Atualizada às 12h06
Apesar de ofensivas do Exército de Kiev para impedir a consulta popular no leste da Ucrânia, as primeiras quatro horas de abertura das urnas foram marcadas por um índice de participação de 80% em Lugansk e 50% em Donetsk. De acordo com líderes separatistas, a votação acontecerá até as 22h (16h, em Brasília) na maioria das cidades. Contudo, o resultado só será divulgado na segunda-feira (12/05). Por outro lado, o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia defendeu novamente hoje que o referendo é ilegítimo em Kiev e não afetará a integridade do país.
Em Donetsk, os organizadores pró-Rússia comemoravam o alto índice de comparecimento. “A participação supera todas nossas expectativas. Estamos muito contentes”, declarou Roman Liaguin, chefe da comissão eleitoral. Já o governador da autoproclamada “República Popular de Donetsk”, Pavel Gubarev, afirmou que “o referendo significará um novo paradigma”.
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Após filas, habitantes das duas regiões devem responder: “Você aprova a independência da República Popular de Donetsk/ Lugansk”?
Logo após a abertura do colégio eleitoral, Slaviansk foi palco de intenso tiroteio entre tropas ucranianas e milícias pró-Rússia. O chefe da polícia da cidade de Mariupol, Valeri Androshuk, que havia sido sequestrado por separatistas pró-Rússia no dia anterior, foi encontrado enforcado perto do aeroporto da cidade. Devido aos violentos confrontos nos últimos dias, Slaviansk e Mariupol, ambas da província de Donetsk, tiveram a menor participação até o momento, em torno de 20% – quantia que o Liaguin atribuiu às ações militares.
Já em Lugansk, o clima foi de tensão. Na província, as seções eleitorais não puderam ser abertas no norte, pois a Guarda Nacional ucraniana bloqueou os veículos nos quais se transportavam as cédulas de votação, alegou Aleksandr Malijin, presidente do comitê eleitoral regional, à Interfax. Ainda na região de Lugansk, a sede da comissão eleitoral da cidade de Novoaidar foi evacuada às pressas depois que o Exército de Kiev apareceu para impedir o plebiscito.
Além disso, os separatistas pró-Rússia alegam que as tropas do governo provisório pró-Europa de Kiev estão fazendo uma série de ofensivas para impedir o comparecimento às urnas em pelo menos cinco outros distritos das regiões, como o uso de blindados e o bloqueio de estradas. Segundo jornalistas da Reuters, o referendo tem “ares de improviso”, pois as cédulas de votação foram impressas sem itens de segurança e o registro de votantes apresentou falhas.
Efe
Em processo semelhante ao que aconteceu na península da Crimeia em março, habitantes do leste da Ucrânia votam em referendo hoje
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Efe
Separatistas fiscalizam colégios eleitorais para evitar que Exército de Kiev impeça votação
Em processo semelhante ao que aconteceu na península da Crimeia em março, os habitantes das duas regiões devem responder às seguintes questões: “Você aprova a independência da República Popular de Donetsk?” e “Você aprova a independência da República Popular de Lugansk?”. Contudo, as conseqüências do referendo — tido como válido pela região, mas ilegal para Kiev e para a comunidade internacional ocidental — ainda não foram bem estabelecidas.
Formação de órgãos civis e militares em Donetsk
“Se a maioria da população de nossa região responder “sim”, isso não significa que a região de Donetsk será incorporada à Rússia, ou que, caso contrário, permaneça dentro da Ucrânia, ou que se transforme em um Estado independente”, explicou Liaguin, no sábado (10/05). No entanto, o co-presidente da “República Popular de Donetsk”, Denis Pushilin, anunciou nesta tarde que a região nomeará autoridades civis e militares independentes de Kiev após a realização do plebiscito neste domingo. “Agora que assumimos a responsabilidade, precisamos formar os órgãos políticos e militares de poder o mais breve possível”, afirmou Pushilin, segundo a Interfax.
De acordo com a Agência Efe, o site da “República Popular de Donetsk” publicou um decreto assinado por Pushilin no qual se impõem sanções contra líderes ocidentais de destaque, como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama; a chanceler alemã, Angela Merkel, e a comissária de política externa da UE, Catherine Ashton. Ainda nesta semana, lideranças de grupos anti-Kiev já haviam anunciado a intenção de criar um Estado independente — chamado de “Nova Rússia” — que englobaria as regiões de Donetsk, Lugansk, Carcóvia, Odessa e Nikolayev.
“Farsa criminosa”
“A realização em 11 de maio do ‘referendo' ilegítimo sobre o status das regiões de Donetsk e Lugansk não tem nenhum valor jurídico nem terá consequências legais para a integridade da Ucrânia”, afirmou hoje o Ministério das Relações Exteriores em nota. “Os organizadores dessa farsa criminosa violaram conscientemente a Constituição e a legislação da Ucrânia, desprezaram os apelos das autoridades ucranianas e da sociedade internacional”, acrescenta. Por sua vez, o Ministério da Justiça da Ucrânia ameaçou com a perseguição judicial contra os organizadores da consulta. “Aqueles que através das armas estão organizando isso assumirão a responsabilidade”, advertiu o ministro da Justiça, Pavel Petrenko.
Ontem, o presidente interino ucraniano, Aleksandr Turchinov, definiu o referendo com um “cortejo à catástrofe” se o resultado do referendo for positivo para os separatistas. “Seria um passo em direção ao abismo para essas regiões”, escreveu o líder provisório em seu site ontem. “Aqueles que defendem a autonomia não entendem que isso significaria a destruição total da economia, dos programas sociais e da vida em geral, para a maioria da população”, acrescentou.
Reprodução/ Googlemaps
Mapa apresenta as duas regiões – Donetsk e Lugansk – no leste da Ucrânia, onde acontecem o referendo para autonomia