Chanceleres da Unasul (União das Nações Sul-americanas) já estão em Caracas para a missão de acompanhamento da situação venezuelana. Embora alguns setores da oposição mantenham críticas quanto à postura supostamente alinhada com o governo de Nicolás Maduro de alguns países do bloco, a MUD (Mesa da Unidade Democrática), aliança que congrega partidos opositores, deve pedir uma reunião com os chanceleres da missão.
Efe (23/03/2014)
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“Vamos pedir um encontro para falar com eles, fazer uma exposição. Estamos trabalhando em um documento neste sentido, isso é oficialmente uma posição da mesa. Isso não quer dizer que alguns não tenham uma posição contrária à reunião, evidentemente há diferenças. Quem não estiver de acordo, que o diga, mas iremos”, disse a Opera Mundi, em entrevista na última sexta-feira o secretário executivo adjunto da MUD, Ramón José Medina.
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Segundo ele, houve expressões exacerbadas de alguns líderes da oposição em relação ao bloco. “Acho que uma instância como essa [Unasul] não pode ser desprezada, apesar de que haja países que foram excessivamente solidários com este governo”, expressou. O bloco, no entanto, espera que a delegação de chanceleres seja “equilibrada”, com a presença de países mais distantes ideologicamente do chavismo.
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O secretário adjunto afirmou que as declarações da Unasul e do Mercosul emitidas após a explosão de protestos em diferentes municípios do país, que já resultaram em mais de 30 mortes, “estão dentro do marco aceitável, do válido diplomaticamente”.
Sobre as declarações da presidente Dilma Rousseff em relação à situação venezuelana, classificou como “mais considerada” do que às do assessor internacional da presidência, Marco Aurélio Garcia, “que sempre está em uma posição na qual impede que algumas coisas aconteçam”. Para Medina a postura uruguaia “também foi interessante”. “É mais ou menos parecida com a do Brasil, o próprio presidente Pepe Mujica falou da necessidade de diálogo. Manifestar preocupação é elementar com o que está acontecendo aqui”, garantiu.
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Medina: Unasul “não pode ser desprezada, apesar de que haja países que foram excessivamente solidários com este governo”
Quanto à visita dos chanceleres, Medina aposta que ela pode ter alguma influência sobre o governo venezuelano para que este “aceite ceder em algumas coisas que permitam o diálogo”. Para ele, no entanto, a Igreja, “ou igrejas, para não ser necessariamente circunscrita à Católica”, poderia atuar como mediador eficiente na resolução da crise política pela qual o país atravessa.
“Cessar-línguas”
O jornalista venezuelano Vladimir Villegas, por sua vez, disse acreditar que a missão do bloco pode contribuir com o diálogo. “Todos os que possam vir ajudar vão ser necessários. Mas para ajudar, não para tomar partido. Se vierem aqui para tomar partido, não vai ajudar, tem que tomar partido pelo diálogo”, afirmou.
Um dos participantes da Conferência de Paz instalada pelo governo para estabelecer vias de diálogo com diversos setores do país, Villegas acredita, porém, que os venezuelanos são capazes de resolver a atual conjuntura sem presença internacional, mas para isso, ambos os lados devem demonstrar sua real disposição ao diálogo.
Um gesto do governo neste sentido, seria o tratamento adequado dos casos de estudantes submetidos a processos judiciais, castigo a abusos policiais e que decisões sejam “muito bem” pensadas. Pelo lado opositor, a desvinculação “sincera e claramente” da violência e o fim da submissão “à chantagem de setores radicais”.
O tom do discurso também é ponto a ser revisado, segundo o jornalista. “Teríamos que fazer não só um cessar- fogo, mas um ‘cessar-língua’ em ambos os setores. Porque isso atenta contra a possibilidade de que essa aproximação se produza. A aproximação não é para que um dos lados renuncie ao que é, mas para encontrar fórmulas de acordo”, manifestou.