O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, rejeitou nesta quarta-feira (28/05) que a tensão entre seu país e a Rússia causada pela situação atual da Ucrânia represente um retorno ao contexto da Guerra Fria. Segundo ele, já não se trata do enfrentamento de dois blocos, uma vez que os russos estão “isolados”.
“As ações recentes da Rússia na Ucrânia lembram os dias quando os tanques soviéticos entraram no leste da Europa. Mas isto não é a Guerra Fria”, disse Obama em discurso sobre política externa na Academia Militar de West Point, em Nova York. “Nossa capacidade de dar forma à opinião mundial ajudou a isolar a Rússia imediatamente. Devido à liderança norte-americana, o mundo condenou imediatamente as ações da Rússia”, completou.
Obama destacou a importância das sanções conjuntas impostas pelo G7 e a União Europeia, assim como da cooperação da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e do FMI (Fundo Monetário Internacional) com a Ucrânia, para enfraquecer a influência russa.
“Esta mobilização da opinião mundial e das instituições serviu como um contrapeso à propaganda russa, a presença das tropas russas na fronteira [com a Ucrânia] e as milícias armadas”, argumentou.
O presidente dos EUA ainda descreveu a situação na Ucrânia como um dos “novos perigos” que o mundo enfrenta, entre os quais citou “a agressão da Rússia contra antigos Estados soviéticos” e “a preocupação dos vizinhos da China com o poder econômico e o alcance militar” do país asiático.
Agência Efe
Em Donetsk, separatistas constroem barricada perto do aeroporto, que foi retomado ontem pelo Exército ucraniano
Obama lembrou que neste final de semana foram realizadas eleições presidenciais na Ucrânia com “milhões de votos” e reconheceu que ainda não é possível saber “como se desenvolverá a situação”, mas prevê que “haverá grandes desafios” pela frente.
Conflito no leste
Em Donetsk, no leste ucraniano, separatistas pró-russos e forças de Kiev se enfrentaram pelo terceiro dia consecutivo. Segundo os manifestantes, cerca de 100 corpos permanecem no aeroporto da cidade, retomado ontem (27) pelo Exército depois de diversos combates.
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“Segundo nossos cálculos, dentro do aeroporto e também em seus acessos há entre 80 e 100 corpos. Estão há vários dias no local e não deixam tirá-los”, disse o vice-primeiro-ministro da autoproclamada república popular de Donetsk, Andrei Purgín, em entrevista à agência russa Interfax.
De acordo com Purgín, houve um acordo com os militares para que os separatistas pudessem retirar os corpos, mas não foi cumprido. “No momento em que nossos grupos se aproximaram do aeroporto, os franco-atiradores abriram fogo contra nós. O combate continua durante todo o dia”, afirmou.
As autoridades municipais pediram aos moradores que vivem em um raio de cinco quilômetros em torno ao aeroporto, que se encontra na periferia de Donetsk, que não saiam de suas casas e nem se aproximem das janelas.
A Rússia chegou a pedir a Kiev autorização para enviar ajuda humanitária ao leste da Ucrânia, porque continua recebendo “solicitações insistentes dos cidadãos e de organizações na zona do conflito, que pedem socorro humanitário urgente”. Não houve resposta do governo ucraniano, entretanto.
Em Donetsk, vários hospitais e colégios permanecem fechados nos distritos centrais devido à “operação antiterrorista” lançada pelo governo de Kiev contra os separatistas pró-Rússia. Diversas pessoas deixaram suas casas e foram para abrigos, a fim de se proteger de eventuais combates e tiroteios.
Agência Efe
Mineiros protestam contra Exército da Ucrânia em Donetsk: combates entre forças de Kiev e separatistas já duram três dias
Em Slaviansk, também no leste, dez civis ficaram feridos após um ataque aéreo no centro da cidade. Tanto o Exército ucraniano quanto os pró-russos foram apontados como culpados. Um dos projéteis caiu sobre o teto de um colégio, enquanto os alunos se refugiavam no porão.
No domingo, a Ucrânia realizou eleições presidenciais que escolheram o magnata Petro Poroshenko, pró-Ocidente, como novo líder. Hoje, o primeiro-ministro, Arseni Yatseniuk, defendeu a legitimidade do pleito e exigiu reconhecimento internacional. “O povo da Ucrânia quer uma perspectiva europeia. Nosso objetivo é que a Ucrânia seja um país europeu com o novo presidente”, assegurou.