Atualizada às 16:50
As mulheres da comunidade muçulmana do Reino Unido receberam uma incumbência inusitada por parte das forças de segurança britânicas: dissuadir seus filhos e maridos de viajar para a Síria como combatentes jihadistas. A campanha, iniciada nesta quinta-feira (24/04), reflete a preocupação do governo de Londres com as centenas de britânicos que já se juntaram à guerra contra o presidente Bashar al Assad, que já dura três anos.
“Nós queremos assegurar que as pessoas, especialmente as mulheres, que se preocupam com seus entes queridos recebam informações suficientes sobre o que podem fazer para impedir que isso [a ida para a guerra] aconteça”, disse Helen Ball, coordenadora nacional do programa antiterrorista.
Além de acalmar os ânimos de seus familiares que queiram ir para a guerra, as mulheres também estão sendo incitadas a avisar à polícia se notarem que algum parente começou a passar tempo demais na internet ou a se revoltar com a situação na Síria. “Se elas virem esse tipo de coisa, esperamos que venham falar com a polícia, uma organização parceira ou membros da comunidade”, afirmou Ball.
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Soldado sírio caminha em meio a destroços na cidade de Aleppo. Segundo ONG, conflito já deixou mais de 150 mil mortos
“Isso não é sobre criminalizar pessoas. É sobre prevenir tragédias”, disse a coordenadora. As estimativas mostram que cerca de 400 britânicos já viajaram para a Síria, dos quais 20 morreram. Segundo a polícia, neste ano o número de prisões relacionadas à Síria aumentou substancialmente: 40 pessoas foram detidas entre janeiro e março, enquanto, no mesmo período do ano passado, foram 25.
Na semana passada, os veículos de comunicação da Inglaterra divulgaram a morte do jovem Abdullah Deghayes, de 18 anos, decorrente de uma briga na cidade de Kassab. Deghayes havia viajado de Brighton à Síria para lutar como jihadista. Além dele, é conhecido o caso de Abdul Waheed Majeed, de Crawley, que morreu em fevereiro como o primeiro britânico responsável por um atentado suicida na Síria.
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A maioria das famílias muçulmanas do Reino Unido não quer que seus membros lutem na Síria. Elas temem, entretanto, ser espionadas e catalogadas como “terroristas em potenciais” se fornecerem informações à polícia, apesar da garantia de Ball de que nada será compartilhado com os serviços de espionagem, MI5 e MI6.
Críticos do projeto afirmam que não há evidências de que as mulheres da família sempre saibam o que os jovens estão fazendo. Também não haveria provas de que elas estivessem dispostas ou fossem capazes de dar esse tipo de informação sobre seus familiares às autoridades.
A França também tem problemas com cidadãos que viajam para a Síria a fim de se juntar às forças que se opõem a Assad. Segundo o presidente francês, François Hollande, cerca de 700 franceses lutam na Síria; as forças de inteligência, entretanto, reduzem esse número a “não mais de 450 ou 500”.
A guerra civil na Síria já dura três anos, tendo deixado, até agora, mais de 150 mil mortos, um terço deles civis, segundo o OSDH (Observador Sírio de Direitos Humanos). As forças do presidente Assad lutam contra os oposicionistas do governo, que querem a deposição do atual líder.
Eleições à vista
Nesta quinta, o ex-ministro sírio Hassan Abdullah al Nouri apresentou sua candidatura a presidente, informou nesta a televisão oficial. Nascido em 1960 em Damasco, Nouri foi ministro de Estado para o Desenvolvimento da Administração Pública e de Assuntos Parlamentares entre 2000 e 2002, além de deputado na Assembleia do povo (parlamento) de 1998 até 2003. O prazo de registro de candidatos se abriu há dois dias e durará até o 1 de maio.
Na segunda-feira (21/04), o presidente do parlamento sírio, Mohammad Jihad al-Laham, anunciou eleições presidenciais para o dia 03 de junho para legitimar o governo de Assad, iniciativa que os EUA classificaram como “paródia da democracia”.