra e de uma administração ineficiente, o Reino da Paz Celestial lentamente começou a desmoronar.
O governo do Taiping começou a se desintegrar quando Hung se retirou da participação ativa nos assuntos administrativos e militares, pois acreditava ser um ‘Rei Celestial’, dedicado aos prazeres mundanos.
Em 1864, o Reino da Paz Celestial chegava ao fim. Hung acreditava que Deus iria defender o Taiping, mas em junho de 1864, parecia ter perdido a certeza da proteção de Deus quando se envenenou. Seu corpo foi descoberto e o despejaram em um esgoto sob a cidade.
*Com informações do site ceticismo.net
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