Depois da descriminalização da maconha medicinal em mais de 20 estados norte-americanos – em especial no Colorado, onde o consumo recreativo foi legalizado -, cultivadores da cannabis no México central decidiram parar de plantar, pela primeira vez em gerações.
O motivo é que o preço da droga caiu, diminuindo o lucro, enquanto os gastos com produção continuaram os mesmos. Nos últimos anos, a queda no preço da maconha foi de 75%, de U$S 100 a U$S 25 por quilo. Agora, a heroína, que continua proibida, ocupa o espaço vago deixado pela maconha nos cartéis de narcotráfico mexicanos, os quais levariam ao assassinato de 60 mil pessoas por ano.
Leia mais:
Aula Pública Opera Mundi – Saída para guerra às drogas é a legalização?
“Não vale mais a pena”, afirmou o cultivador de cannabis Rodrigo Silla ao jornal The Washington Post. Ele disse ao periódico que não consegue se lembrar de uma época em que sua família e outros moradores na pequena aldeia onde vive no estado de Sinaloa, um dos pontos mais fortes de narcotráfico no México, deixaram de cultivar a planta. “Gostaria que os norte-americanos parassem com essa legalização”.
Wikicommons
Maconha foi descriminalizada em mais de 20 estados dos EUA, levando à diminuição do lucro do tráfico mexicano
Já há muitos anos, investigadores e especialistas previram que a legalização da maconha nos Estados Unidos afetaria os cartéis mexicanos, o que está se concretizando agora. O crime já registrou uma ligeira diminuição desde o último mês de janeiro, quando ocorreu a descriminalização na maioria dos estados, gerando novos empregos.
Heroína
Uma vez que o tráfico perdeu grande parte do lucro com a maconha, muitos fazendeiros mexicanos – além de alguns dos países da América Central – voltaram-se para o cultivo dos opiáceos, levando a uma onda de heroína sendo vendida a U$S 4 no interior dos EUA. A heroína é proibida em todo o país, o que dificulta o acesso à droga, e isso, somado ao alto consumo, gera grandes lucros para os traficantes.
NULL
NULL
Entre 2007 e 2012, o consumo de heroína nos Estados Unidos aumentou 79%, de acordo com dados do governo, provocando grande número de mortes por overdose e uma “crise urgente e crescente de saúde pública”, segundo o procurador-geral Eric Holder Jr.
Segundo as autoridades norte-americanas, a propagação da droga no país deriva de uma estratégia dos traficantes mexicanos. O cartel de Sinaloa continua sendo o maior fornecedor de heroína para os Estados Unidos, controlando cerca de metade do mercado.
A região inteira é voltada para o cultivo de plantas que serão transformadas em drogas, servindo ao narcotráfico. “Não há nenhuma outra maneira de ganhar a vida aqui”, afirmou Silla, que levou seus filhos ao negócio, assim como seu pai fez com ele.
Os militares mexicanos afirmam ter destruído 36 mil hectares de plantação de papoula, da qual deriva a heroína, no ano passado. Em 2011, foram pelo menos outros 40 mil hectares a menos.
De acordo com pesquisadores, o que explica o aumento do tráfico de heroína é a tática do “diversificar para sobreviver”. “Quando um dos seus produtos perde valor, você diversifica, e isso é verdade para qualquer fazendeiro”, afirmou David Shirk, da Universidade da Califórnia em San Diego. “A onda de papoula que estamos vendo é, ao menos parcialmente, originada das mudanças que estamos fazendo na política em relação à maconha”.