O presidente de Ruanda, Paul Kagame, criticou novamente nesta segunda-feira (07/04), de maneira velada, o envolvimento da França e de outros países no genocídio que há 20 anos arrasou com o país africano. O massacre resultou na morte estimada de 800 mil a 1 milhão de integrantes da etnia tutsi e também dos hutus considerados moderados.
Leia reportagem da enviada especial a Kigali:
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Em resposta, Paris anulou a participação de um ministro nos atos oficiais e o embaixador da França foi excluído nesta segunda das cerimônias.
Efe
Kagame: “ainda há assuntos que são tabu, como a participação-chave de potências ocidentais nos acontecimentos da época”
Kagame advertiu que “nenhum país é tão poderoso que possa mudar os fatos, mesmo quando pensa que é”, em referência a Paris. “A passagem do tempo não deve obscurecer os fatos, diminuir a responsabilidade ou transformar as vítimas em vilões”, disse em um discurso durante um ato oficial do aniversário da tragédia.
O presidente de Ruanda acusa a França e a Bélgica de terem desempenhado um papel direto na “preparação política do genocídio”. A França, aliada do governo hutu na época, sempre negou qualquer implicação no massacre, considerado um dos mais graves da história do século 20, apesar de apoiado militarmente os agressores.
Em entrevista a uma revista francesa, Kagame afirmou que “ainda há assuntos que são tabu, como a participação-chave de potências ocidentais nos acontecimentos da época”.
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Hoje, em Kigali, o presidente disse que “o legado mais devastador do controle europeu em Ruanda foi a transformação das distinções sociais. Fomos classificados, de acordo com um marco inventado em outro lugar”, lamentou. A diferenciação social entre os grupos hutu e tutsi durante a colonização belga está na origem do enfrentamento étnico que desembocou no massacre, principalmente de tutsis, durante 100 dias.
A Bélgica herdou o território de Ruanda como espólio da Primeira Guerra Mundial e fez estudos antropomórficos da população, medindo o tamanho do nariz, da testa e altura para classificar os habitantes da região de acordo com o tipo físico. As diferenças foram classificadas e depois exploradas como forma de controle.
A cerimônia em Kigali foi realizada na presença de familiares das vítimas de todo o país e representantes governamentais de vários países. Entre eles estava o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon; o ex-primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair; e o ex-presidente sul-africano Thabo Mbeki.