Apesar das tentativas, a Europa não conseguiria cortar a compra de gás russo, nem reduzir por completo sua dependência de energia em relação à Rússia, declarou o presidente russo, Vladimir Putin, nesta quinta-feira (17/04). De acordo com o chefe do Kremlin, seu país fornece cerca de 30% da demanda de gás natural da Europa.
“Claro, todos estão cuidando de diversificar o fornecimento. Lá, na Europa, eles falam sobre aumentar a independência do fornecedor russo”, disse Putin.” Do mesmo jeito, nós começamos a negociar e tomar medidas em direção à independência em relação aos nossos consumidores”, acrescentou, durante o Linha Direta, tradicional programa russo de perguntas e respostas transmitido pela TV.
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O presidente russo, Vladimir Putin, respondeu a uma série de perguntas ao vivo de cidadãos em programa de TV
Segundo a Reuters, Europa tem condições de cortar as importações russas no equivalente a US$18 bilhões (R$ 40 bi) por ano, o que representa um terço do que é atualmente fornecido pela Rússia. Por outro lado, Moscou tem se dedicado a estreitar laços com a Ásia nos últimos tempos.
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No programa, Putin também ressaltou ter esperança em alcançar um acordo com a Ucrânia sobre as remessas de gás. Os esforços da Europa representam uma tentativa de punir o Kremlin pelo seu posicionamento face a Kiev nos últimos tempos. No início do mês, a empresa russa Gazprom, que tem ligações muito estreitas com o governo, anunciou dois aumentos consecutivos do preço do gás enviado para a Ucrânia. Na ocasião, Kiev ameaçou levar a Rússia ao tribunal de arbitragem, numa disputa que já discutia as possibilidades do perigo nas entregas de gás para a Europa ocidental.
Tropas russas na Crimeia
No mesmo programa televisivo, Putin admitiu pela primeira vez que soldados russos já estavam na Crimeia antes e durante a consulta popular que aprovou a anexação da península ao território russo. “Nosso objetivo foi garantir as condições para um voto livre”, disse o líder à emissora, argumentando que os soldados com uniformes sem insígnia que apareceram na Crimeia no fim de fevereiro eram de fato russos.
Contudo, ele afirmou serem absurdas as acusações de que as Forças Armadas russas estariam agindo agora no leste da Ucrânia, alertando que o governo interino “leva o país para o abismo”. Segundo Putin, os envolvidos nas ações de protesto “são todos cidadãos locais” e destacou que a Rússia “utilizará todos os meios” para ajudar a população de origem russa que vive no sudeste da Ucrânia a “definir seu próprio destino”.
Efe
Cidadãos no porto de Sebastopol (Crimeia) assistem ao telão que transmite o programa de TV cujo principal convidado do dia foi Putin
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De acordo com o líder russo, o Kremlin tem o direito de utilizar as Forças Armadas na região, ainda que “espere não ter que fazer uso desse direito”, assegurando que a Otan não “lhe dá medo”. No entanto, três pessoas morreram hoje, durante ataque a uma base ucraniana em Maiupol, no sudeste da Ucrânia, de acordo com o ministro interino do Interior do país, Arsen Avakov.
Putin desconversou e respondeu que “tudo isto não passa de bobagem”. “Somente com o diálogo — não com o uso de força militar, tanques e aviões — é que a ordem poderá voltar a ser imposta no país”. Esta declaração veio poucas horas antes de uma reunião que acontecerá nesta tarde em Genebra entre representantes de Ucrânia, Rússia, União Europeia e EUA para discutir uma solução diplomática pra crise.
Snowden questiona no programa
Ex-analista da NSA e exilado em Moscou desde agosto, Edward Snowden também fez uma pergunta à Putin durante o Linha Direta por meio de videoconferência. “A Rússia intercepta, armazena e analisa informação sobre as conversas de milhões de pessoas e considera o presidente justo e justificado este controle em massa?” perguntou Snowden, em inglês.
Efe
Em aparição para a surpresa de todos do programa, o ex-analista do serviço secreto norte-americano faz perguntas a Putin
“Estimado senhor Snowden, o senhor é um antigo agente. Eu também tive relação com os serviços secretos. Vamos falar em termos profissionais”, respondeu Putin. “Com certeza nós não permitimos tais [escutas] em escala massiva e descontrolada. E, em virtude da lei, isso não pode existir. Espero que nunca o façamos. Além disso, não temos nem dinheiro nem meios técnicos como nos Estados Unidos”, acrescentou.
Para o líder russo, “graças a Deus”, os serviços secretos se encontram sob rígido controle do Estado e da sociedade. “Nós temos uma regulamentação legal muito rígida sobre o uso pelos serviços secretos, incluindo as escutas de conversas e a supervisão na internet”, garantiu Putin, assegurando que o serviço secreto utiliza todos os meios técnicos a seu alcance para combater apenas o crime e o terrorismo.
Outras perguntas
Outras curiosidades foram perguntadas ao presidente russo durante o programa de televisão nesta quinta. Ao ser questionado por uma senhora aposentada se o Kremlin estaria interessado em recuperar o Alasca — território que o czar Alexandre II vendeu aos EUA em 1867 — Putin brincou: “Nosso país é setentrional. E 70% de nosso território se encontra nas regiões do Norte e dentro do círculo polar. Por acaso o Alasca se encontra no hemisfério sul? Lá também faz frio. Não nos esquentaríamos”, respondeu.
Wikicommons
Putin e sua ex-mulher, Liudmila durante jantar em Moscou em 2000: divórcio foi oficalizado no início deste mês
Durante o programa, cidadãos aproveitaram para fazer perguntas de cunho pessoal. Questionado se voltaria a ter uma vida conjugal, Putin respondeu: “Primeiro tenho que casar minha ex-esposa, Liudmila Alexandrovna, depois pensarei em mim”.
No início deste mês, o Kremlin confirmou no seu site oficial o divórcio do líder russo, apesar de ele e sua ex-esposa terem anunciado em junho passado que não estavam mais juntos. Putin se casou com Liudmila em 28 de julho de 1983. O casal morou durante vários anos na Alemanha Oriental, onde o atual presidente trabalhou para o serviço de espionagem (KGB), da extinta União Soviética.