Em cinco tweets, o presidente da Turquia, Abdullah Gul, criticou duramente nesta sexta-feira (21/03) o bloqueio do acesso ao Twitter no país. Na quinta (20/03), o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, havia prometido acabar com o uso do microblog no território nacional – medida que foi instaurada a partir da meia-noite passada.
“A proibição completa de plataformas de mídia social não pode ser aprovada”, tuitou Gul, acrescentando que não é “tecnicamente possível bloquear totalmente o acesso a plataformas já utilizadas ao redor do mundo”. No microblog, o presidente também critica a violação do sigilo da vida privada e finaliza: “Esperamos que esta aplicação não dure”.
Efe
Twitter é uma das principais redes sociais usadas pelos cidadãos turcos para denunciar casos de corrupção de Erdogan e seus aliados
Assíduo usuário da rede social, Abdullah Gul não foi o único a condenar a medida de Erdogan – o que por si já apresenta uma fragmentação na administração do governo turco. A atitude do premiê também foi censurada pelos líderes da oposição do país e pela UE (União Europeia) – a qual Ankara luta tanto para ingressar.
Político da oposição, Aykan Erdemir disse que seu partido iria tomar medidas legais contra a proibição, advertindo que o movimento irá colocar a Turquia em uma liga de países não democráticos como a China. “Esta é uma violação inacreditável dos direitos e liberdades fundamentais”, disse Erdemir à AFP.
Efe
Durante discurso em ato de campanha eleitoral na cidade turca de Bursa, Erdogan prometeu “arrancar Twitter pela raíz” na quinta (20/03)
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Desaprovação da União Europeia
Os membros da UE também reforçaram que tal medida poderia dificultar ainda mais a tentativa da Turquia ingressar no bloco por violar os direitos de liberdade de expressão dos cidadãos. “Tal proibição aumenta gravemente nossas preocupações e gera dúvidas a respeito do comprometimento da Turquia aos valores e padrões europeus”, afirmou o comissário de Ampliação e Política de Vizinhança da UE, Stefan Fule.
“As mídias sociais têm um papel vital no jogo da democracia moderna. Como a Turquia é um país candidato, a UE esperava que o país promovesse valores de liberdade de expressão e democracia”, tuitou a embaixada britânica na Turquia. Um porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel, tuitou que, “em uma sociedade livre, são os cidadãos que decidem como eles querem se comunicar, não o Estado”.
Histórico de censura
O Twitter tem sido uma das principais redes sociais de denúncia de corrupção, presentes no círculo íntimo de Erdogan. Seu banimento faz parte de uma série de tentativas do primeiro-ministro para controlar a internet, que já proibiu centenas de sites no território turco e no início do mês, ameaçou também retirar o Facebook e Youtube do ar.
Carlos Latuff/ Opera Mundi
Charge apresenta 'Recep Erdogan, o sultão da Turquia'- Premiê turco enfrenta acusações de corrupção na família
Em 2007, foi assinada uma lei que bloqueou temporariamente blogs, como WordPress, e de vídeos, como o Vimeo, enquanto o YouTube esteve sob controle até 2010. Alguns novos sites alternativos não podem ser acessados e pessoas são constantemente presas em casos de “uso indevido” das ferramentas da Internet.
No fim de janeiro, foram reveladas escutas de Erdogan em que o chefe de estado aconselha o filho, Bilal, de desfazer de uma enorme quantia de dinheiro guardado em casa – colocando em xeque um vasto escândalo de corrupção que tem permeado o seu governo.