O sonho da integração entre a Europa Ocidental e a Oriental parece ter ficado mais distante depois do anúncio da Ucrânia, na última sexta-feira (2/4), da dissolução da comissão que trabalhava para a adesão do país à OTAN. O Centro Nacional para a Integração Euroatlântica, criado em 2006 pelo então presidente Viktor Yuschenko, teve suas portas fechadas pelo presidente recém-eleito, Viktor Yanukovitch, indicando que o país não tem intenção de fazer parte de nenhum bloco militar. A decisão foi recebida com surpresa pela comunidade internacional, já que a visita de Yanukovitch a Bruxelas no início de março, a primeira como chefe de Estado, parecia indicar uma tentativa de aproximação com a União Europeia.
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Durante a campanha eleitoral, Yanukovitch descartou categoricamente o ingresso da Ucrânia na OTAN, alegando “forte oposição da própria população”. Tal postura lhe garantiu o apoio de amplos setores populares, principalmente na Crimeia e na parte oriental do país e já anunciava o começo de uma nova relação bilateral entre Rússia e Ucrânia. “Depois de anos de tensão, ter a Ucrânia como país aliado é muito importante para a Rússia. Yanukovitch sempre deixou claro que era pró-Kremlin. Não há uma pressão ativa da Rússia. Tudo o que aconteceu foi algo que partiu do governo ucraniano”, declarou ao Opera Mundi o professor de Relações Internacionais da Universidade de Humanidades Estatal da Rússia, Oleg Ignatkin. “A Ucrânia fica entre a Europa e a Rússia e desempenha um importante papel geopolítico. Não tem como pensar em relações entre Moscou e a Europa sem pensar na Ucrânia”, concluiu.
As relações entre Rússia e Ucrânia foram marcadas nos últimos anos pelos constantes cortes de gás por parte da Rússia e, consequentemente, o desabastecimento dos países europeus. “A Rússia utiliza os recursos naturais como arma de pressão internacional. A história se repete a cada inverno. Desta vez, a Rússia conseguiu colocar na presidência da Ucrânia alguém que defendesse os interesses russos”, explica a especialista em Relações Internacionais na Europa Oriental, María Josefa Pérez. “Yanukovitch fala russo na televisão e não esconde o encantamento com o Kremlin. É um novo fantoche”, declarou.
A nova política regional aponta para um restabelecimento da esfera de influência da Rússia e um retrocesso da União Europeia e dos Estados Unidos na região. Segundo a especialista María Josefa Pérez, “é inevitável que a Ucrânia tenha laços com a Rússia, mas a Europa precisa descobrir outras fontes energéticas e outras maneiras para fazer alianças. Caso contrário, a dependência só aumentará e a Europa ficará nas mãos de Putin e Medvedev. Os gastos de defesa da Rússia não param de aumentar e no xadrez político o país avança com uma determinação digna de Guerra Fria”. Apenas dois países da Europa Oriental – Polônia e República Tcheca – não têm uma política externa pró-Kremlin. “A Ucrânia é a nova menina-dos-olhos. A Rússia é o vizinho mais forte e as antigas repúblicas soviéticas ainda se impressionam facilmente com o paternalismo e a aparente segurança que um apoio à Rússia pode proporcionar”, disse.
Desde março deste ano, as páginas web do governo ucraniano estão sendo publicadas também em russo, o que segundo os analistas é um claro sinal da política de aproximação dos dois países. E há duas semanas, o Tribunal Administrativo da Região de Donetsk invalidou um decreto que proclamava Stepan Bandera, dirigente da Organização dos Nacionalistas Ucranianos, como “herói da Ucrânia”. Bandera foi colaborador dos invasores nazistas na Segunda Guerra Mundial, exilou-se na Alemanha e acabou assassinado pela KGB em 1959.
Na segunda-feira (5/4) o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, recebeu para um almoço extra-oficial na residência de Gorki, província de Moscou, o presidente ucraniano, Viktor Yanukovitch. Segundo a secretária de imprensa de Medvedev, Natalia Timakova, Yanukovitch visitava a cidade para batizar o filho de um amigo, “mas encontrou algumas horas para conversar com o presidente russo sobre certos temas da cooperação russo-ucraniana. Yanukovitch também visitou o patriarca da Igreja Ortodoxa, Cirilo, e o cemitério do Monastério Novodevitchie.
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