O Dia Mundial do Refugiado, relembrado no dia 20 de junho, foi o principal destaque desta semana em Opera Mundi. A data foi escolhida pela ONU (Organização das Nações Unidas) para conscientizar o mundo sobre os problemas que afetam as mais de 45 milhões de pessoas, espalhadas por todo o planeta, que estão longe de suas casas por causa de guerras, conflitos armados ou violações massivas aos direitos humanos.
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“Tinha dias que só pensávamos em como e quando íamos morrer”, lembra refugiada síria
Entre estas pessoas, 81% são acolhidas em países em desenvolvimento, uma cifra contraditória quando se tem em conta que dois dos três conflitos que mais produzem refugiados (Afeganistão e Iraque) foram iniciados por países desenvolvidos.
Por exemplo, em 2013, 50 mil sírios pediram proteção internacional em países da União Europeia, alçando a Síria como principal origem de novos refugiados na Europa no último ano. Integrante deste grupo de recém-chegados, a estudante de direito Rudaina Al Kindi desembarcou na Espanha no dia 17 de junho de 2013 e ainda traz consigo lembranças tristes dos primeiros anos de guerra em Damasco.
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“É difícil falar sobre os anos que eu morei na Síria durante a guerra. Quando o conflito começou, o norte da capital estava rodeado de áreas militares. Apesar de o conflito ter começado em março, Damasco só viu os primeiros bombardeios em abril. No dia 1º começaram a jogar bombas na zona em que eu morava”, relembra Rudaina ao correspondente em Madri, Rafael Duque.
Na mesma linha, outro assunto em foco foram as imagens – divulgadas pelo congressista democrata Henry Cuellar – de crianças mexicanas e centro-americanas presas em “gaiolas”, chamadas de refúgios temporários pelas autoridades norte-americanas, em um centro de detenção no Texas.
[Jovens detidos em situação precária na fronteira dos EUA com o México]
Somente no ano passado mais de 24 mil crianças mexicanas foram detidas ao cruzar a fronteira rumo aos Estados Unidos. Em 2014, o número pode ser superior a 60 mil, segundo estimativa do Departamento de Segurança Nacional.
A situação dos jovens que são detidos nos EUA e dos que são deportados ao México é classificada por autoridades do país como “preocupante”. Eles alertam que, se não houver uma política incisiva por parte do governo, a situação poderá se tornar uma “crise humanitária”. Após as denúncias, os senadores pediram ao presidente mexicano Enrique Peña Nieto que a embaixada em Washington realize as visitas necessárias aos centros de detenção para verificar o estado das crianças que chegaram sozinhas ao país.
Rafael Duque/ Opera Mundi
Rudaina Al Kindi chegou na Espanha há um ano: “A vida de refugiado é uma série de perguntas sem resposta”
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No Reino Unido, um assunto que chamou atenção foi a medida aprovada por ampla maioria de médicos ingleses para pressionar a proibição permanente de venda de cigarros para qualquer pessoa nascida depois dos anos 2000 – isto é, para jovens que têm atualmente 14 anos ou menos. A proposta da MBA (Associação de Médicos Britânicos) é fazer com que o Estado se declare livre do tabaco até 2035.
Já na Argentina, o fantasma do risco de calote volta a permear o debate no país. Na quinta (26/06), o juiz federal norte-americano Thomas Griesa rejeitou a solicitação da Argentina de suspender a medida que obriga o país a pagar os fundos especulativos, chamados de “abutres”, para que o país pudessse cumprir todos compromissos com o restante dos credores. “Essa solicitação não é apropriada”, sintetizou o juiz, aumentando a possibilidade de um novo default (calote) argentino, depois de 2001.
Efe
“Chega de abutres. Argentina unida em uma causa nacional”, diz cartaz sobre decisão judicial dos EUA
Pouco antes da decisão, o governo argentino anunciou que depositou os fundos equivalentes a US$ 832 milhões para pagar os credores que aceitaram a reestruturação da dívida. O ministro da Economia, Axel Kicillof, reiterou que o país quer “honrar sua dívida com 100% dos credores, de maneira justa, equitativa e legal”. Esses fundos especulativos são chamados de “abutres”, pois compram ativos que estão praticamente falidos para lucrar a longo prazo.
Crise no Oriente Médio
A tensão no Iraque continuou nesta semana. Análises de fotografias e imagens de satélite indicam que o EIIL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante) matou entre 160 e 190 homens entre 11 e 14 de junho, em ao menos dois locais diferentes na cidade de Tikrit em uma execução em massa, revelou a ONG Human Rights Watch na sexta (27/06). O número de vítimas deve ser superior, dada a dificuldade de encontrar os corpos e acessar essas áreas.
Com o intuito de criar um emirado islâmico no Iraque e na Síria, insurgentes jihadistas sunitas do EIIL avançaram e tomaram algumas das principais cidades do Iraque nas últimas semanas. Na quarta (25/06), o primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, rejeitou a formação de um governo de salvação nacional como medida para tentar solucionar o atual conflito, como pediram vários partidos políticos do país e parte da comunidade internacional.
Reprodução/Human Rights Watch
Mapa de ONG internacional indica localização de alguns corpos e de área onde aconteceram execuções em massa
Nos últimos dias, diversos partidos políticos iraquianos, tanto sunitas quanto xiitas, pediram a formação do um governo de união nacional que englobe as distintas partes e que diferencie entre as reivindicações legítimas dos sunitas e as ações do EIIL. Para a oposição, Maliki agravou a situação ao afastar os sunitas moderados que antes combatiam o grupo terrorista al Qaeda.
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Dois anos e meio depois da retirada das tropas dos Estados Unidos do país, uma equipe de analistas norte-americanos do Pentágono realizou nesta semana a primeira reunião mista com altos comandantes de operações militares iraquianos para analisar o trabalho em conjunto que será feito nos próximos dias para reforçar a segurança em Bagdá.
Na terça (24/06), o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, anunciou que o presidente Barack Obama está “totalmente preparado para usar a força militar para ajudar o governo iraquiano” a combater os militantes sunitas islâmicos, mas não enquanto houver um “vazio de poder” no país.
Copa do Mundo
Nos meses que antecederam a Copa do Mundo no Brasil, houve uma série de preocupações que permeou a imprensa internacional. Sobre a organização do evento, previa-se que os estádios não estariam prontos, que os movimentos sociais “ameaçariam” o andamento dos jogos e que os transportes estariam caóticos. Contudo, o prenúncio do desastre continuou sendo sustentado por veículos e agências internacionais, que mantiveram o tom apocalíptico até o primeiro batuque da abertura do evento no Itaquerão.
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Para o New York Times, as premonições catastróficas deram lugar a “soluços menores” e o coro do pessimismo em escala mundial foi rapidamente substituído por uma grande euforia coletiva – fenômeno descrito pelo Le Monde como o “milagre brasileiro”.