Atualizada às 13h55
O presidente Nicolás Maduro pediu, em discurso na noite desta quinta-feira (13/02), que os “autores intelectuais das mortes”, ocorridas após os protestos da oposição, se entreguem. No mesmo dia, o dirigente opositor Leopoldo López, do partido venezuelano Vontade Popular, escreveu no Twitter que ainda está na Venezuela e desafiou Maduro a prendê-lo.
“São fugitivos da Justiça os principais autores intelectuais dos fatos de 12 de fevereiro e dos dias que levaram a ele. Já são solicitados pela Justiça, nós temos ordens da Promotoria e, como poder Executivo, estamos atuando. Então eu digo a estes fugitivos que se entreguem em mãos da Justiça, vocês são responsáveis pelo banho de sangue”, disse, sem fazer referência direta a López.
Na rede social, o opositor agradeceu as “demonstrações de solidariedade”. “Obrigado por todas suas demonstrações de solidariedade. Estou bem. Continuo na Venezuela e continuarei nas ruas. Força!!!”, escreveu López, que posteriormente se dirigiu ao presidente Nicolás Maduro: “Não tem a coragem para me meter preso? Ou espera ordens de Havana? Te digo: a verdade está do nosso lado”.
Agência Efe
Leopoldo López desafiou Nicolás Maduro a prendê-lo
Ontem, meios de comunicações locais difundiram uma suposta ordem de captura contra o dirigente, acusado pelo governo de autor intelectual da violência ao final de um protesto opositor na última quarta, que resultou em três mortes. A Promotoria Geral da República, no entanto, ainda não confirma oficialmente a emissão da ordem.
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Mesmo assim, o presidente do Legislativo e dirigente do partido governista, Diosdado Cabello, escreveu no Twitter na noite de ontem que López tem passagens aéreas para a Colômbia. “O fugitivo Leopoldo López tem passagens para amanhã às 6h00, voo 069 da Avianca para Bogotá, está perdido, você não vai fugir covarde”, escreveu. No entanto, este voo tem partida prevista para as 11h52 – o que sai neste horário é o 079. O ministro de Turismo, Andrés Izarra, escreveu em seu perfil que o dirigente é esperado em uma prisão.
Segundo o presidente, a promotoria emitiu ordens de captura contra o ex-embaixador na Colômbia e no Brasil, Fernando Gerbasi, e o ex-chefe da Casa Militar de Carlos Andrés Pérez, Iván Carratú Molina. No dia anterior à violência, um programa da emissora estatal difundiu um áudio no qual supostamente Gerbasi afirma que foi avisado de que viria “algo similar” a 11 de abril de 2002, data do golpe contra Hugo Chávez, também após mortes em protestos. Tanto Molina, como Gerbasi, afirmaram que o áudio é falso.
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Violência
Durante o discurso, realizado no palácio de Miraflores e transmitido em rede nacional, Maduro mostrou vídeos e sequências de fotos para demonstrar que a violência partiu de agitadores opositores. Segundo ele, os distúrbios gerados no final do protesto, convocado por dirigentes antichavistas e líderes estudantis, que durante horas se manteve pacífico, é parte de um plano para tirá-lo do poder, seguindo um roteiro aplicado contra Chávez há 12 anos. Maduro alertou que o país está enfrentando um “golpe de Estado em desenvolvimento”.
O presidente acusou “organizações [norte-]americanas” que vivem de uma “política imperialista de se infiltrar e controlar o mundo”, de financiar e treinar grupos para gerar distúrbios, como segundo ele aconteceu na Ucrânia, levando à renúncia de Mykola Azarov. “Na Ucrânia aconteceram eventos muito graves, a Venezuela não é a Ucrânia. Nosso povo é outro povo, nossas Forças Armadas são outras, a história é outra. Aqui estamos fazendo uma revolução, com todo o respeito que temos pelo povo e o governo da Ucrânia”, disse.
Agência Efe
Parede pichada por manifestantes de oposição durante protesto em Caracas
Segundo a agência estatal de notícias da Venezuela, atos violentos “orquestrados pela direita” causaram destroços em diferentes estados do país e “foram controlados oportunamente” por organismos de segurança do Estado. De acordo com a Promotoria Geral da República, há um total de 66 feridos, além das três mortes. A lista inclui o estado de Lara, onde reportam um ataque a uma brigada militar e destroço em veículos.
Também no estado de Táchira, que faz fronteira com a Colômbia, o governador denunciou que há grupos de paramilitares infiltrados entre os estudantes que tentaram atacar uma subestação elétrica, além de outras instituições estatais. Já o governador do estado de Mérida afirmou que houve saques e queima de caminhões, assim como utilização de armas de fogo e coquetéis molotov na última quarta. Em Aragua, houve um ataque à sede do governo que causaram destroços no edifício e veículos, segundo a autoridade local.
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Em Caracas, edifícios governamentais também foram atacados na última quarta, incluindo o do Ministério Público, em cujas redondezas duas das três mortes ocorreram. O local foi palco de uma manifestação chavista contra a violência durante a manhã de quinta, onde os presentes pediam a prisão de Leopoldo López. Durante o fim da tarde e início da noite, estudantes se concentraram no município de Chacao, cortando vias.
Durante o ato, um casal de amigos afirmou a Opera Mundi que se manifestavam “por uma mudança, por uma nova Venezuela”. “Os meios televisivos da Venezuela não transmitem o que está acontecendo”, queixou-se a estudante de Direito Susara Zambrano, de 19 anos, dizendo que participou da marcha de quarta-feira, mas que não esteve presente nos distúrbios. Seu amigo Eddson Blaco, de 26 anos, motorista de ônibus, reclamou da impunidade no país e disse que o ato é uma maneira de mostrar ao governo e à imprensa internacional “o descontento que há na Venezuela”.
Maduro afirmou que uma nova marcha está sendo convocada para este sábado (15/02) com todas as forças sociais e políticas alinhadas ao governo e disse que participará. “Vamos fazer a marcha contra o fascismo, contra a violência e o golpismo”, afirmou. Em comunicado, a organização Anistia Internacional afirmou que se as autoridades venezuelanas devem “investigar urgentemente” as três mortes da última quarta.