No primeiro dia das Jornadas Brasil-Alemanha, os principais assuntos debatidos foram o nazismo e a relação entre os dois países durante a ditadura brasileira. Para a professora da PUC-SP Marijane Lisboa, que se asilou no Chile e se refugiou Berlim após ser torturada pelo regime militar, não é possível comparar o que aconteceu sob o governo de Adolf Hitler com qualquer outro fato da história mundial.
“O que aconteceu na Alemanha é muito diferente e não se compara ao Brasil. Genocídio é eliminar um grupo humano, algo mais grave. O genocídio nazista é incomparável até com os outros genocídios, porque é o único que teve um planejamento frio, quando a Alemanha não estava em guerra. Por isso difere do que ocorreu em guerras civis, como em Ruanda.”
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Para a professora, no entanto, há uma semelhança na forma como o Brasil e a Alemanha tentaram superar os crimes cometidos pelo nazismo e a ditadura. “Houve um esforço das duas sociedades em esquecer o que aconteceu, nas primeiras décadas após os fatos. Na Alemanha isso foi impossível pela presença de cadáveres nas ruas e o Tribunal de Nuremberg. Mas o resgate histórico profundo aconteceu com uma geração que não viveu esses episódios”, explica Marijane.
Para o professor Luiz Ramalho, que também se exilou na Alemanha no final da década de 1960, a percepção que os alemães têm do seu passado dificulta o crescimento da extrema direita no país. “As cicatrizes do nazismo mantêm a extrema direita sob controle, com bem menos de 20% do eleitorado, como acontece na Itália e na França.”
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Outro tema discutido foi a importância dos trabalhos da CNV (Comissão Nacional da Verdade) e dos demais grupos formados para estudar a ditadura brasileira. “A grande contribuição da CNV é entregar à sociedade um conjunto de fatos que vai provocar debate e um encontro da sociedade brasileira com seu passado”, analisa Marijane.
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As Jornadas Brasil-Alemanha continuam nesta terça-feira (06/05) na PUC-SP, às 19h30, com a conferência “A Política dos Megaeventos: A Copa e a Olimpíada”. Os participantes da mesa são o jornalista Juca Kfouri, o deputado do Parlamento Europeu Wolfgang Kreissl-Dörfler, o professor Carlos Vainer (IPPUR/UFRJ) e a moderação de Marilene de Paula (Fundação Heinrich Böll). A programação completa pode ser vista na página do evento no Facebook ou aqui.