Atualizada às 10h01
Sentados à mesa pela segunda vez para conter a violência desatada em dois meses de protestos, o governo da Venezuela e a coalizão de partidos opositores avançaram no processo de diálogo na noite desta terça-feira (15/04). Realizado na sede da vice-presidência do país a portas fechadas, à diferença da semana passada quando foi televisionado em rede nacional, o encontro terminou com pontos de acordo.
Efe (15/04/2014)
Ao fim da reunião, representante da oposição enfatizou rechaço à violência
Após quase quatro horas reunidas, as partes fizeram declarações separadamente, mas ambas acompanhadas pelo núncio apostólico do Vaticano, Aldo Giordano, e pelos três chanceleres da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) que acompanham o processo de diálogo: Luiz Alberto Figueiredo, do Brasil, María Ángela Holguín, da Colômbia e Ricardo Patiño, do Equador.
Entre os pontos de acordo expostos pelo secretário executivo da coalizão MUD (Mesa de Unidade Democrática), Ramón Guillermo Aveledo, estão a participação de representantes da oposição no plano governamental de combate à criminalidade no país, contribuição de especialistas do bloco com o plano e a ampliação da comissão da verdade destinada a investigar os atos de violência e abusos policiais durante os protestos.
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Inicialmente integrada por legisladores, esta também será conformada por personalidades venezuelanas para que tenha credibilidade em ambos os setores. Aveledo afirmou que uma proposta de formato da comissão foi entregue ao Executivo pela oposição, mas que ainda não está definida.
A análise de denúncias de torturas por forças de segurança a detidos em protestos foi outro dos pontos de acordo, assim como a designação de uma junta médica para analisar o estado de saúde de Iván Simonovis, condenado pelas mortes que precederam o golpe contra Hugo Chávez em abril de 2002 e considerado “preso político” pela oposição. Além disso, as vítimas da violência e da ação policial no episódio serão escutadas em uma reunião sobre o caso.
O projeto de lei de anistia apresentado pela oposição para detidos desde o início da era chavista na Venezuela, no entanto, não foi aceita pelo governo. “Vamos buscar outros caminhos”, garantiu Aveledo, afirmando que apesar das diferenças dos interlocutores “na maneira de ver a Venezuela e de conceber o país” o processo de diálogo “tem seu valor”.
Distanciando-se da ala radical opositora, liderada pelo partido Vontade Popular, de Leopoldo López, pela ex-deputada María Corina Machado e pelo prefeito do distrito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, além de alguns líderes estudantis, Aveledo disse ainda que o “importante” é que o processo de diálogo não se detenha. O representante da MUD enfatizou o rechaço à violência e o apego à constituição, em um discurso que isola os defensores da presença permanente nas ruas até a queda do governo e que rejeitam o diálogo, apesar das 41 mortes vinculadas aos protestos já registradas.
O vice-presidente Jorge Arreaza, por sua vez, afirmou que apesar de as reuniões com a oposição nunca estarem livres de algum momento de tensão, esta foi realizada “em bons termos, com respeito, tolerância”. “Vamos avançando de maneira positiva”, avaliou, complementando que o diálogo é “um bom sinal” ao país de respeito à Constituição e de rechaço à violência como método político.
Arreaza também informou que a oposição fará propostas e “críticas construtivas” sobre a economia. Mais cedo, Maduro anunciou que a partir de 22 de abril iniciará uma “ofensiva econômica” especial denominada PAP, “pela produção, crescimento, abastecimento pleno e preços justos”. Entre as principais queixas dos manifestantes figuram a falta de produtos em comércios, além da alta inflação, que no ano passado foi de 56%. Desde a instalação de uma “Conferência de Paz” pelo governo, reuniões estão sendo realizadas com empresários e produtores em uma tentativa de reverter as distorções.
Apoio ao diálogo
De acordo com uma pesquisa do instituto Hinterlaces divulgada nesta terça sobre o diálogo entre o governo e a oposição, 90% dos venezuelanos estão de acordo com a iniciativa. Realizada com 714 entrevistados nos principais municípios do país nos três dias seguintes ao início do diálogo na última semana, o estudo aponta também que 54% acredita que este contribuirá “muito” ou “alguma coisa” para resolver os problemas do país, contra 43% que responderam “pouco” ou “nada”.
Os chavistas mostram mais otimismo que os anti-governistas: enquanto 66% dos apoiadores do governo manifestou acreditar em soluções decorrentes do diálogo, apenas 30% dos opositores mantém a expectativa. Sobre o vencedor do debate, no entanto, 34% opinou que foi a oposição, enquanto 25% considera que foi o chefe de Estado e 10% acredita que ambos os lados ganharam.