Cerca de 190 meninas continuam desaparecidas na Nigéria depois de terem sido sequestradas em um internato na cidade de Chibok, na semana passada, pelo grupo radical islâmico Boko Haram, segundo informou a escola onde estudavam nesta terça-feira (22/04).
“Por favor, pedimos aos militantes que mostrem piedade e libertem nossas filhas”, diz o pai de uma das meninas, em carta entregue ao Serviço Africano da BBC. A princípio, o governo nigeriano havia declarado que 129 meninas estavam desaparecidas. Segundo as famílias, entretanto, esse número é muito maior: 234. Cerca de 40 delas conseguiram fugir de seus captores, segundo Asabe Kwambura, diretora do colégio onde elas foram sequestradas.
O ataque ao internato e o sequestro ocorreram no dia 14 de abril. Chibok, no estado de Borno, fica no noroeste da Nigéria. O Boko Haram, cujo nome significa “a educação ocidental é proibida”, na língua hausa, investe frequentemente contra instituições de ensino. Um sequestro como esse, entretanto, não tem precedentes.
Sete meninas foram encontradas ontem (21), segundo disse Isa Gusau, porta-voz do governador Kashim Shettima à AFP. Segundo o governo, cujos números diferem dos apresentados pelas famílias das garotas, 77 permanecem em cativeiro.
Agência Efe
Explosão do Boko Haram em terminal de ônibus no dia 14 de abril, mesmo dia do sequestro das estudantes, deixou mais de 70 mortos
Os pais das jovens buscam por elas desde a última semana, tendo até entrado na floresta Sambisa, reduto do Boko Haram na região e onde as meninas estariam detidas. Eles reclamam de falta de atitude por parte do governo. “Desde o dia 14 deste mês não vimos nenhuma ação do governo. Só nos falam mentiras. Não queremos que usem força, mas que dialoguem com os militantes para que libertem nossas filhas”, disse o pai de uma estudante.
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O Boko Haram não emitiu nenhum comunicado sobre o ataque, mas as autoridades garantem que o grupo é o autor do sequestro. Ataques do grupo na Nigéria deixaram mais de 1,5 mil mortos no ano passado, segundo a Anistia Internacional.
Cativeiro
De acordo com estudantes que conseguiram escapar dos sequestradores, o grupo islâmico levou as jovens para a floresta Sambisa, onde possui diversos acampamentos. As autoridades nacionais anunciaram uma grande operação de resgate, mas os moradores da região afirmam ter perdido a confiança nas forças de segurança, que, por engano, anunciaram no meio da semana que a maioria das alunas havia sido libertada.
O anúncio foi desmentido imediatamente pela diretora do colégio e pelas autoridades regionais, o que fez com que o Exército assumisse o erro. Diante da impotência dos militares, vários pais foram à floresta Sambisa de moto para procurar por suas filhas.
Folly Teika, cujas filhas Aisha e Hima foram levadas, afirmou à Reuters que depois de dias de busca chegou a um vilarejo chamado Bale. “As pessoas ali nos contaram que tinham visto muitas adolescentes recolhendo água em um córrego. Disseram que, com certeza, as jovens estavam em algum lugar próximo, mas nos alertaram para não entrar mais na área se não estivéssemos armados”, disse.
O Boko Haram já foi acusado de usar jovens sequestradas como cozinheiras e escravas sexuais.
Revolta
Segundo a BBC, as ações do Exército revoltam muitos nigerianos, que não conseguem entender como os militares não encontram centenas de jovens presas há mais de uma semana. Muitos também se irritaram com o presidente Goodluck Jonathan, que não interrompeu sua campanha eleitoral no dia do sequestro.
Além disso, o sequestro revelou a fragilidade do Exército nigeriano, apesar do estado de emergência declarado há um ano para conter os extremistas islâmicos em três estados do noroeste: Borno, Yobe e Adamawa. Somente na última semana, o Boko Haram realizou quatro ataques em três dias, incluindo uma explosão em um terminal de ônibus que deixou mais de 70 mortos e mais de 140 feridos.
Reprodução
Atual líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, aparece em vídeo reivindicando a autoria de um ataque na Nigéria
O temor gerado pelo grupo também prejudica o sistema educacional do país, o mais populoso da África, com 170 milhões de habitantes. No Estado de Borno, o governo estadual anunciou o fechamento de mais de 85 escolas neste ano, uma vez que as instituições são alvo do Boko Haram.
Histórico
O Boko Haram foi fundado em 2002 na cidade de Maiduguri, pelo clérigo muçulmano Mohammed Yusuf, que também fundou na época um complexo religioso que incluía uma escola islâmica.
Em 2009, o grupo deu início a uma insurreição, que já deixou milhares de mortos. O objetivo é criar um estado estritamente islâmico no norte da Nigéria. O atual líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, disse que sua organização “não será vencida pelas forças de segurança”.