Atualizada às 13h
Cerca de 600 pessoas se reuniram na noite desta quinta-feira (24/07) em um ato pacífico pelo direito de defesa de Israel e em represália ao comunicado do Itamaraty, que voltou a criticar a ofensiva de Tel Aviv na Faixa de Gaza. O evento ocorreu em Higienópolis, na praça Cinquentenário de Israel, em São Paulo.
Organizada pela Fisesp (Federação Israelita do Estado de São Paulo) e pela Juventude Judaica Organizada, a manifestação começou às 19h30 e durou até quase 21h. “O objetivo é dar suporte ao Estado de Israel, que hoje está sofrendo um grande ataque. Esse ato tem um caráter pacífico e ninguém está comemorando nada”, sintetizou Mário Fleck, presidente da Fisesp, a Opera Mundi.
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Patrícia Dichtchekenian/ Opera Mundi
Ato reuniu cerca de 600 pessoas de acordo com a Pm (Polícia Militar) em praça no bairro do Pacaembú
A reunião da comunidade judaica aconteceu um dia depois de o Ministério das Relações Exteriores brasileiro condenar “energicamente o uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza”, alertar para o “elevado número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças”, reiterar o pedido de um “imediato” cessar-fogo e chamar para consultas o embaixador do país em Tel Aviv, Henrique Sardinha Filho.
“Em uma guerra como essa há dois lados. Infelizmente, tem uma situação do outro lado que é o uso das pessoas como escudos humanos, o que é muito mais grave do que a condenação que o Itamaraty fez com Israel. No mínimo, o Itamaraty deveria se posicionar como neutro”, acredita Fleck.
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“Estou aqui para ser contra a ignorância do Itamaraty. 99,5% dos brasileiros não entendem o que é o conflito, nem sabe o que é a Faixa de Gaza”, critica o comerciante Moisés Cohen. “O Exército de Israel é o mais moral e ético do mundo”, acrescenta.
Para Samuel Feldberg, professor do núcleo Diversitas de pós-graduação de Ciências Políticas da USP (Universidade de São Paulo), existem justificativas para as ações que o país está tomando, apesar do custo humanitário. “É preciso reconhecer que Israel combate uma organização terrorista que quer a destruição do Estado de Israel declaradamente e não atua em favor da população palestina”, argumenta.
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Durante o ato, foi realizada de forma coletiva a prece Kadish – oração em memória às pessoas falecidas. Além de pedir paz, a maioria dos manifestantes reiterou que o principal problema para se chegar a ela era o Hamas. “Eu vejo as coisas como o bem contra o mau, de um jeito maniqueísta mesmo. E o mau são os terroristas”, opina o médico Alexandre Matone.
Patrícia Dichtchekenian/Opera Mundi
“Meus pais fugiram da Síria e conhecem muito bem o que são árabes terroristas”, afirma Orly Harari, cidadã israelense que se casou com um brasileiro e dá aulas de hebraico no país. “Sabe quando vai chegar a paz? O dia que eles [árabes] gostarem dos filhos deles mais do que eles odeiam a gente. Eles não gostam dos filhos deles porque os usam como ‘escudos humanos’”, diz.
Para Marcelo Secemski, voluntário da Juventude Judaica Organizada, as pessoas têm um sentimento de revolta e frustração por conta da cobertura do conflito. “Vemos tantas mídias e intelectuais com uma opinião muito errada e deturpada em relação ao que acontece de verdade na relação entre Israel e mundo árabe. Há uma desproporção na cobertura do conflito, o que acaba gerando um viés meio antissemita”, acredita.
No entanto, entre os manifestantes, há outros grupos que não concordam com as atitudes tomadas e as justificativas do conflito dadas pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
“Eu vim aqui talvez com uma opinião muito diferente da maioria das pessoas: para mim, o caminho da paz é o do diálogo, não da guerra. Paz armada não é paz e o que precisamos lutar é pelo fim do terrorismo dos dois lados”, disse o estudante Flávio Rabinovici, do movimento juvenil progressista Habonim Dror.
De acordo com Rabinovici, muitos membros do grupo não participaram desta passeata por temer a represália da maioria na praça. “Geralmente, quando vamos a esse tipo de evento, as pessoas já comentam do tipo ‘ih, chegou o pessoal do Hamas’, ‘chegaram os socialistas’”, como se isso fosse ruim”, comenta.
No final do ato, todos cantaram o Hatikvah, hino nacional de Israel, que significa “A Esperança”.